O Ministério Público Eleitoral de Rondon do Pará está convencido de que houve captação ilícita de votos e abuso do poder econômico praticada pelo atual prefeito de Abel Figueiredo, Antônio dos Santos Calhau (PL), Evandro Oliveira Santos, e de Adeilson Ataide Mateus, durante a campanha eleitoral de 2020. O parecer final é da promotora Lorena de Albuquerque Rangel Moreira Cruz, da 51ª Zona Eleitoral, mas a ação inicial foi impetrada na Justiça por Hidelfonso de Abreu e Osciezia Rodrigues dos Santos, que fizeram a denúncia em 14 de dezembro de 2020.
Depois de assistir a um vídeo e ouvir testemunhas, a promotora ficou convencida de que houve, de fato, captação ilícita de votos e abuso de poder econômico que beneficiaram a eleição de Antônio Calhau.
Segundo a denúncia, no dia 14 de novembro de 2020, na Rua Presidente Lula, no Bairro Nova Brasília, em Abel Figueiredo, por volta das 14 horas, fora flagrado o candidato a vice-prefeito eleito de Abel Figueiredo Evandro Oliveira Santos praticando o crime eleitoral de compra de votos.
Leia mais:Um transeunte, passando pelo local especificado anteriormente, por achar estranho o comportamento, tanto do candidato eleito, quanto da Sra. Maria Motta, filmou vídeo flagrando o candidato a vice-prefeito eleito entregando dinheiro em espécie, com o intuito de comprar votos, ou seja, de vincular através desta transação a obrigação de votar em seus pares.
Inclusive, posteriormente circulou um áudio da Sra. Léya Rodrigues afirmando que o encontro do candidato a vice-prefeito eleito e a eleitora foi arquitetado por ela, pois houve a promessa de compra de voto, onde Evandro promete pagar a passagem da filha de Maria Mota e outra ajuda financeira em troca do voto.
No áudio realizado pela eleitora Léya, consta a seguinte mensagem:
“Ei, isso aí é obra minha viu gata.
Isso aí é o dinheiro que eu mandei ele dar para a filha dela vim votar aqui (Abel Figueiredo) no 22, viu?
Isso aí você pode jogar para quem quiser, todo mundo está consciente disso, que a filha dela vinha pra cá pra votar no 22.
Eu falei, Evandro é pra deixar o dinheiro lá na casa da mãe dela.
RÁ, toma nos peito, bebê”.
Como consta no áudio, há a confirmação de que Evandro entregou dinheiro em espécie para a Sra. Maria Motta, com o objetivo de pagar a promessa em troca de voto, considerando que a filha da Dona Maria não reside no Município de Abel Figueiredo, mas vota no Município.
Na ação inicial, com a qual o MP Eleitoral concorda plenamente, foram pedidos a inelegibilidade dos acusados, a cassação dos registros de candidatura ou da diplomação do prefeito eleito e empossado.
Em seu depoimento, o informante Airton Lucas Nascimento de Oliveira, respondendo às perguntas dos advogados, do MP e do juízo, informou que Carlinho Buchudo inicialmente apoiava a candidatura à reeleição de Hidelfonso, porém, na reta final da campanha passou a apoiar a candidatura opositora de Calhau. Que estava na casa de sua avó, quando, ao sair, se deparou com Evandro Santos, em frente à casa de Maria Mota. Disse que estava entregando dinheiro a ela e que filmou o ocorrido, tendo visto claramente as notas de R$ 20,00, porém não identificou a quantidade de dinheiro, mas viu o atual vice-prefeito contando as notas. Depois de entregar o dinheiro, Evandro deu santinho também à mulher. A entrega do dinheiro se deu para que a filha de dona Maria Mota fosse votar no município, vez que reside em outra cidade, possivelmente Marabá.
A filha de Maria Mota confirmou os fatos via WhatsApp, dizendo que tem conhecimento de outras situações de compra de voto e que, embora não resida em Abel, se criou e possui família no município, bem como esteve no município durante o período eleitoral. Por fim, em seu depoimento, a testemunha Thiago Guatieiro Silva, respondendo às perguntas dos advogados, do MP e do juízo, declarou que Adeilson Ataíde Mateus lhe abordou pedindo voto para Antônio Calhau em troca de dinheiro. Ele justificou que não tinha título. Informou que estava junto com Júnior, na moto, no momento em que foi abordado, inclusive Adeilson ofereceu dinheiro a este também.
“Conforme restou devidamente comprovado na instrução, o abuso de poder econômico foi praticado na espécie por Adeilson Mateus, para beneficiar as candidaturas a prefeito e vice de Antônio dos Santos Calhau e Evandro Oliveira Santos. “Também estão comprovados os atos praticados por Antônio dos Santos Calhau, que ofereceu emprego à testemunha Júnior Pereira dos Santos na administração pública municipal em troca de seu voto, e de Evandro Oliveira, que foi visto pelo informante Airton Lucas Nascimento de Oliveira entregando dinheiro a eleitores”, diz o MP.
A ação inicial requer à Justiça a decretação de inelegibilidade dos acusados, além de cassação do diploma do prefeito e vice de Abel Figueiredo.
A Reportagem do Portal não conseguiu contato com os acusados e nem com seus advogados para ouvir a versão deles.