Correio de Carajás

“O racismo existe, mas ninguém acha que é racista”, diz mulher negra

Thaynara coleciona situações que foi discriminada por ser negra/Foto: Arquivo Pessoal

O Dia da Consciência Negra, 20 de Novembro, comemorado nesta sexta-feira, celebra e busca conscientizar sobre o que representa a data, desde que a população negra foi colonizada no Brasil.

A educadora física Thaynara Paz, 32 anos, que atua em Parauapebas, em entrevista ao Correio de Carajás, disse colecionar situações em que foi discriminada por ser negra. Há quatro anos conseguiu medida protetiva contra uma mulher que a chamou de macaca.

“As pessoas usam o racismo velado, como se fosse uma opinião, para justificar o injustificável, argumentando serem amigos de negros, mas que essas pessoas guardem o que acham para elas”, fala Thaynara.

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Thaynara relembra que antes de ser personal trainer trabalhava como cabeleireira e uma cliente do salão se recusava a ser atendida por ela, argumentando que jamais tocaria em seu cabelo e que não gostava de negros.

“No Dia da Consciência Negra a gente pede respeito. Não queremos ser vítimas ou tratamento preferencial, pois somo todos iguais”, decreta ela, afirmando que os brasileiros permanecem com a mesma mentalidade da época da escravidão, como se apenas pudessem desempenhar funções de faxineira, babá. Conforme ela, se o negro tem um bom carro ou é motorista ou segurança.

Atualmente, Thaynara até consegue rir de situações constrangedoras que passou, como o dia que passeava com uma sobrinha que é loira e perguntaram se ela era a babá.

“Quando eu era nova chorava muito, ficava muito triste, depressiva, não me achava bonita por não conseguir me encaixar em um padrão de beleza imposto pela sociedade. Já fui chamada de negra nojenta, diziam que todo negro é fedorento”, relembra, mas hoje garante que situações como essa não a abalam.

Outro momento de racismo vivido por ela foi ao entrar em uma loja, onde separou três peças de roupa e uma sandália para experimentar. Em seguida foi abordada por uma vendedora avisando que as roupas eram caras e, caso Thaynara não tivesse condições de pagar, não deveria experimentar. “Só havia eu de negra na loja, mas respondi que podia pagar e no dinheiro”. Após ser constrangida, não voltou mais na loja.

A escolha do dia 20 de novembro para marcar a resistência se deu por ser a data de morte de Zumbi dos Palmares, em 1695. Zumbi foi o maior líder do Quilombo dos Palmares. Os quilombos eram comunidades formadas por negros escravizados que fugiam da tirania e escondiam-se em lugares de difícil acesso no meio das matas.

Estima-se que a sua formação tenha durado cerca de 100 anos e abrigado entre 20 mil e 30 mil habitantes. A localização territorial do Quilombo dos Palmares era na região da Serra da Barriga, atual estado de Alagoas. (Theíza Cristhine)