Correio de Carajás

Lixão a céu aberto vira dilema em Rondon do Pará

Coleta de lixo é insuficiente para atender a demanda. Terreno baldio se torna plano A para os moradores, enquanto chorume e odor forte se espalham

Lixão no Bairro Miranda, em Rondon do Pará, causa odores fortes e irrita os moradores

Algumas práticas de cuidado, ainda que pequenas, poderiam contribuir diretamente com o meio ambiente, seja no descarte do lixo ou no trabalho de reciclagem. É interessante pensar que esse cuidado é indispensável. Segundo a Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), no Brasil existem mais de 3 mil municípios que mantêm lixões a céu aberto, sendo 390 na região Norte. Desses, 134 estão localizados no Pará, conforme aponta o levantamento realizado em 2020 pela Associação Brasileira de Empresas de Tratamento de Resíduos e Efluentes (Abetre).

Os lixões a céu aberto são uma forma inadequada de descartar os resíduos. É uma disposição simples em que todos os resíduos são jogados diretamente no solo, a céu aberto, sem nenhuma proteção com a saúde pública ou com o meio ambiente, o que já é considerado inadequado, justamente por não haver proteção e garantia de que não haverá danos à saúde das pessoas. Há muitos perigos por trás desses descartes irregulares, além da poluição atmosférica, do solo e dos rios. O lixo depositado a céu aberto atrai moscas, baratas, ratos e pode trazer consequências ainda mais perigosas, como doenças.

Rondon do Pará é uma das cidades da região Norte que enfrentam essa problemática, com ocorrência de lixão a céu aberto no bairro Miranda, que dá acesso ao bairro Jaderlândia.

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Os detritos de toda natureza estão sendo depositados em um terreno baldio, onde se misturam tanto orgânico (restos de alimentos) quanto inorgânicos (plásticos, vidros, restos de sofá, garrafas pet, papelão, de materiais para construção e até animais em estado de decomposição). O vento fica responsável por espalhar o mau cheiro por toda a região e irritar os moradores.

Maria Madalena é residente antiga do bairro Miranda e diz que o se arrasta há vários anos. “Sempre morei aqui, e desde que me entendo por gente esse problema já existe”.

Segundo ela, o veículo coletor de lixo da Prefeitura de Rondon do Pará passa somente às segundas-feiras pela manhã e existem alguns tipos de detritos que o mesmo não recolhe. “O lixo do dia a dia é pouco, é mais de banheiro, de cozinha, mas quando tem algo grande para descartar, não tem jeito, jogamos no lixão, todo faz isso”, confessa.

Vanderson Ferreira morou próximo ao lixão durante dois anos e se mudou do endereço por conta do cheiro desagradável que lhe incomodava todos os dias. “A gente se sentia esquecido, até porque a coleta não era feita por conta de um buraco que havia na rua. O odor era bem forte, incomodava bastante, e também atraía muitos insetos”, recorda Vanderson.

Há quem prefira não transitar pelo local. É o caso de Bruno Silva, morador do bairro Miranda, que diz preferir não passar pela rua, apesar de encurtar caminho para seus principais destino. “Geralmente há muitas vezes fumaça porque ateiam fogo no entulho. Eu prefiro andar por outro acesso se puder escolher”.

DESRESPEITO DA POPULAÇÃO

Bruno Scalzer, secretário adjunto da Secretaria de Obras da Prefeitura de Rondon do Pará, explica que há dois veículos coletores de lixo que se dividem em duas rotas. Pela manhã, eles percorrem o perímetro da avenida principal da cidade para baixo e outro da avenida pra cima. Há uma rota que, segundo ele, é cumprida pelos dois veículos para atender toda a cidae.

Sobre o ponto a existência de um lixão a céu aberto dentro da cidade, Scalzer alega que a Secretaria de Obras realizou duas limpezas no local em 2022. “Já retiramos o lixo, carregamos e deixamos limpo, mas a população sempre volta a jogar mais” completou. Para ele, a maior dificuldade está sendo o desrespeito por parte dos moradores, pois o serviço de limpeza é realizado de forma adequada pela gestão municipal, mas ainda assim voltam a jogar. “Inclusive estamos com esse problema em outros lugares. Então, tentamos fazer acordos para tentar amenizar a situação. Neste outro caso, entramos em contato com o proprietário do terreno baldio para que fosse isolado completamente” pontuou Scalzer.

Segundo o secretário, o carro faz a coleta de todo o tipo de lixo residencial. Em relação aos entulhos de materiais para construção, de galhadas ou de lixos maiores, é recomendado o contrato particular de contêiner, onde o solicitante paga uma taxa de R$61,50 por 24 horas.

A Secretaria de Obras conta com um carro menor, que também possui compactador. Para este, a população pode solicitar suporte que, dependendo da quantidade de lixo, a prefeitura recolhe gratuitamente. “E para quem não tem condições de pagar contêiner, a solução apontada por Bruno Scalzer é colocar o lixo na porta, e após o término da limpeza, ou da construção, o carro menor passa retirando o material”.

Thiago Barbosa é gestor ambiental e atua na Secretaria de Meio Ambiente do município. Segundo ele, as medidas adotadas para a redução da quantidade de resíduos a céu aberto fazem parte do Programa Municipal de Coleta Seletiva, e garante que será feita a recuperação dessas áreas. Sobre o trabalho de educação ambiental junto à população, Barbosa diz que a conscientização está sendo feita por meio do rádio e das redes sociais da Secretaria de Meio Ambiente, por meio do projeto “Recicla Rondon”, que iniciou em julho deste ano.

O gestor ambiental diz que o maior desafio da secretaria agora é a implantação da coleta seletiva, como parte da consolidação das obras do Centro de Tratamento de Resíduos da cidade,

Em relação ao “Recicla Rondon”, criado em julho deste ano, Thiago sustenta que se trata de um dos 10 projetos o Programa Municipal de Saúde Coletiva, que objetiva a disseminação do conhecimento acerca da gestão dos resíduos sólidos, afim de criar familiaridade das pessoas com o tema, facilitando o trabalho de implantação de coleta seletiva”. “Estamos engajados para a implantação da coleta seletiva, é nossa meta para esse final de gestão”, finaliza.

Especialista explica diferença entre lixo e resíduos sólidos

 

Poliana Costa é doutora em Ciência e Tecnologia Ambiental. Ela pontua que para evitar os descartes de resíduos a céu aberto, seria necessário um programa de gestão de resíduos sólidos. “O programa inclui toda a parte de usina de triagem de resíduos sólidos, onde é realizada a separação desses resíduos e dos recicláveis para a venda”.

A especialista pontua a necessidade de um aterro sanitário para que sejam dispostos os rejeitos que não têm possibilidade de uso, reuso ou aproveitamento, e ressalta a importância da colaboração da sociedade.

Existe uma diferenciação entre lixo e resíduos sólidos. Segundo a especialista, resíduos sólidos são reutilizáveis e rejeitos são materiais que não existem mais possibilidade de uso. “Há essa diferenciação porque os resíduos sólidos podem ser reciclados, e os rejeitos não”, orienta.

Poliana Costa alerta sobre os dilemas decorrentes dessa situação de descartar lixo em local inapropriado. “Os principais problemas do acúmulo a céu aberto estão relacionados à disposição dos locais inadequados, que acabam atrapalhando o saneamento, e por estarem expostos provocam doenças que podem contaminar o ser humano” concluiu. (Mauremila Andrade – acadêmica de Jornalismo no Câmpus da Unifesspa em Rondon do Pará)