Correio de Carajás

Marabá ainda carente de “armas” para combater o câncer

Em Sessão Especial do Outubro Rosa na Câmara de Marabá, instituições cobram tratamento contra a doença no município

Na manhã desta quarta-feira, dia 6, a Câmara Municipal realizou a Sessão Especial em referência ao Outubro Rosa, mês de conscientização sobre o câncer de mama e colo do útero, que acometem milhares de mulheres no País a cada ano.

O evento foi aberto pelo presidente da Câmara, Pedro Corrêa, que repassou a presidência da Sessão Solene às colegas vereadoras Cristina Mutran e Elza Miranda.

Cristina lembrou que a campanha do Outubro Rosa é realizada ao redor do mundo para combater o câncer de mama e conscientizar as mulheres quanto aos cuidados para que as mulheres fiquem atentas, realizem exames preventivos periodicamente. “É de suma importância estamos alertas e quando o câncer de mama é diagnosticado precocemente, tem 95% de chance de cura”, informou Dra. Cristina.

Leia mais:

Ela revelou que 65% dos óbitos pelo lado materno de sua família foram por câncer e que havia um temor de falar a palavra “câncer” pelo pavor que as mulheres tinham. Ela lembrou que já houve problemas maiores no atendimento às mulheres em relação ao diagnóstico de câncer de mama em Marabá, mas que ainda há alguns gargalos que precisam ser enfrentados, como a falta de tratamento aqui no município. “O clamor é antigo pela implantação de um hospital do câncer em Marabá. Vamos continuar lutando para que este sonho seja realizado. O governador prometeu uma ala de oncologia no Hospital Regional em 2022 e esperamos que essa promessa seja cumprida”.

Elza Miranda disse que é importante insistir na prevenção e no diagnóstico permanente e clamou as mulheres para que exercitem o toque nas mamas para sentir se há algo diferente. Cada uma de nós precisa ser responsável pelo seu próprio diagnóstico. Temos grandes médicos oncologistas em Marabá, mas não temos estrutura para cuidar de nós, mulheres”.

Disse que uma filha dela teve câncer de mama e precisou sair de Marabá para fazer uma mastectomia. “Não é fácil uma mulher ficar sem uma mama. Há um problema psicológico terrível. No máximo coloca-se uma prótese para parecer uma mama. O pós da quimioterapia deixa a pessoa acabada. Então, queridas mulheres, engajadas ou não em movimentos sociais, vamos nos preocupar cada vez mais com essa doença e com nosso corpo”.

Para a Mesa Diretora, foram convidados, ainda, Priscila Veloso, ex-vereadora e secretária-adjunta de Assistência Social de Marabá; Júlia Rosa, ex-vereadora, coordenadora da Coordenadoria da Mulher de Marabá; Cláudia Cilene Alves de Araújo, presidente do Conselho Municipal dos Direitos da Mulher de Marabá; Gilmara Neves, coordenadora geral do Fórum da Mulher de Marabá; Irizan Silva, secretário municipal de Saúde; e Rosalina Isoton, presidente do Grupo de Mulheres Arco Íris da Justiça.

Irizan Silva, secretário interino de Saúde, número de mulheres com câncer de colo do útero no Pará ultrapassa 4 mil pessoas e disse que é preciso organizar a rede, porque há dificuldade de concluir tratamento. “Há muitas mulheres que iniciaram tratamento e não terminaram, o que é preocupante. Precisamos levantar dados e criar metas de trabalho para combater essa doença em nosso município”.

Rosalina Isoton disse que Marabá precisa focar na prevenção para que as mulheres não morram de câncer de mama e de útero, às vezes por falta de atendimento na rede municipal, com diagnóstico rápido, até mesmo com exames específicos.

“Nossas mulheres estão morrendo. Estamos perdendo pessoas preciosas para o câncer, que poderiam estar aqui entre nós. Não estamos dando a devida atenção a essa situação”.

 

Oncologista luta por  tratamento pelo SUS

 

O médico cirurgião oncologista Rodolfo Amoury apresentou uma palestra durante a sessão solene do Outubro Rosa na Câmara Municipal e lembrou que desde 2005 tenta implantar um serviço do SUS em Marabá que contemple a oncologia. “Reuni com todos os secretários de saúde do município e do Estado para apresentar a demanda. No início, saía empolgado das reuniões, mas depois as coisas não avançavam. Mas nunca desisti”.

Ele recorda que em 2022 completará uma década que Marabá conta com tratamento de câncer, mas na rede privada. “Nosso serviço visava alcançar o SUS para servir ao setor público, para oferecermos atendimento em Marabá. Parei de ter expectativa positiva e parei de postar para não passar por mentiroso”, desabafou.

Rodolfo disse em sua palestra que falta campanha de informação, mas percebe que, atualmente, há uma arma muito poderosa, que são as redes sociais. “Existe uma expectativa que em 2030 o câncer seja a maior causa de morte no planeta”, alertou.

Ele falou da dificuldade de acesso ao tratamento de câncer no interior do país e que, por isso, é preciso que o paciente se cuide.

Lembrou que a população de Marabá, atualmente, é de 287 mil habitantes e que os serviços relacionados ao câncer são mamografia, ultrassonografia, ressonância, biópsia e tratamento oncológico.

Curiosamente, em todo o Pará, há apenas quatro centros de tratamento, que oferecem serviços de quimioterapia e radioterapia, sendo um em Tucuruí, 2 em Belém e 1 em Santarém. “Só no Pará caberiam mais 12 centros para prestar esse serviço. Nosso papel é informar para os pacientes as opções que têm e avaliar as alternativas para minimizar os investimentos”, disse Rodolfo Amoury.

 

Regulação depende de vaga que não está aqui”, diz Júlia

A ex-vereadora e atual coordenadora da Coordenadoria da Mulher de Marabá, Júlia Rosa, elogiou a Câmara Municipal por sempre abrir o Parlamento para ouvir a diferentes vozes. “Esta Casa, na pessoa de seu presidente e demais vereadores, compreenderam que a sociedade quer que a política da mulher seja intersetorial e transversal, que precisa acontecer em todos os níveis.

Ela fortaleceu o argumento de que o governo do Estado precisa implantar serviço de tratamento de câncer em Marabá, que é polo para a região sudeste do Estado. “Sei que há dificuldades na regulação, mas que depende da vaga que não está aqui. Dependemos de Belém e precisamos enxergar essa realidade porque precisamos avançar”.

Júlia Rosa: “Sociedade quer que a política da mulher seja intersetorial e transversal”

Priscila Veloso, secretária adjunta de Assistência Social, falou que é importante compartilhar histórias de luta e superação de mulheres que enfrentaram e venceram o câncer. “Me sinto honrada representando o prefeito Tião Miranda. A forma como ele gosta de abraçar é trabalhando, com sua dedicação diária, ouvindo em seu gabinete as necessidades e discutindo as soluções com o secretariado”, disse Priscila.

(Ulisses Pompeu)