Correio de Carajás

Mesmo com tendas, Parauapebas não coíbe aglomeração para saque de auxílio

Enormes filas e diversos pontos de aglomeração podem ser conferidos na frente de agências da Caixa Econômica Federal em Parauapebas desde o começo da manhã desta segunda-feira (4). Não era o previsto pela administração municipal e por autoridades sanitárias, que decidiram montar tendas como forma de minimizar o problema e acreditando que a iniciativa fosse suficiente.

As tendas foram instaladas na frente das duas agências da Caixa no município, sendo uma no bairro Cidade Nova e outra no Beira Rio. Elas teriam, segundo informou o secretário de Segurança Institucional, Denis Assunção, condição de comportar mil pessoas. “Nós colocamos sete tendas de 10×10 (tamanho em metros). Elas têm capacidade para mil pessoas, porém, a Caixa disponibiliza número de senhas inferior a essa quantidade”, argumenta, revelando que o tamanho das armações seria o suficiente para garantir o distanciamento social.

No total, estima a prefeitura, 750 fichas devem ser disponibilizadas pelo banco federal para atender à demanda desta segunda-feira. Aliás, nesta data, as agências passaram a abrir duas horas mais cedo, com horário de funcionamento das 8h às 14h. Conforme apurou o CORREIO junto à gerência da Caixa em Parauapebas, houve contratação de mais funcionários para reduzir as filas e agilizar os atendimentos.

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Capacetes e outros objetos foram usados para reservar lugar (Foto: Ronaldo Modesto/Correio de Carajás)

No domingo (3), nossa equipe de reportagem esteve nas duas agências e lá constatou a presença de uma grande estrutura de tendas que aguardavam ser erguidas, o que aconteceu nesta madrugada, e inúmeros objetos no chão, como capacetes, cadernos, cadeiras, sandálias e outros. Até pedaços de madeira e inscrições de carvão com o nome das pessoas havia. Tudo isso para não ficar sem receber os benditos R$ 600.

Com as tendas montadas, faltava ainda posicionar as 750 cadeiras (equivalente à quantidade de senhas liberadas pela Caixa) debaixo delas para que a ação fizesse um pouco mais de sentido. Isso não aconteceu. Aplicado à prática, o projeto permitiria a distância mínima entre as pessoas e ordenaria o tumultuado fluxo na área externa das unidades bancárias.

Quilométrica fila está dando voltas no quarteirão (Foto: Ronaldo Modesto/Correio de Carajás)

Procurada pelo veículo de imprensa, a Assessoria de Comunicação da Prefeitura de Parauapebas esclareceu que o processo de montagem das estruturas ainda está em andamento. A instalação deve ser concluída tão logo as cadeiras sejam fornecidas, o que deve acontecer até o meio-dia.

De acordo com informações coletadas pela Reportagem, a montagem das tendas, prevista para acontecer na tarde de domingo, foi realizada na madrugada, sendo concluída por volta das 4h.

CIDADÃOS ACAMPADOS

Esperar sentado? Coisa do passado! A onda agora é aguardar sua vez deitado em uma rede sob a brisa das mangueiras. Foi isso que decidiu fazer o desempregado Luís Alves dos Santos, de 50 anos, que estava acampado desde o meio-dia de ontem para não correr o risco de ficar sem uma das 400 senhas disponibilizadas pela agência da Cidade Nova.

Ele conta que essa batalha toda é para que possa receber o Auxílio Emergencial de R$ 600, medida de incentivo financeiro adotada pelo governo federal ante a pandemia ocasionada pelo novo coronavírus, uma forma de amortecer o flagelo da crise dela oriunda.

Luís espera senha para receber auxílio do governo deitado (Foto: Ronaldo Modesto/Correio de Carajás)

Ainda segundo Luís, quem ousar sair do lugar sem antes reservar a vaga, perde a vez. Ele narra que, desde quando armou sua rede, não saiu nem para urinar. Além disso, brigas de pessoas querendo usurpar vagas pertencentes a outras eram constantes por ali até esta madrugada.

Também sem ocupação laboral, Ernildo Rodrigues Pereira, de 37 anos, chegou às 15h de domingo para garantir seu espaço na batizada “fila do auxílio”. Ele lembra que o decreto estadual proíbe aglomeração de mais de dez pessoas, mas o que se percebe em Parauapebas é total inobservância à determinação governamental.

Para Ernildo, que destaca a falta de cadeiras nas tendas, os governantes deveriam intervir com ações mais efetivas. “Não tem água, não tem banheiro químico. A prefeitura deveria ser mais sensível quanto a isso”, avalia ele.

Distância mínima de 1,5 metro está longe de ser realidade na “fila do auxílio” (Foto: Ronaldo Modesto/Correio de Carajás)

SOFRIMENTO

Esperando em pé na agência do Beira Rio por quase duas horas, Hildemar Vieira, de 59 anos, relata o drama de pessoas que viu passando mal assim que chegou à quilométrica fila. “Tem gente na fila desde ontem, que está esperando há muito tempo. Alguém deveria fazer algo por elas, oferecer comida. Estão parecendo de fome e cansaço”, declara.

Neste sentido, a dona Luzirene Silva Viana, de 48 anos, revela a dura situação vivida em seu lar com a suspensão de grande parte dos serviços. “Meu filho trabalhava como atendente de uma loja no shopping e foi demitido depois que tudo isso começou. Ele me ajudava muito em casa, mas é isso. Agora estamos aqui”, conclui, com a voz embargada pelo sentimento de tristeza.

Nesta segunda-feira, a Caixa anunciou a liberação dos saques em dinheiro dos recursos do desejado auxílio depositados nas poupanças digitais do banco.

O último informe epidemiológico divulgado pelo município de Parauapebas assinala 200 casos confirmados, sendo 19 internados, 95 em isolamento domiciliar, 71 recuperados e 15 mortos. Além disso, há 225 casos descartados e 75 em investigação. (Vinícius Soares e Ronaldo Modesto)

Foto: Divulgação/Prefeitura de Parauapebas