Na manhã desta segunda-feira, 18 de julho, é celebrado no mundo inteiro o “Mandela Day”, data criada em 2009 pela ONU (Organização das Nações Unidas), para homenagear o nascimento do líder sul-africano, que se tornou símbolo da luta contra o racismo na África do Sul, seu país de origem, onde o regime Apartheid (1948 a 1994) foi muito violento.
A radialista marabaense Letícia Jukà, colaboradora do Grupo Correio de Comunicação, radicada atualmente na Itália, apresentou um discurso no Parlamento Europeu, durante uma sessão para celebrar o Mandala Day.
Seu discurso ocorreu como membro da “African Fashion Gate”, uma associação que luta contra o racismo, xenofobia, antissemitismo e a discriminação na moda, no esporte, na comunicação em geral. Nesta entidade, Letícia atual como embaixadora pelo Brasil.
Leia mais:Em entrevista ao jornalista Ulisses Pompeu, tão logo saiu da sessão especial no Parlamento Europeu, Letícia Jukà explicou que a African Fashion Gate premia grandes autoridades na Itália e em Bruxelas, na Bélgica, com o prêmio “A moda veste a paz”, com a participação de representantes de vários países, principalmente aqueles que já sentiram na pele o racismo, discriminação e opção sexual. “Hoje eu falei como o discurso é vergonhoso, sendo que em pleno Século 21 ainda nos reunirmos pra falar de racismo e discriminação e isso já devia ser algo superado”.
Entre as personalidades premiadas na sessão desta segunda-feira está Makaziwe Mandela, filha de Nelson Mandela.
Abaixo, leia, na íntegra, o discurso de Letícia Jukà no Parlamento Europeu. “Estamos em 2022 e ainda hoje nos encontramos falando sobre racismo e discriminação: é incrível, mas é assim mesmo.
Para muitos, o racismo se refere apenas à cor da pele, mas existem outras formas mais sutis de discriminação, em muitos casos.
Praticado também por instituições que impedem os indivíduos, mesmo respeitando as regras da sociedade, de circular livremente, trabalharem onde houver trabalho, viver onde escolherem viver, amar onde quiserem amar.
A African Fashion Gate não pode aceitar que no século XXI estas questões possam impedir a liberdade de milhões de pessoas, esta é uma ferida aberta pela qual não vamos parar de lutar para que os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos possam viver num mundo sem fronteiras, onde o homem é livre.
Dada a minha origem, gostaria apenas de acrescentar algumas palavras em referência à discriminação no meu País. O Brasil é um país que vivenciou a colonização do povo europeu que explorava como escravos os africanos. Até hoje, cerca da metade dos habitantes é negra ou mestiça e a discriminação contra quem não é branco ainda é evidente. Basta dizer que só depois de 50 anos um jornalista negro conseguia ler as notícias e que sempre depois de 50 anos era possível eleger uma Miss Mundo cuja cor de pele não fosse branca.
Felizmente, com o passar do tempo, a sociedade civil brasileira também está evoluindo e podemos dizer que a questão racial é um trabalho em andamento.
A African Fashion Gate está ciente de que ainda tem muito a fazer e vai fazê-lo, sensibilizando a todos os níveis das autoridades competentes, pedindo que no campo da educação haja um compromisso de passar um sentido de civilidade e um conceito de inclusão às crianças, porque as crianças de hoje serão a sociedade de amanhã.
É triste dizer, mas é um assunto que pelas minhas origens está no meu coração, e através do African Fashion Gate vi a oportunidade de ser útil à causa. A AFG estará onde será preciso dar voz a quem não tem e lutará para que o valor das pessoas não seja definido pela cor da pele ou pelo país de origem.
Nossa luta é por direitos iguais, respeito e um mundo melhor para todos.
É por isso que estamos aqui para premiar aqueles que vivenciaram dolorosamente a discriminação de perto, certos de que amanhã será um mundo melhor. Obrigada.”