Reunidos na área de convivência da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), alguns jovens universitários foram convidados pela equipe do CORREIO a debater sobre questões como segurança, educação, e mercado de trabalho, com o intuito de ter uma pequena amostra do que os acadêmicos sonham para o futuro de Marabá e como pretendem contribuir para o desenvolvimento da cidade. A percepção dos entrevistados sobre as causas do alto índice de violência no município foi o tema mais recorrente, seguida da falta de uma educação de qualidade.
William Victor, 18 anos, estudante do primeiro ano do curso de Direito, afirma que atualmente a violência não está restrita somente aos bairros mais afastados. “Hoje em dia já é comum vermos pessoas sendo abordadas por assaltantes até no centro da cidade onde, teoricamente, a segurança deveria estar mais presente. Uma amiga foi assaltada num domingo de manhã, na Avenida Nagib Mutran, em frente a um hospital, em plena luz do dia. O local é muito movimentado, mas quase não se vê policiamento”.
Ele diz que a própria universidade sofre com a insegurança. “A Unifesspa possui segurança na parte interna, mas os guardas estão ali para evitar algum tipo de depredação do prédio e não para evitar assaltos ou proteger alunos, professores e funcionário”, observa.
Leia mais:A principal preocupação é com os alunos do turno da noite cuja as aulas se estendem até as 22 horas. “Quem garante que teremos algum tipo de segurança do portão para fora? Será que é seguro ficar na parada de ônibus aguardando o transporte? E quem vai para casa a pé? Se for embora de bicicleta ou moto, corro perigo de ser roubada?”, questiona a estudante Maria Eduarda Nogueira, 18 anos.
#ANUNCIO
Os acadêmicos foram convidados a sugerir o que poderia ser feito ou que soluções deveriam ser tomadas, tanto pela instituição quanto pelo poder público, para que a segurança no Campus fosse mais efetiva. Maurício Frank, 22 anos, estendeu o debate para além da instituição.
Ele opina que a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Segurança Pública Institucional (SMSI), deveria solicitar aos órgãos competentes um aumento no número de guardas municipais e até mesmo da Polícia Militar para tentar garantir o mínimo de segurança.
“Precisamos ter rondas ostensivas por toda a cidade, independentemente se é bairro periférico ou não. Além disso, o policiamento precisa ser feito nos horários de pico de entrada e saída das universidades, escolas e empresas de médio e grande porte, por exemplo, já que a maioria dos funcionários não possue transporte próprio”, avalia Mauricio.
Educação
Quanto a qualidade do ensino nas escolas públicas, para os alunos da Unifesspa ouvidos pelo Correio não existe fórmula mágica e sim estratégias já conhecidas, mas ainda não amplamente aplicadas. Dando como exemplo um caso ocorrido em uma escola estadual, Mauricio afirma que há um certo abandono por parte do governo da rede de ensino médio, não só em Marabá.
“A Escola Gaspar Viana foi tida como reformada, mas na verdade só lixaram e passaram uma tinta nas paredes. Neste período de chuva, as salas estão cheias de mofo e o mato tomando de conta da quadra que era para ser de esportes. Nossa educação pública está abandonada”, declara.
William comentou que, certa vez, um professor dele trabalhou como coordenador pedagógico de uma escola municipal e relatou a história em sala de aula. “Antes de iniciar o ano letivo, ele [professor] e a diretora da escola se reuniram para fazer o planejamento letivo. Planejaram reformar as carteiras, trocar os quadros e pintar as paredes, porém, quando a verba chegou viram que o valor foi de apenas 4 mil reais. Ou seja, o salário do coordenador era maior que a verba municipal destinada a escola naquele ano”.
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Professores precisam ser mais valorizados, opinam alunos
Questionados sobre a qualidade do ensino público, os alunos ouvidos pelo Correio apontaram a desvalorização do professor como um dos principais motivos para o alto índice de evasão nas escolas públicas, inclusive as de nível superior. “Baixa remuneração desmotiva qualquer trabalhador a seguir carreira, por mais apaixonado que ele seja pela profissão”, afirma Maria Eduarda.
Indagados se conheciam algum jovem em seus respectivos cursos que sonhasse seguir a carreira de professor, eles afirmaram que não, e ainda sentenciaram. “Os professores do futuro serão aquelas pessoas que fizeram uma faculdade, não conseguiram o emprego desejado e acabaram se tornando professor não por amor, mas por falta de opção”.
“No Brasil, o sonho dos pais é que os filhos se tornem médicos, engenheiros, advogados ou jogadores de futebol. Em países de primeiro mundo, como a Coréia do Sul, o maior sonho de um pai é ver seu filho se tornar professor. É uma profissão altamente valorizada e bem remunerada”, comenta Maurício.
Maria Eduarda acredita que aumentar o salário dos professores não irá resolver o problema da educação. “São várias mudanças que precisam ser feitas, como bons salários, alimentação, estrutura física adequada, como bibliotecas, laboratórios, quadra de esportes, interação com a comunidade, além de oferecer atividades extracurriculares, como aulas de música, balé ou teatro”.
Apesar de divergirem em alguns aspectos, os alunos ouvidos pela reportagem apontam que o ensino público precisa de mais recursos para investimentos em estrutura, contratação de mais educadores e qualificação continuada para os que já exercem a profissão.
“A educação é o ponto de partida de tudo. Crianças na escola, estudando e aprendendo coisas novas, não estarão nas ruas. É preciso que nossos governantes tenham consciência que ao investir na educação, consequentemente, haverá uma melhoria considerável na segurança”, afirma Eduarda.
“Com a educação, é possível formar a personalidade e fazer com que o indivíduo desenvolva seu saber, se socialize, se liberte, se comunique e se oriente. Começando da base, no ensino infantil, poderemos ser capazes de nos transformar em uma sociedade melhor”, emenda Maurício.
“A educação de qualidade é capaz de lutar contra a pobreza, auxiliar na proteção ao meio ambiente, amenizar a violência de uma cidade, dar acesso a direitos e permitir a compreensão do mundo”, finaliza Frank.
(Ana Mangas)
Reunidos na área de convivência da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), alguns jovens universitários foram convidados pela equipe do CORREIO a debater sobre questões como segurança, educação, e mercado de trabalho, com o intuito de ter uma pequena amostra do que os acadêmicos sonham para o futuro de Marabá e como pretendem contribuir para o desenvolvimento da cidade. A percepção dos entrevistados sobre as causas do alto índice de violência no município foi o tema mais recorrente, seguida da falta de uma educação de qualidade.
William Victor, 18 anos, estudante do primeiro ano do curso de Direito, afirma que atualmente a violência não está restrita somente aos bairros mais afastados. “Hoje em dia já é comum vermos pessoas sendo abordadas por assaltantes até no centro da cidade onde, teoricamente, a segurança deveria estar mais presente. Uma amiga foi assaltada num domingo de manhã, na Avenida Nagib Mutran, em frente a um hospital, em plena luz do dia. O local é muito movimentado, mas quase não se vê policiamento”.
Ele diz que a própria universidade sofre com a insegurança. “A Unifesspa possui segurança na parte interna, mas os guardas estão ali para evitar algum tipo de depredação do prédio e não para evitar assaltos ou proteger alunos, professores e funcionário”, observa.
A principal preocupação é com os alunos do turno da noite cuja as aulas se estendem até as 22 horas. “Quem garante que teremos algum tipo de segurança do portão para fora? Será que é seguro ficar na parada de ônibus aguardando o transporte? E quem vai para casa a pé? Se for embora de bicicleta ou moto, corro perigo de ser roubada?”, questiona a estudante Maria Eduarda Nogueira, 18 anos.
#ANUNCIO
Os acadêmicos foram convidados a sugerir o que poderia ser feito ou que soluções deveriam ser tomadas, tanto pela instituição quanto pelo poder público, para que a segurança no Campus fosse mais efetiva. Maurício Frank, 22 anos, estendeu o debate para além da instituição.
Ele opina que a Prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Segurança Pública Institucional (SMSI), deveria solicitar aos órgãos competentes um aumento no número de guardas municipais e até mesmo da Polícia Militar para tentar garantir o mínimo de segurança.
“Precisamos ter rondas ostensivas por toda a cidade, independentemente se é bairro periférico ou não. Além disso, o policiamento precisa ser feito nos horários de pico de entrada e saída das universidades, escolas e empresas de médio e grande porte, por exemplo, já que a maioria dos funcionários não possue transporte próprio”, avalia Mauricio.
Educação
Quanto a qualidade do ensino nas escolas públicas, para os alunos da Unifesspa ouvidos pelo Correio não existe fórmula mágica e sim estratégias já conhecidas, mas ainda não amplamente aplicadas. Dando como exemplo um caso ocorrido em uma escola estadual, Mauricio afirma que há um certo abandono por parte do governo da rede de ensino médio, não só em Marabá.
“A Escola Gaspar Viana foi tida como reformada, mas na verdade só lixaram e passaram uma tinta nas paredes. Neste período de chuva, as salas estão cheias de mofo e o mato tomando de conta da quadra que era para ser de esportes. Nossa educação pública está abandonada”, declara.
William comentou que, certa vez, um professor dele trabalhou como coordenador pedagógico de uma escola municipal e relatou a história em sala de aula. “Antes de iniciar o ano letivo, ele [professor] e a diretora da escola se reuniram para fazer o planejamento letivo. Planejaram reformar as carteiras, trocar os quadros e pintar as paredes, porém, quando a verba chegou viram que o valor foi de apenas 4 mil reais. Ou seja, o salário do coordenador era maior que a verba municipal destinada a escola naquele ano”.
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Professores precisam ser mais valorizados, opinam alunos
Questionados sobre a qualidade do ensino público, os alunos ouvidos pelo Correio apontaram a desvalorização do professor como um dos principais motivos para o alto índice de evasão nas escolas públicas, inclusive as de nível superior. “Baixa remuneração desmotiva qualquer trabalhador a seguir carreira, por mais apaixonado que ele seja pela profissão”, afirma Maria Eduarda.
Indagados se conheciam algum jovem em seus respectivos cursos que sonhasse seguir a carreira de professor, eles afirmaram que não, e ainda sentenciaram. “Os professores do futuro serão aquelas pessoas que fizeram uma faculdade, não conseguiram o emprego desejado e acabaram se tornando professor não por amor, mas por falta de opção”.
“No Brasil, o sonho dos pais é que os filhos se tornem médicos, engenheiros, advogados ou jogadores de futebol. Em países de primeiro mundo, como a Coréia do Sul, o maior sonho de um pai é ver seu filho se tornar professor. É uma profissão altamente valorizada e bem remunerada”, comenta Maurício.
Maria Eduarda acredita que aumentar o salário dos professores não irá resolver o problema da educação. “São várias mudanças que precisam ser feitas, como bons salários, alimentação, estrutura física adequada, como bibliotecas, laboratórios, quadra de esportes, interação com a comunidade, além de oferecer atividades extracurriculares, como aulas de música, balé ou teatro”.
Apesar de divergirem em alguns aspectos, os alunos ouvidos pela reportagem apontam que o ensino público precisa de mais recursos para investimentos em estrutura, contratação de mais educadores e qualificação continuada para os que já exercem a profissão.
“A educação é o ponto de partida de tudo. Crianças na escola, estudando e aprendendo coisas novas, não estarão nas ruas. É preciso que nossos governantes tenham consciência que ao investir na educação, consequentemente, haverá uma melhoria considerável na segurança”, afirma Eduarda.
“Com a educação, é possível formar a personalidade e fazer com que o indivíduo desenvolva seu saber, se socialize, se liberte, se comunique e se oriente. Começando da base, no ensino infantil, poderemos ser capazes de nos transformar em uma sociedade melhor”, emenda Maurício.
“A educação de qualidade é capaz de lutar contra a pobreza, auxiliar na proteção ao meio ambiente, amenizar a violência de uma cidade, dar acesso a direitos e permitir a compreensão do mundo”, finaliza Frank.
(Ana Mangas)