A propósito da Exposição Labirintos da Fauna, escolhemos seis personalidades ligadas à cultura, arte e educação de Marabá para dar opinião sobre a nova fase da artista plástica Vitória Barros. Abaixo, o leitor pode acompanhar o que eles disseram, mas também tem a oportunidade de assistir a vídeos nas redes sociais do Portal Correio de Carajás com depoimentos de outras pessoas.
A Vitória nunca deixou de criar arte
Leia mais:“Eu acho que essa exposição, “Labirintos da Fauna”, tem um encantamento muito grande porque as obras são belas. Mas à medida que as pessoas vão ficando um pouco mais atentas ao conteúdo, vão comentando umas com as outras, se envolvendo mais um pouco com essas obras, ocorrendo um estranhamento com esse conteúdo que a Vitória traz, relacionado à violência com a natureza.
A Vitória passou um tempo sem produzir pinturas, especificamente, mas ela nunca deixou de criar. Ela pintou com bastante intensidade e nessa mesma temática das árvores, entre 2000 e 2005. Depois deixou isso em stand by e começou a trabalhar com outras linguagens. Depois desse período, ela trabalhou com outros materiais, outros objetos que eram os mapas e documentos que também faziam parte do cotidiano dela como geógrafa.
Mas a pintura é algo que ela está retornando agora, depois de 20 anos. É muito tempo. Acho que é um retorno legal porque a pintura é muito diferente de você trabalhar com mapa etc. Parte desse tempo longe da pintura ela passou cuidando de seu parceiro, e com isso gastou muita energia emocional, afetiva e depois o sofreu uma perda.
Eu acho que a pintura tem esse caminho de cura, de cuidado, de introspecção. Percebo que a Vitória Barros sempre utilizou essa paleta de cores, meio suave, que traz um pouco esses sentimentos mais profundos”.
Uma das exposições mais vibrantes que já presencie
“Eu acho que há um despertar da Vitória, para a questão ambiental que é muito importante. Esse colorido me chamou muito a atenção, logo de cara. Esta é uma das exposições mais vibrantes que eu já presenciei aqui. Eu acho que nós estamos vivendo urgências climáticas tão importantes, tão fundamentais, que este é um tema – vide a presença de tanta gente aqui – que por si só já chama a atenção, então o impacto é esse. Eu ando muito preocupado com a questão ambiental, com o corte indiscriminado de árvores na cidade, então creio que essa exposição veio em boa hora.
Acredito que exposições artísticas com essa finalidade, com essa abordagem, são importantes à medida que também são educativas e podem ser levadas às escolas ou os estudantes serem trazidos para cá. Nós temos o dever de preparar o planeta para quem vai geri-lo daqui a pouco, que são as crianças. Eu tenho lido a respeito das próximas gerações e a percepção, para a questão ambiental, é muito mais aguçada nessas crianças e a ideia é que a partir de, por exemplo, do consumo de carne vermelha, que deve reduzir com essas próximas gerações, com certeza o nosso planeta pode ter uma sobrevida maior, talvez, com uma gestão ambiental melhor”.
Exposição dialoga com a COP-30
“Nesse momento em que o mundo se prepara para a realização da COP-30 aqui na Amazônia, essa exposição se antecipa, lembrando também dos problemas climáticos que nós temos aqui, que acontecem nesse período. Eu acho que essa exposição vem retratar um pouco esse contraste, tanto da importância da preservação da nossa fauna, da nossa flora, como algumas obras expostas retratam – mas também com esses impactos que são ocasionados junto ao meio ambiente, as queimadas que geram devastação.
Essa coletânea que vemos nessa exposição é o conjunto e faz a gente também se reportar à Amazônia e lembrar da importância desse ecossistema, não só a nível de preservação, mas também do nosso bem-estar. E a gente fica aqui de certa forma muito lisonjeado de estar presenciado uma exposição tão bela quanto essa. Eu ainda não tinha vindo aqui na Galeria Vitória Barros após a reforma do espaço. Além de ser uma exposição belíssima, é um lugar também muito aconchegante, o que encanta qualquer visitante que venha aqui”.
“Com essa exposição,a Vitória se reinventou”
“Eu só tenho que parabenizar, porque esse é um momento festivo. Marabá vem se fortalecendo no campo artístico. A Galeria Vitória Barros é um lugar especial nesta cidade, com vários ambientes, várias propostas. Com essa exposição, creio que a Vitória se reinventou, está cada vez mais antenada com o meio ambiente.
A exposição está fantástica, as pessoas precisam vir conhecer essa nova fase da Vitória Barros, que nos expressa muita energia, uma vibração incrível, tanto com as telas quanto com as instalações que vemos nos demais espaços.
A gente percebe que essa exposição foi feita com muito carinho, muito cuidado, muito apreço e tomou bastante tempo da artista. Aqui ela nos leva a um diálogo com natureza, nos faz refletir sobre o uso da água.
A temática da preservação sempre bate muito forte na arte da Vitória Barros e agora mais do que nunca você está vendo a obra dela viva, saltando das telas e nos instigando. Creio que este é o momento de nos voltarmos para a nossa casa, que é a Amazônia, de sermos protagonistas conscientes deste território que ocupamos. E através da sua arte, a artista tem mostrado que a gente precisa fazer um enfrentamento para preservar a nossa Amazônia, a nossa natureza, a nossa casa”.
“Ela transformou a degradação em arte”
“O que mais chamou minha atenção nesta exposição foi a sensibilidade. A Vitória tem muita sensibilidade, mas o trabalho que ela fez com os tons, com as cores, ao olhar para a degradação da natureza, conseguiu retratar isso e eu, sinceramente, consegui me transportar para aquele momento que ela retratou.
Quando eu vejo as imagens, sejam as fotografias, as pinturas, aquela seção que é o chão da floresta, onde ela conseguiu uma quantidade enorme de sementes, de galhos, mostra pra gente a riqueza que está sob o risco de destruição, de degradação e ela transformou isso em arte, o que é muito interessante”.
Exposição com paleta de cores surpreendente
“Eu participei da exposição inaugural da Galeria Vitória Barros, há 21 anos, e acompanho o trabalho da Vitória, inclusive essa série de pinturas eu tive a oportunidade de ver no ateliê uns meses atrás e era uma série que eu não conhecia, pelas nossas circunstâncias de vida, distância, viagens, eu não acompanhava de perto o trabalho da Vitória por um bom tempo.
Fiquei muito contente de ver no ateliê esse material, eu já tinha visto essa preocupação dela sobre a questão do bioma da mata ciliar do encontro dos rios, no entorno do local onde ela reside, mas era em caráter mais documental. Acredito que, através da pintura, dessa linguagem plástica, realmente o trabalho chegou em uma espécie de síntese dessas questões.
Todo artista, de um modo ou de outro, está atento ao que ocorre no mundo e essas afetações reverberam no que a gente faz. É fundamental que a gente resolva isso no trabalho, de maneira coerente, consistente e no campo da linguagem que a gente se dedica a fazer, que é arte visual. Creio que a Vitória encontrou o tom para expressar essas inquietações na linguagem da pintura, por exemplo.
Claro, a exposição é bem mais abrangente, há as esculturas das árvores, que é um trabalho de longa data, que sempre achei muito potente bonito. São instalações, inquietações e, também, o artista pensa antes, durante e depois, e há a instância da intuição nesse meio tempo todo.
A exposição nos traz uma paleta de cores surpreendente, tem um assunto e ao mesmo tempo o assunto não se sustenta se não tiver a competência da linguagem, e ela tem técnicas e procedimentos diversos. Essa paleta inusitada ao mesmo tempo fala de drama, tragédias, conflitos, problemas, e depois tem uma paleta alegre e muito peculiar a meu ver. Bonito, exuberante no sentido de transmutar um problema em beleza, que também é um problema da gente”.