Correio de Carajás

NUTRIÇÃO EM CIRURGIA II

As altas taxas de desfecho negativo em procedimentos cirúrgicos, com maiores taxas de morbidade e mortalidade, estão diretamente relacionadas a uma terapia nutricional inadequada.

É importante salientar que pacientes bem nutridos, comparados a pacientes em risco nutricional ou desnutridos, geralmente apresentam maior capacidade de tolerar cirurgias de grande porte. A má nutrição está associada com uma alta incidência de complicações operatórias, de morbidade e de morte.

Para uma melhor e mais rápida recuperação após o procedimento cirúrgico, deve-se estabelecer um suporte nutricional pré-operatório adequado e eficiente que assegure uma boa função muscular, imune e cognitiva, bem como a manutenção de um balanço proteico positivo.

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Sendo assim, devemos considerar as taxas de morbidade, mortalidade e tempo de internamento como parâmetros para avaliação de uma terapia eficaz. Segundo o conceito de Internutri, a terapia nutricional deverá ser iniciada tão logo seja identificado o diagnóstico nutricional do paciente.

A melhor via de administração da dieta varia de acordo com o estado nutricional do paciente, levando também em consideração sua capacidade de ingerir alimentas via oral ou não, e sua situação clínica atual. Podemos preparar o paciente para administração de dietas por via Oral, Enteral ou Parenteral, a depender dos fatores de cada paciente individualmente.

A dieta Via Oral deve ser a primeira escolha, observando o grau de desnutrição, o tipo de cirurgia a ser realizada, as preferências e a tolerância de cada paciente. Em pacientes com o trato gastrintestinal íntegro, livre de patologias e apto a receber nutrientes, bem como apetite preservado, dá-se preferência para dieta conforme as suas necessidades.

No entanto, para aqueles que não são capazes de alcançar suas necessidades energéticas e proteicas diárias por meio da dieta convencional, lança-se mão de Suplementos Nutricionais Orais (SNO) no período pré-operatório.

O profissional da saúde, seja ele médico, enfermeiro ou nutricionista, deve estar atento quanto a possíveis distúrbios no trato digestório, como diarreia, constipação, distensão abdominal, náuseas e vômitos, em que a dieta oral precisa ser modificada ou até mesmo substituída.

O suporte nutricional artificial de primeira escolha, tendo em vista ser mais fisiológica e oferecer menores taxas de infecção, caracteriza-se pela nutrição enteral com suplementação nutricional oral (SNO) ou simplesmente a alimentação por sonda, seja ela nasogástrica, nasoenteral, etc.

Porém, em situações de estresse agudo como obstrução intestinal ou íleo paralítico, choque severo e isquemia intestinal, o suporte nutricional deverá ser individualizado e definido para cada situação.

A opção por um suporte nutricional artificial torna-se benéfico quando atua em pelo menos umas das situações a seguir:

  1. Desnutrição Severa.
  2. Doentes em que se espera uma incapacidade de alimentação por via oral num período superior a 7 dias pós-operatório.
  3. Doentes que não conseguem manter a ingestão até 60% das recomendações diárias por mais de 10 dias.

Em doentes com neoplasia submetidos à cirurgia abdominal, é recomendada Nutrição Enteral enriquecida com compostos imunomodeladores durante 5 a 7 dias, independentemente do seu risco nutricional. Verificando-se um importante papel na redução das comorbidades e no tempo de internamento após a cirurgia abdominal.

Já os pacientes desnutridos e candidatos a tratamento de câncer do aparelho digestivo e cabeça e pescoço devem receber Terapia Nutricional pré-operatória por 7 a 14 dias com imunonutrientes.

A preferência e a maior aceitação da dieta enteral em relação a nutrição parenteral devem-se a estudos que indicam redução na incidência de complicações infecciosas sem impacto na mortalidade.

 No entanto, deve-se considerar que o paciente poderá evoluir com aceitação parcial da dieta enteral, sendo assim, deve-se fazer a associação de vias. Ou seja, complementar a via enteral com a via parenteral. Esse tema prossegue na edição na próxima edição de terça-feira.

 

 

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.