Duas estudantes do curso técnico em meio ambiente da cidade de Jacundá produziram um relatório que deve ser levado muito a sério pelas autoridades do assunto. O consumo de água extraída de poços do tipo cisterna, aqueles escavados no fundo do quintal, geralmente próximos a alguma fossa séptica, põe em risco à saúde dos moradores. De todas as amostras analisadas durante o período avaliado, constatou-se que a totalidade dos poços está contaminada com coliformes fecais. O trabalho teve a supervisão da professora e geógrafa Maria Dalva Cruz Luz, especialista em meio ambiente e uma das figuras mais renomada no assunto.
Leticia Oliveira Ramos e Raiane Rosa Costa foram ao campo para conhecer de perto a situação dos poços do tipo escavado, o mais comum para captação de água do lençol freático. “A maioria dos poços construídos por meio de uma escavação manual do solo tem diâmetro de aproximadamente um metro e recebe a denominação técnica de poço raso ou poço freático”, explica Raiane.
Segundo o estudo, do quatorze poços analisados, doze são do tipo raso com a profundidade em média de 10 m a 15 m. “A profundidade dos poços é uma das características que podem estar relacionada à qualidade da água. Entende-se que uma maior profundidade pode reduzir a possibilidade de contaminação por substâncias que possuem baixa mobilidade no solo, a contaminação das águas por fossas, deposição inadequada de lixo e de água servida a céu aberto”, cita a estudante Letícia, observada pela professora.
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Em Jacundá a carência de abastecimento público de água potável torna a perfuração de poços uma prática frequente, sobretudo, nos bairros mais distantes do centro da cidade. Esses poços não apresentam proteção adequada capaz de evitar a contaminação externa de suas águas. “Cerca de 70% dos poços analisados possuem tampa e calçamento em seu entorno, enquanto que 30% estão mais vulneráveis a contaminação”, completa Raiane.
Na opinião de 78% dos consumidores dos poços pesquisados, se a água do poço estiver limpa, sem sabor e sem cheiro já é suficiente para ser considerada de boa qualidade. É o caso do morador José Nita, do Bairro Santa Rita. “Não tenho muita preocupação, apenas quando a água tá suja”, diz ele. “O fato de a água subterrânea ser considerada, na maioria das vezes de boa qualidade, impede que os consumidores tratem essa água, pelo menos por um processo de desinfecção, o que certamente minimizaria o risco de veiculação de enfermidades”.
Com a falta de um Laboratório, Jacundá depende do município de Marabá para fazer as análises de água, o que implica num acompanhamento técnico. Mas, as estudantes quiseram aprofundar mais no assunto. E visitaram uma unidade escolar. No Bairro Novo Horizonte está localizada a Escola Ester Andrade. “A Coordenadora que trabalha nesta escola há 3 anos explicou que não há nenhum tipo de tratamento na água do poço, mesmo assim é consumida pelos alunos, porém, não pelos funcionários”, diz Letícia.
A distância entre um poço e uma fossa asséptica deve ser de no mínimo de 15 metros, entre o poço e demais focos de contaminação, como chiqueiros, estábulos, valões de esgotos, galeria de infiltração, etc, a média é de 45 metros. “A maioria dos poços pesquisados possuem cerca de 10 metros de distância desses locais contaminantes. Essa distância pode comprometer o lençol d’água que alimenta o poço”, alerta a professora Dalva.
Mesmo com o alerta, população segue consumindo água de poços
Dos quatorzes poços analisados, treze apresentam presença de coliformes totais e cinco possuem coliformes termotolerantes. Mesmo com esses problemas de contaminação encontrados nas águas dos poços, a maioria da população local usa dessa água para consumo próprio e serviços domiciliares. Segundo o IBGE, 2014 cerca de 70% da população jacundaense utilizam da água desses poços para as suas atividades diárias, inclusive consumo.
Segundo informações do Hospital Municipal cerca de 68% dos exames dos pacientes possuem algum tipo de protozoários (ex.: ameba), helmintos, verminoses, etc. Raiane diz que “após esta pesquisa ficou claro que a água dos poços não possuem tratamentos adequados que promovam nossa saúde”.
As alunas dizem que “além das medidas de controle e tratamento realizadas pelos governos, existem algumas simples ações que você pode fazer para ajudar a minimizar os problemas ambientais: descarte seu lixo de maneira correta, diminuindo seu lixo, como também fazendo compostagem com seus resíduos orgânicos, prefira alimentos orgânicos, caso tenha horta ou plantação, não utiliza fertilizantes industriais e diminua o uso de pesticida. Não jogue qualquer lixo que contenha substâncias nocivas próximo dos poços, use a água corretamente e evite o desperdício”. (Antonio Barroso, freelancer)