Correio de Carajás

“Nunca vou esquecer tudo que lutei para estar aqui”

Em bate-papo com o Correio de Carajás, uma das mais conhecidas jornalistas paraenses com destaque no cenário nacional relembra sua trajetória no Dia Internacional da Mulher

Márcia Dantas iniciou a carreira como estagiária na TV, aos 19 anos, em Belém/ Fotos: Arquivo pessoal

Alçada ao posto de âncora do jornalismo nacional por sua competência e profissionalismo, a paraense Márcia Dantas celebra um dos momentos mais vibrantes de sua trajetória profissional, ao mesmo tempo em que experimenta uma transição em seu trabalho. Em entrevista exclusiva ao Correio de Carajás, ela adianta que apresentará um podcast este ano e que está pronta para a nova função que ocupará no SBT Brasil, a partir da segunda-feira, 11.

Correio de Carajás – Quais foram as suas grandes conquistas como mulher e profissional?

 

Márcia Dantas – Conquistas são propulsoras, te motivam a ir cada vez mais longe. Mas acho que a minha mais significativa, na vida profissional, foi ter me tornado uma referência no jornalismo nacional, saindo do Norte do Brasil. Isso é grande. Uma amiga me disse esses dias que eu “furei uma bolha”. De fato, poucos nortistas ocuparam lugares de tanto destaque. Eu luto para mudar isso, para dar voz aos problemas e necessidades da minha região, que agora está cada vez mais no foco das discussões mundiais. Que a Amazônia seja vista e protegida por quem vive nela. Que comece por nós. Na vida pessoal, ter conseguido manter minha essência, com coragem, foi minha maior conquista. Tenho os pés no chão. E nunca vou esquecer tudo que lutei para estar aqui.

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Correio de Carajás – O Dia Internacional da Mulher é uma data que representa a conscientização da luta das mulheres por seus direitos. Como você avalia as conquistas femininas até hoje e o que falta conquistar?

 

Márcia Dantas – A luta por direitos é constante, ainda estamos muito atrás se pensarmos em questões salariais e de cargos. Mas já avançamos, as discussões estão cada vez mais presentes no âmbito empresarial e, também, fazem parte já da nova geração de mulheres, elas estão por dentro das pautas e sem medo de combater os preconceitos. Vejo com otimismo esse cenário e me sinto forte também para falar sobre ele. Ainda este ano, se tudo der certo, devo integrar um podcast que vai falar só sobre maternidade. Notícia em primeira mão.

Correio de Carajás – Você passou por alguma situação difícil na profissão por ser mulher?

 

Márcia Dantas – Sim, várias! Já ouvi de chefe que precisava emagrecer para me manter no vídeo, já sofri assédio durante uma reportagem, cobrindo o carnaval, e a chefia também não fez nada a respeito. Quando assumi o SBT Brasil, um colunista de fofoca disse, com outras palavras, eu só estava ali porque tinha dormido com a pessoa certa. Senti uma dor tremenda. Chorei muito, por ser julgada por alguém que mal conhecia a minha história. Só pelo prazer de criar polêmica e destruir a minha imagem.

Sem falar nos pequenos gatilhos, situações que às vezes estão nas entrelinhas, que sofremos todos os dias, por estar exposta no vídeo. É duro. Mas criei uma casca mais firme. Todas as situações me fizeram mais forte e tem um propósito: mostrar que somos maiores que tudo isso. Servir de exemplo para outras mulheres não desistirem da luta.

Correio de Carajás – Como é sair de Belém e conquistar o país com o seu talento?

 

Márcia Dantas – Foi sofrido no começo. Fiquei grávida depois de três meses da mudança. Sofri um acidente de carro, parte da minha mudança foi roubada pela transportadora. Foi um ano caótico. Mas hoje costumo dizer que foi Deus, me preparando para tudo. Construindo a Márcia que existe hoje. Ele não tira a tempestade, mas te dá força para atravessá-la.

Recomeçar, na reportagem, na madrugada, o passo a passo da construção da minha imagem, o público foi vivendo tudo junto comigo, mostrando bastidores nas redes sociais, fui uma das primeiras a fazer isso.

As pessoas foram se sentindo mais perto, criei conexão. Chegar a mais pessoas dessa forma, me fez entender que o trabalho não era só na TV. E hoje me dedico também muito a criação de conteúdo nas redes.

Correio de Carajás – Você é referência para os novos jornalistas. Como se sente sabendo que influencia diretamente na escolha da profissão e, também, na maneira de atuar desses profissionais?

 

Márcia Dantas – Isso me motiva a continuar todos os dias. Tenho um destaque no insta que chama “vocês”. Lá deixo salvas todas as mensagens que recebo, de gente de todas as partes do mundo, que já foram tocadas pelo meu trabalho. Nos dias mais difíceis (sim, eles existem), corro lá para lembrar que é por elas que continuo. E não vou parar.

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Correio de Carajás – Você já marcou território nas redes sociais levando entretenimento e informação. Quais os obstáculos de ser atuante nesse segmento?

 

Márcia Dantas – Qual outro jornalista com visibilidade nacional tira dúvidas, ajuda as pessoas de graça na internet? Nenhum! Me orgulho em ser pioneira nisso. Quando comecei, fiz lives com estudantes, foram quase dois anos de conteúdo só sobre jornalismo, gravei meu curso (Telejornalismo Prático), tive duas turmas com mentoria, onde ajudava semanalmente os alunos, foi um período intenso. Me cobrava muito, e começou a ficar pesado para minha saúde mental conciliar tudo.

Agora, meu conteúdo ficou mais orgânico. Me planejo para alguns projetos específicos, e me permito momentos “off”.

A constância é muito importante nas redes para o público virar fiel, criar uma comunidade. Depois fica mais leve.

Correio de Carajás – Você já disse em algumas entrevistas que nunca conseguiram te colocar em uma caixinha, em um padrão, então, quem é a Márcia Dantas, qual a sua essência, o que te faz sonhar, acreditar e estar sempre se reinventando?

 

Márcia Dantas – A minha maior motivação é a mudança. Eu não nasci para ficar parada, não gosto do marasmo. Minha alma é livre, cheia de sonhos e precisa da adrenalina do movimento.

Eu fiz teatro muitos anos, tenho esse lado artista, que gosta de experimentar coisas novas, que se joga em tudo que acredita. Acho que muito da minha identidade na profissão vem dessa liberdade criada nos palcos. O teatro me salvou de tantos traumas. Foi a primeira vez que me senti única, livre, e foi justo na adolescência, uma fase muito difícil de aceitação para todo mundo. Uma frase que meu professor sempre falava e levo para a vida é: “O objetivo é iluminar”. Sigo esse propósito.

Correio de Carajás – Pode falar sobre o novo desafio profissional? Como tem sido essa nova fase?

 

Márcia Dantas – Foram várias fases até chegar neste momento, onde estou completamente resolvida e animada com os novos desafios. Primeiro vivi o luto, que é natural. Depois trabalhei meu mental para acreditar nos planos de Deus, ele sempre tem o melhor para mim. E agora eu me dediquei a estudar para a nova função e, também, relembrar momentos importantes que vivi nesses últimos três anos na bancada. Resolvi compartilhar com o público alguns deles, para que possam viver junto comigo essa transição. Os vídeos estão nas redes sociais. E a partir de segunda (11/03), vocês vão conferir minha nova função dentro do novo SBT Brasil, com César Filho.

Correio de Carajás – Que mensagem você deixa para as mulheres paraenses que vão ler esta matéria?

 

Márcia Dantas – Mulher, teu rebolado não nasceu pra ser privado de samba, tua alma não floresce no escuro, tua voz não ressoa com grito preso na garganta, teu olhar não ilumina sem primeiro se enxergar.

Dança, grita, chora, vive! Aprende a ser livre. Não é fácil, mas há uma legião de almas iguais a tua, esperando só esse movimento, para seguir também.

 

 (Theíza Cristhine)