É o inquérito policial conduzido pelo Departamento de Homicídios quem vai dizer. Mas tudo leva a crer que o indivíduo Edgilson Barbosa da Conceição, de 51 anos, mais conhecido como “Potente”, foi mais uma vítima da interminável guerra do tráfico de drogas em Marabá. Ele foi assassinado a tiros, esta semana, dentro da própria casa, no Bairro Araguaia, ocupação urbana da Nova Marabá.
Há indicativos de que “Potente” tinha ligação com o tráfico de drogas nessa região da cidade e, inclusive, já foi preso justamente por tráfico de entorpecentes, algum tempo atrás. Ele foi atingido por nada menos de seis disparos de arma de fogo, sendo dois no peito, três na cabeça e um no pescoço.
De acordo com os primeiros levantamentos feitos pela Polícia Civil no local, os moradores da região ouviram tiros por volta da meia-noite de terça-feira (28), mas não observaram movimentações suspeitas. No dia seguinte, não viram “Potente” sair ou chegar em casa. Foi então que decidiram entrar na residência dele (que morava só) e encontraram o corpo da vítima sobre o colchão e acionaram a polícia. Não havia sinais de arrombamento, tampouco indícios de subtração de bens.
Leia mais:“A Polícia Civil e o Centro de Perícias Científicas estiveram no local do crime, colhendo evidências e elementos de informação iniciais e temos um prazo de 30 dias para apresentar os resultados dessa investigação”, explicou o delegado Vinícius Cardoso das Neves, diretor da 21ª Seccional Urbana de Polícia Civil. Ele confirmou o indicativo de que “Potente” teria envolvimento com o tráfico.
A guerra do tráfico
Nas últimas décadas, as prisões motivadas por tráfico de drogas têm sido maioria no País. Basta uma olha rápida, por exemplo, no site da Polícia Militar do Pará, para constatar que uma em cada duas notícias de ações policiais no Estado se refere a crimes de tráfico.
Nesse contexto, Marabá funciona como um microcosmo dessa realidade nacional. As apreensões e prisões são cada vez mais frequentes. Por outro lado, são frequentes também os acertos de contas (assassinatos) motivados por isso.
Entre as vítimas estão traficantes, na guerra pela ocupação geográfica das bocas de fumo. Mas também há usuários de drogas que não pagam seus traficantes e acabam tendo o mesmo fim: a morte.
Há também que se destacar, ainda, que o tráfico de substâncias ilegais tem se configurado como dispositivo mobilizador de outros crimes, notadamente os furtos e roubos, pois os usuários, no afã de consumir drogas e alucinógenos, acabam vendendo, furtando ou roubando tudo que veem pela frente.
Historicamente, o Brasil intensifica cada vez mais o combate ao tráfico, ao mesmo tempo em que não faz investimento semelhante em programas de recuperação de viciados, deixando isso mais a cargo de entidades filantrópicas e religiosas. A única ação governamental grande no Pará fica por conta do PROERD, desenvolvido pela PM entre estudantes de escolas públicas. É uma exceção, que serve apenas para confirmar a regra do descaso do Brasil, em termos de políticas públicas neste sentido.
Sem debate
Também não há no País um debate técnico (afastado de ideologias políticas e religiosas) sobre a descriminalização de drogas, como já fizeram outros países, inclusive conservadores como os Estados Unidos, que em muitas de suas regiões, permite o uso recreativo de algumas substâncias, notadamente a maconha.
Ao mesmo tempo em se que registra essa inércia no atendimento à questão social das drogas, cresce a força das facções, que têm no tráfico o carro-chefe de suas atividades, em todos os rincões do País. “Potente” morreu esta semana. Quem será o próximo?
(Chagas Filho)