Sete horas depois do lançamento na China, a missão Shenzhou-12, com três astronautas a bordo, acoplou-se “com êxito”, nesta quinta-feira (17), ao primeiro módulo da estação espacial chinesa em construção, em um momento de grande rivalidade tecnológica com os Estados Unidos. Esta é a primeira missão espacial tripulada chinesa em cinco anos. Ela estabelecerá um recorde de permanência para sua tripulação, que passará três meses no espaço.
Em um contexto de grande tensão com o Ocidente, o triunfo da missão é uma questão de prestígio para Pequim, que se prepara para celebrar o centenário do Partido Comunista Chinês (PCC) em 1º de julho. Na quinta-feira à tarde (16), a agência espacial do país anunciou que a nave Shenzhou-12 se acoplou com sucesso à estação Tiangong (“Palácio Celeste”), que rivaliza com a Estação Espacial Internacional (ISS, na sigla em inglês).
Sete horas antes, o foguete Longa Marcha-2F decolou com os três astronautas, às 9h22 do horário local (22h22 quarta-feira, no horário de Brasília), do centro de lançamento de Jiuquan, no deserto de Gobi, no noroeste da China. Depois de 10 minutos, alcançou órbita, e a nave espacial se separou do foguete.
Leia mais:O canal de televisão estatal CCTV exibiu ao vivo as imagens do interior da nave, onde os três astronautas levantaram as viseiras dos capacetes para mostrar seus rostos sorridentes. Câmaras posicionadas no exterior da nave exibiram imagens ao vivo da Terra. “Os painéis solares foram acionados com êxito, e podemos declarar que o lançamento foi um sucesso”, comemorou o diretor do centro de lançamento de satélites de Jiquan, Zhang Zhifen.
O comandante da missão é Nie Haisheng, um condecorado piloto do Exército de Libertação Popular, que já participou de duas missões espaciais. Os outros dois tripulantes também são militares. O trio fez mais de 6.000 horas de treinamento para se acostumar com a ausência de gravidade. “Lutamos a cada minuto para realizar nosso sonho espacial”, declarou Liu Boming, outro membro da tripulação. “Treinei me dedicando à causa”, acrescentou.
Vida espacial
Uma vez concluída, a estação “Palácio Celeste” terá dimensões parecidas com a antiga instalação soviética Mir (1986-2001), com uma vida útil de pelo menos dez anos, segundo a agência espacial chinesa. A missão Shenzhou-12 é o terceiro dos 11 lançamentos que serão necessários para a construção da estação, entre 2021 e 2022. Quatro dessas missões serão tripuladas.
Além do módulo Tianhe, que já está em órbita, os dois módulos restantes – que serão laboratórios de biotecnologia, medicina e astronomia – serão enviados ao espaço no próximo ano. No Tianhe, os astronautas se dedicarão a trabalhos de manutenção, instalações, caminhadas ao espaço, preparação de futuras missões e de próximas estadas de outros tripulantes.
O módulo tem um espaço para cada um deles, equipamentos para exercícios e um centro de comunicação com o controle terrestre. Em sua cápsula, os três militares poderão escolher entre 120 alimentos nas refeições e treinar em uma esteira para manter a forma.
O interesse chinês em ter sua própria base humana na órbita da Terra foi estimulado pela proibição americana à presença de seus astronautas na ISS. Esta última – uma colaboração entre Estados Unidos, Rússia, Canadá, Europa e Japão – deve ser aposentada em 2024, embora a Nasa (a agência espacial americana) tenha dito que poderia permanecer operacional além de 2028.
“Estamos prontos para cooperar com qualquer país que esteja comprometido com o uso pacífico do espaço”, declarou Ji Qiming, alto funcionário da Agência Chinesa de Voos Tripulados (CMSA). (Correio do Povo)