Correio de Carajás

Nutricionistas marabaenses alertam para a “lupa” nas embalagens dos alimentos

Alimentos com açúcares, gorduras saturadas e sódio em excesso podem ser mais facilmente identificados. Entenda as regras da nova política de rotulagem

Consumo exagerado de açúcar, gordura e sódio é relacionado a problemas de saúde como diabetes, obesidade e hipertensão

Se você vai ao supermercado ou à mercearia fazer compras, pode ter percebido a nova mudança estabelecida pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa): na frente da embalagem, em local de destaque, o símbolo de uma lupa com o texto “alto em” foi inserido nos produtos que têm açúcar adicionado, gordura saturada e sódio em concentrações expressivas.

A nova regra, aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em 2020 e implementada a partir de 2022, é um esforço para deixar as informações alimentares mais objetivas para os consumidores. Em meio a alegações de produtos “saudáveis”, “fit”, “funcionais” ou “integrais”, mas que trazem composições confusas, fica difícil saber o que realmente faz mal à saúde.

As mudanças chegam, de forma geral, como uma maneira de auxiliar o consumidor e deixá-lo consciente em relação aos índices de substâncias consumidos. A alteração feita em 2022, está sendo inserida nos rótulos alimentícios de forma gradativa e a estimativa é que o mercado adeque a rotulagem até 2025.

Leia mais:

A modificação e inserção da informação objetiva é considerada um avanço para os profissionais nutricionistas, mas ainda levanta questionamentos sobre a saúde alimentar.

Com a embalagem da lupa na parte frontal, o consumidor pode realizar escolhas conscientes, ou seja, menos prejudiciais à saúde. Durante muito tempo, o consumidor não tinha acesso de maneira explícita as informações nutricionais dos produtos consumidos, muitas delas vinham no verso e com letras pequenas. Mesmo com a adequação ainda há pouca noção sobre os riscos que essas embalagens indicam.

O QUE DIZEM OS NUTRICIONISTAS?

Por isso, o CORREIO DE CARAJÁS procurou nutricionistas locais para esmiuçar essa mudança.

Entre as doenças que se relacionam ao abuso desses produtos, está a diabetes e a obesidade, como explica a nutricionista e especialista na área, Cynthia Carvalho. “Muitos pacientes procuram atendimento na área, por estarem fazendo escolhas de péssimos hábitos alimentares, exatamente pela falta de conhecimento”, observa.

A nutricionista Cynthia Carvalho destaca a importância na escolha dos alimentos, com atenção às informações do rótulo  Foto: Jefferson Pinheiro

A especialista ainda destaca a função positiva do novo rótulo, enfatizando que os consumidores estão mais livres para escolher os industrializados que possuem um menor teor das substâncias como sódio, gordura e açúcar.

BENEFÍCIOS

A nova regulamentação pode servir como aliada às pessoas que vão realizar suas compras, mas tendo em mente que para ter uma alimentação mais regulada e saudável é necessário evitar parte dos industrializados. “Existem outros meios que podem funcionar como estratégias para o consumidor se atentar aos malefícios desses produtos, como a conscientização da comunidade por meio de políticas públicas, divulgações e o próprio trabalho dos nutricionistas”, reforça Cynthia.

Ainda segundo a nutricionista, quando há um consumo de sódio em excesso, há a possibilidade de elevar os níveis da pressão arterial, o que pode causar também retenção de líquido, inchaço e sobrecarregar os rins, que possuem uma quantidade limitada para filtrar o sódio.

Já o consumo exagerado das gorduras saturadas eleva os níveis de colesterol ruim, o chamado LDL, como diz a profissional de nutrição. “O aumento desse colesterol pode levar ao entupimento das artérias, e também às doenças cardiovasculares, inclusive pode ocasionar um Acidente Vascular Cerebral (AVC), popularmente conhecido como derrame”, completa.

Alimentos com alto teor em açúcar, quando ingeridos em excesso correm o maior risco de desenvolver doenças crônicas, entre elas o diabetes e a obesidade, distúrbios comuns entre os brasileiros, proveniente da escolha alimentar. Para Cynthia, a nova rotulagem expressa um objetivo maior para a comunidade. “Visando longevidade e qualidade de vida, os novos rótulos funcionam para buscar a saúde, e para as pessoas que já possuem alguma doença realizarem escolhas mais saudáveis a partir do que veem nos rótulos, claro com acompanhamento de um profissional de saúde”, sintetiza.

CAUTELA

É importante ressaltar que alimentos industrializados não devem compor a mesa todos os dias, como evidencia a especialista: “Não podemos viver de leite condensado, creme de leite, ou maionese. O ideal é escolher outras opções in natura. Cabe ao consumidor verificar suas possibilidades”.

Com a informação contida nos rótulos, fica mais fácil evitar alguns produtos industrializados, optando pelos que não possuem a lupa, que indica o alto teor. A partir das especificações é possível verificar o que pode ser servido para preservar a saúde de quem prepara o alimento e, também de quem se alimenta dele.

Laisla Bonfati, que atua na área da nutrição há 10 anos, destaca ao CORREIO DE CARAJÁS que a alteração da legislação tem sido positiva, pois o cliente não se sente lesado em relação ao que está comprando e consumindo: “Em alguns alimentos já sabíamos dos riscos, mas trazer essas informações de maneira nítida é primordial para que o consumidor não se sinta enganado”.

Laisla Bonfati diz que a nova atualização ajuda na autonomia dos consumidores Foto: Evangelista Rocha

Ela aponta que em países como os Estados Unidos, já houve a implementação da regra e que, apesar de o Brasil estar atrasado quanto a esse avanço, é válido perceber o que de fato está sendo adquirido. “Longe de um terrorismo nutricional, quando se faz o uso desses alimentos cotidianamente há uma maior probabilidade de hipertensão, diabetes, colesterol e síndrome metabólica”, adverte.

MELHOR CAFÉ DO QUE ENERGÉTICO

A profissional em saúde clínica e esportiva ainda faz um alerta para os jovens que consomem bebidas ricas em energéticos, principalmente estudantes que estão no processo de preparação para o ENEM ou participando de cursinho preparatório. Laisla informa que quando você ingere um energético, ainda que encontre a cafeína, o alto teor de açúcar ainda vai estar presente, por isso é interessante trocar essa bebida por um café preto que o substitui facilmente, dando energia.

Laisla aconselha que é mais saudável consumir o café, ao invés de energético, que possui alto teor de açúcar   Foto: Evangelista Rocha

AUTONOMIA DO CONSUMIDOR

A naturalização da lupa ainda é uma preocupação da especialista: “Nós teremos que lançar formas mais atrativas, para que o consumidor não se acostume com os rótulos e a informação acabe passando batida”.

Ainda assim, a escolha parte do próprio usuário responsável pelo que consome. Enquanto profissional, Laisla esclarece que seu dever é dar autonomia ao paciente, para que quando for ao supermercado, consiga fazer as escolhas certas sozinho. Com a mudança da tabela nutricional e da inserção do rótulo frontal, o cliente tem a capacidade de realizar uma boa escolha, somente se atentando ao aviso.

De maneira geral, as pessoas viviam perdidas quanto a interpretação do rótulo e da tabela, mas com a implementação dela, o modelo foi padronizado no mercado e agora todos são baseados em 100g e 100ml, fundo branco e letra preta com tamanho legível. Já o novo rótulo, indica o alto teor nas três substâncias específicas, o que segundo Laisla, não acontecia nas embalagens antigas sem destaque dos valores nutricionais.

ALERTA

Pela nova regra, os embalados que não possuirão a nova atualização são as águas minerais, natural, água adicionada de sais e água do mar dessalinizada. Independente da mudança, a presença deste “selo” nas embalagens também deve ser vista como uma forma de alerta quanto ao que estamos consumindo, pois são produtos que estampam indícios de possíveis prejuízos à saúde, quando usados em excesso. Por isso, o formato “sutil” da nova rotulagem não deve ser deixado de lado pelos consumidores.

Para o Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), é imprescindível que as indústrias brasileiras de bebidas e alimentos visualizem o impacto que a maioria desses produtos causam na saúde populacional e no meio ambiente. E, para os consumidores, fica a dica para evitar os ultraprocessados, ainda que sejam reformulados. (Milla Andrade)