Correio de Carajás

Má alimentação: País ainda não come como deveria

Falta de tempo, dinheiro ou opção. Essas são as respostas mais comuns usadas pelo brasileiro para justificar o consumo de salgados e lanches na hora do almoço, ou até a comilança de doces entre as refeições. O cenário é preocupante e mostra que a má alimentação está cada vez mais presente no cotidiano dos brasileiros, contribuindo para o crescimento do número de pessoas obesas, que chega a quase 20% no país.

Quanto ao sobrepeso, os dados são piores, com mais da metade da população (54%) pesando acima do que deveria, conforme mostra a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel), divulgada este ano pelo Ministério da Saúde.

A quantidade de jovens obesos também assusta, já que saltou de 110% entre 2007 e 2017. Para a nutricionista Thaynara Santana Reis, as pessoas precisam entender que a prevenção é o melhor caminho, lembrando que muitos pacientes só procuram ajuda profissional quando desenvolvem patologias.

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Segundo ela, as pessoas, de fato, estão mais preocupadas com o que consomem, no entanto, elas só decidem mudar quando chegam a um quadro de problemas como colesterol alto, hiperglicemia e diabetes, por exemplo. A especialista destaca que a obesidade infantil, neste contexto, também é preocupante.

“Como modernidade, as nossas crianças estão ficando cada vez mais no computador ou celular, e dificilmente praticam atividades físicas, como jogar bola”. O último estudo realizado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que cerca de 41 milhões de crianças, menores de cinco anos, estão acima do peso em todo o mundo.

Embora não haja um estudo específico que indique o número de crianças obesas em cada município brasileiro, Thaynara estima que a cada 10 crianças atendidas por ela no posto de saúde Enfermeira Zezinha, na Folha 23, Nova Marabá, oito estão com sobrepeso. “Essas crianças obesas vão ser idosos com problemas de saúde, hipertensão, obesidade”.

Para a nutricionista, as crianças deveriam ter aulas sobre educação nutricional, desde bem pequenas. “Para que aprendessem a ter uma alimentação mais saudável, porque hoje fica difícil quando as mães chegam ao posto de saúde ou no consultório e dizem que o filho não come isso ou aquilo”.

Ela ressalta ainda que é importante que os pais incentivem e convençam os filhos a comer verduras, legumes, frutas. “Sempre recomendo a eles: aquilo que você não quer que o seu filho coma, não compre, porque se tiver em casa ele vai comer”. Além das crianças, o público mais atendido por ela é formado por adolescentes obesos, mulheres jovens e idosos com problemas relacionados com diabetes e hipertensão.

TRATAMENTO

Para Thaynara, a reeducação é o melhor caminho para combater a obesidade e o sobrepeso, ao contrário das dietas baixadas da internet. “Porque dieta você engaveta e a reeducação alimentar não. Você cria novos hábitos alimentares, que são saudáveis”, afirma, acrescentando que pode até haver resistência no início da mudança, porém, com o tempo as pessoas conseguem se habituar.

“O caminho não é buscar essas dietas na internet, mas o profissional para orientar”. A nutricionista completa que gosta de trabalhar em conjunto com psicólogos. “Muitas vezes os pacientes têm transtornos que precisam ser tratados, como a ansiedade. Então, uma abordagem multidisciplinar costuma dar bons resultados”, finaliza.    (Nathália Viegas)

SAIBA MAIS

A Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção de Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) foi realizada com maiores de 18 anos em 26 capitais e no Distrito Federal.