Ao tomar conhecimento de que o projeto da Ferrovia do Pará está ganhando um novo rumo, com mudança no traçado da estrada de ferro, tirando Marabá do mapa, os membros da Comissão de Desenvolvimento Socioeconômico da cidade reagiram de forma dura na última semana e estão dispostos a cobrar do governo do Estado e da Vale a volta ao projeto original, elaborado pelo governo paraense na gestão anterior.
A notícia caiu como uma bomba junto aos membros da referida Comissão, que agendaram uma reunião extraordinária para esta segunda-feira, dia 30, às 16 horas, para discutir como confrontar os idealizadores do projeto e a mineradora, que se comprometeu em construir a estrada.
O presidente da Comissão de Desenvolvimento, Miguel Gomes Filho, o Miguelito, lembra que em 2017 o governo do Estado apresentou o RIMA (Relatório de Impacto Ambiental) do projeto, naquela época denominado de Ferrovia Paraense, e que Marabá estava em lugar de destaque no traçado, com uma estação de carga e controle em Morada Nova.
Leia mais:Agora, em 2021, uma nova versão do RIMA foi entregue à SEMAS para análise e aprovação, com outro traçado, retirando a estação de carga de Marabá, chamada de Marco Zero, e levando-a para o município vizinho de Bom Jesus do Tocantins.
Miguelito relembra que, há menos de um mês, o diretor de Relações Institucionais da Vale, Luiz Ricardo de Medeiros Santiago, revelou aos vereadores, em Brasília, que a mineradora vai construir a Ferrovia do Pará.
“Vale e Estado precisam saber que não vamos aceitar essa mudança. Sempre fomos manietados. Temos uma luta inglória com a Vale. Não vamos nos vender por balinha. Vamos fazer a discussão, não podemos aceitar essa mudança radical e que prejudica muito nosso município”, salientou.
Na avaliação de Vanda Américo, membro da Comissão de Desenvolvimento, a referida comissão foi usada em Brasília pela Vale, de forma desrespeitosa. “O projeto original põe Marabá em posição de destaque e agora retira o município dessa condição, embora tenhamos bastante carga aqui e Bom Jesus do Tocantins quase não possui carga para transporte”, comparou.
João Tatagiba, presidente da Associação Comercial e Industrial de Marabá, contou na comissão que recebeu a informação do secretário de Estado de Desenvolvimento Econômico, Mineração e Energia, José Fernando Gomes Júnior. Segundo Tatagiba, a informação lamentável é que o marco zero da Ferrovia do Pará não será mais em Marabá, mas em Bom Jesus do Tocantins.
É uma decisão lamentável, porque nosso município absorve vários modais de transporte com um grande volume de cargas e precisa dar vazão para escoar produtos que chegam aqui. Será que Marabá vai perder, novamente, um grande investimento?”, questiona o presidente da ACIM.
ACELERANDO A DISCUSSÃO
Os membros da Comissão de Desenvolvimento reúnem-se todas as quartas-feiras, às 16 horas, mas agendaram uma reunião extraordinária para esta segunda-feira, no mesmo horário, para discutir que ações adotar para forçar governo do Estado e Vale a rediscutirem o traçado da Ferrovia do Pará, já que a mineradora se dispôs a construir a estrada de ferro.
TRAÇADO
O traçado ferroviário de 2017, segundo o RIMA, tinha 1.319 km, cruzando 23 municípios, passando 82 km por dentro de Marabá. Mas, no projeto novo e “mais enxuto”, a Ferrovia Paraense vai passar por apenas 12 município, entre os quais Bom Jesus do Tocantins, com 47,39 km. Os demais são Abaetetuba, Acará, Barcarena, Moju, Tailândia, Abel Figueiredo, Dom Eliseu, Ipixuna do Pará, Paragominas, Rondon do Pará e Tomé Açu.
Ficaram de fora, além de Marabá, Pau D’arco, Piçarra, Redenção, Rio Maria, Santa Maria das Barreiras, Santana do Araguaia, Tailândia, Tome-Açu, Xinguara, Nova Ipixuna e Eldorado do Carajás.
FERROVIA ENCURTADA
Os estudos de Impacto Ambiental e o Relatório de Impacto de Meio Ambiente (EIA/Rima), realizados para o projeto de construção da Ferrovia do Pará, com o novo traçado de 515,02 quilômetros, foram entregues em 15 de junho deste ano à Secretaria de Estado de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas).
O estado prevê que até outubro deste ano o projeto seja aprovado na Semas e argumenta que os ajustes não só do traçado, mas também do tamanho da ferrovia ocorreram para ter impactos menores em áreas sensíveis e equacionar o tamanho. Inclusive, eliminou o traçado que passava em terra indígena.
O projeto de 2017 previa a construção de dois canteiros principais, sendo um em Barcarena e outro em Marabá, e de vários canteiros de apoio localizados junto às frentes de serviços. Esses dois canteiros principais dariam suporte à construção da primeira e da segunda etapas da Ferrovia Paraense. Com a retirada de Marabá do projeto, perde-se até mesmo a mão de obra que seria usada para a construção desse canteiro.
Adnan Demacki, ex-secretário da SEDEME e chamado de “pai da Ferrovia Paraense”, foi ouvido pela Comissão de Desenvolvimento na última quarta-feira e mostrou-se surpreso com a notícia de mudança no traçado. Ele destacou que o município que tem maior carga a oferecer é Marabá, porque ocupa posição de polo regional. Para ele, a ferrovia precisa, também, oferecer transporte de passageiros e não apenas carga. “Esse projeto não pode contemplar o desejo de uma empresa só, mas de uma sociedade. Bom Jesus merece apreço, mas não tem grande carga a oferecer. Toda a carga está em Marabá, com todo respeito a Bom Jesus. Garanto que esta não é uma decisão que atende aos critérios técnicos”, criticou.
Procurada pela Reportagem do Correio de Carajás, a Vale enviou a seguinte nota: “A Vale apoiará o Governo na implementação da Ferrovia Paraense. Os estudos foram protocolados pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sedeme) junto à Secretaria de Meio Ambiente dentro do processo de licenciamento”. (Com informações da Ascom Câmara Municipal de Marabá)