Grande parte dos mais de 2.500 servidores da Saúde em Marabá estão apreensivos e preocupados com as condições de segurança deles mesmos em relação ao novo coronavírus (Covid-19). Tais preocupações têm sido expostas em áudios espalhados em grupos de WhatsApp e confirmadas ao CORREIO nesta quarta-feira (18) pelo diretor do núcleo do Sindicato dos Servidores em Saúde Pública do Estado do Pará (Sintesp) na cidade.
Apenas no Hospital Municipal, por exemplo, trabalham mais de 500 servidores, e no Materno Infantil, outros 300. Há casos registrados de servidores que entraram em pânico em posto de saúde, esta semana, quando procurados por uma mãe que relatou estar com o filho em casa com as características da temida doença. O rapaz foi atendido no turno da tarde por um médico e o caso foi descartado, mas agitou os ânimos dos servidores.
Em conversa por telefone, o sindicalista Demerval Bento da Silva diz estar sendo chamado rotineiramente às unidades básicas de saúde, onde os colegas temem o contágio pela doença. “Os colegas de profissão ligam muito para nós. Eles têm entrado em contato conosco, assustados, com relação ao álcool em gel e as máscaras, que não estão sendo fornecidos em uma quantidade suficiente pela Secretaria Municipal de Saúde”, relata ele.
Leia mais:A principal queixa dos servidores é mesmo a falta de EPI’s (equipamentos de proteção individual) em quantidade adequada, como máscaras, álcool em gel, luvas, entre outros. De acordo com Demerval, o risco de contágio de servidores, sobretudo os mais velhos, é grande, e medidas precisam ser tomadas pela Saúde no sentido de viabilizar o fornecimento desses materiais.
“Os profissionais de saúde estão expostos ao coronavírus porque o álcool e a máscara, para citar, estão racionados, mas esse assunto é ainda muito delicado. Os servidores idosos, nós temos muitos, precisam ter um cuidado especial por parte da secretaria, porque o risco para eles é bem maior que para as pessoas mais novas”, avalia o diretor.
SECRETÁRIO CONTESTA
Procurado pela Reportagem, o secretário municipal de Saúde, Luciano Lopes Dias, contraditou as declarações do sindicalista. Segundo ele, os postos de saúde seguem com a agenda normal de atendimentos, sem ocorrências de possíveis agitações. “Os profissionais das unidades de saúde passaram por formação e foram orientados a identificar casos suspeitos de coronavírus, bem como sintomas de gripe”, alega.
Para ele, o momento é de disciplina no trato das informações, para que a população não entre em alarme. “Esse é um problema coletivo, não é exclusivo da Saúde. Nós precisamos, nesse momento, de disciplina. Não podemos divulgar informações falaciosas; isso não é nem nunca será salutar. O quadro (da doença) necessita de colaboração de todas as pessoas”, afirma Luciano. Ele também negou que falte material para uso e segurança dos profissionais que atendem na ponta.
PREOCUPAÇÃO É REAL
É isso o que atesta a enfermeira Dilma Bezerra Marques, que ocupa cargo de direção no Centro de Saúde “Pedro Cavalcante”, situado no Bairro Amapá, às margens da Rodovia Transamazônica (BR-230). Na visão dela, mesmo com a capacitação que receberam da Secretaria Municipal de Saúde e não havendo nenhum caso confirmado de coronavírus na cidade, os profissionais da área demonstram preocupação com o desconhecido.
“Todos nós estamos com aquela ansiedade, com aquela inquietação. Mas temos que manter a calma, a ética profissional e fazer o diagnóstico sem alardear que a pessoa pode estar com a doença. Existe um protocolo para que possamos fazer uma análise precisa. Neste momento, não há nenhum caso confirmado de coronavírus na cidade, mas os pacientes que apresentarem coriza nasal e outros sintomas do vírus devem procurar a unidade básica”, pontua Dilma.
PREVENÇÃO PRIMEIRO
Também ouvida pelo veículo de comunicação, a diretora regional da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), Etiene Maria da Costa Santos, frisou que as ações do órgão neste primeiro momento têm caráter preventivo. Ela garante que os municípios da região (são 23) já foram, nas últimas semanas, devidamente orientados e estão aptos a lidar com a doença.
“A primeira recomendação da Sespa é de caráter preventivo. Todas as prefeituras já foram treinadas para cuidar do coronavírus. Toda a equipe responsável por coletar o material já foi orientada. Cada município tem que ter o seu plano de contingência e nós esperamos, com isso, minimizar os efeitos da doença”, pondera Etiene.
O mesmo entendimento é seguido pelo médico José Daniel Silva Filho, que acrescenta: o vírus pode chegar a qualquer hora na Terra de Francisco Coelho, já castigada pelas cheias dos rios. “Como Marabá é uma cidade com aberturas para todos os lados, cortada pela Transamazônica, a chegada do vírus é inevitável. Mais cedo ou mais tarde ele ‘dará as caras’ por aqui, e é importante prevenir antes de tudo”, ressalta ele. (Da Redação)