Correio de Carajás

O (delicado) papel da imprensa em ameaças de ataque às escolas

Escrevi sobre as ameaças de ataques às escolas brasileiras há duas semanas e, mesmo convicto de que estamos diante de algo grave socialmente, não imaginei que em tão pouco tempo teria de lamentar, entristecer e ficar perplexa diante de supostas ameaças em minha cidade.

Como membro da Imprensa, há 27 anos completados este mês de abril, me pergunto qual a linha tênue do nosso trabalho de informar com o de causar pânico às pessoas da comunidade, como pais, professores e estudantes.

O caso da Escola Walkise Viana, no São Félix, foi divulgado primeiro pelo CORREIO DE CARAJÁS, e depois replicado por outros sites de notícias, blogs e influencers.

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Ter notícia deste quilate em primeira mão causa um peso enorme. A expectativa do furo não pode se antecipar de ouvir vários personagens antes de publicá-la. Ao mesmo tempo em que demos a informação, também oferecemos ao leitor as orientações de um agente de segurança pública com orientações de como as pessoas devem se comportar diante de um cenário sombrio.

Claro, todos estavam assombrados; e não era para menos. Os fatos que antecederam essa possível ameaça desencadeou uma onda de medo e o resultado imediato foi evitar ir para as escolas.

Nossa equipe do CORREIO já mudou a abordagem de vários temas sensíveis ao longo do tempo. Um deles foi a abordagem aos casos de suicídio, para evitar gatilhos de outras pessoas que podem estar passando por situações sensíveis. Também mudamos sobre crimes cometidos contra mulheres, pessoas LGBTQIA+, negros, entre outros grupos.

É uma questão de sensibilidade, de entender a nova realidade.

Ainda estamos entendendo a realidade de crimes praticados em ambiente escolar. Deixamos de divulgar, esta semana, várias mensagens que recebemos, inclusive prints de grupos de WhatsApp de alunos de uma escola bastante conhecida na cidade.

Não podemos, no afã de ganhar likes, seguidores e leitores, causar o terror na sociedade. Nosso papel é de informar. Mas, lógico, não de esconder.

Mas, por outro lado, cabe-nos aqui uma reflexão sobre os motivos desses casos que nos assustam a todos.

Quando pessoas usam redes sociais para guiar jovens em ataques a escolas, quando crianças estão sob o controle de mídias como Tik Tok, quando a vida humana está norteada por algoritmos, quando as plataformas se tornam impérios econômicos a despeito do mundo em frangalhos e se eximem de qualquer responsabilidade, remunerando conteúdos socialmente prejudiciais, devo concluir que a brincadeira de fazer amigos transformou-se num monstro.

E as escolas com isso? Os ataques às escolas e o apoio a esse desvio completo de humanidade é reflexo direto da “terra arrasada” que estamos construindo.

Segundo a Polícia Militar, vários perfis de redes sociais estão sendo monitorados pela inteligência. O ministro da Justiça Flávio Dino está endurecendo com as plataformas, exigindo a desativação de perfis que, abertamente, divulgam, incentivam e apoiam criminosos.

Pesquisadores sugerem que o aumento da frequência desses ataques é fruto da crescente radicalização online, que atinge principalmente os mais jovens, a partir de idades tão tenras quanto 10 anos.

O perfil desses jovens é diversificado, mas costumam ter em comum o contato, por meio de redes sociais, com grupos que divulgam teorias conspiratórias, propostas separatistas, conteúdos racistas e misóginos, bem como a solução violenta de conflitos.

Para eles, o diálogo, a tolerância e a convivência com os diferentes é algo abominável. Por isso odeiam a escola, pois nela não apenas falamos sobre a necessidade de aceitarmos a diversidade, mas efetivamente coexistimos com as mais diversas pessoas. A escola, por sua própria natureza, é o oposto do que pregam esses grupos de ódio.

A escola também é atacada pela criminalidade mais comum. Tiroteios entre facções rivais, roubo de equipamentos, vandalismo de suas instalações também atingem nossas instituições de ensino.

E novamente apenas a educação pode dar alternativas à nossa juventude, que com uma preparação adequada poderá tanto progredir no mercado de trabalho, evitando o envolvimento com o crime, quanto alcançar um refinamento em sua formação que lhe permita elaborar formas de relação com a sociedade marcadas pelo autodesenvolvimento e por uma cultura de paz.

 

 

O autor é jornalista há 27 anos e escreve crônica na edição de quinta-feira

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.