Correio de Carajás

Nefrolitíase

O cálculo renal, também conhecido como pedra nos rins, é uma massa sólida formada por pequenos cristais, que podem ser encontrados tanto nos rins quanto em qualquer outro órgão do trato urinário. Os cálculos renais são comuns e acometem cerca de 1% da população, sendo recorrentes em mais de 50% dos pacientes.

A formação de cálculos começa quando a urina se torna supersaturada com componentes insolúveis, em consequência de baixo volume de urina, excreção excessiva ou insuficiente de determinados compostos, ou outros fatores (como por exemplo, pH urinário) que diminuem a solubilidade.

Cerca de 75% dos cálculos contêm Calcio (Ca), a maioria consiste em oxalato de Ca. Ocorrem também cálculos de fosfato de Ca e outros cálculos mistos. Cerca de 15% são constituídos de estruvita (fosfato de amônio magnesiano), 5% de ácido úrico e 1% de cistina, refletindo o(s) distúrbio(s) metabólico(s) a partir do(s) qual(is) se originam.

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Os cálculos presentes na pelve renal podem ser assintomáticos ou causar sangue na urina isolada. Com a sua passagem, pode ocorrer obstrução em qualquer nível ao longo do sistema coletor.

Os principais sinais do problema são: dores intensas que se espalham, principalmente, pela região abdominal, dor ao urinar, urina com cor anormal, geralmente escura e mal cheirosa, e febre com calafrios, em caso de infecção.

A obstrução relacionada com a passagem de um cálculo provoca dor intensa, que frequentemente se irradia para a virilha, algumas vezes acompanhada de sintomas viscerais intensos como náuseas, vômitos, sudorese fria, tontura, hematúria, piúria, infecção do trato urinário (ITU) e, raras vezes, hidronefrose.

Em contrapartida, os cálculos coraliformes, que estão associados a ITU recorrente por microrganismos que desdobram a ureia (Proteus, Klebsiella, Providencia, Morganella e outros), podem ser totalmente assintomáticos, manifestando-se na forma de perda da função renal.

A maioria dos cálculos é composta de oxalato de Ca. Podem estar associados à hipercalciúria e/ou hiperoxalúria. A hipercalciúria pode ser observada em associação a uma dieta muita rica em Na, terapia com diuréticos de alça, acidose tubular renal (ATR) distal, sarcoidose, síndrome de Cushing, excesso de aldosterona ou distúrbios associados à hipercalcemia como por exemplo hiperparatireoidismo primário, excesso de vitamina D, síndrome de leite-álcali, ou pode ser idiopática.

A hiperoxalúria pode ser observada na presença de síndromes de má absorção intestinal (sobretudo ileal) como por exemplo, doença inflamatória intestinal, pancreatite), devido à secreção intestinal reduzida de oxalato e/ou ligação do Ca intestinal pelos ácidos graxos existentes no lúmen intestinal, com absorção aumentada de oxalato livre e hiperoxalúria.

Os cálculos de oxalatos de Ca também podem formar-se em consequência de (1) deficiência de citrato urinário, um inibidor da formação de cálculos que é excretado em quantidades  insuficientes na acidose metabólica. (2) hiperuricosúria. Os cálculos de fosfato de Ca são muito menos comuns e tendem a ocorrer no contexto de um pH urinário anormalmente alto (7 a 8), em geral em associação à ATR distal completa ou parcial.

Os cálculos de estruvita formam-se no sistema coletor, na presença de infecção por microrganismos que desdobram a ureia. A estruvita constitui o componente mais comum dos cálculos coraliformes e da obstrução. Os fatores de risco incluem ITU prévia, nefrolitíase de outras causas (não-estruvita), cateteres urinários, bexiga neurogênica por exemplo, com diabetes ou esclerose múltipla, e instrumentação.

Os cálculos de ácido úrico desenvolvem-se quando a urina fica saturada com ácido úrico, na presença de um pH urinário ácido. Os pacientes costumam apresentar síndrome metabólica subjacente e resistência à insulina, frequentemente com clínica de gota, associada a um defeito relativo na amoniagênese e a um pH urinário < 5,4 e com frequência, < 5,0. O tema Nefrolitíase prossegue na próxima terça-feira.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.