A baixa adesão do paraense à segunda dose da vacina contra a covid-19 poderá ser o maior empecilho à realização do Carnaval de 2022, destaca o médico infectologista Harbi Othman, de Marabá. Ele sugere, ainda, a adoção do passaporte vacinal para ingresso das pessoas em áreas públicas ou em eventos com potencial de gerar aglomeração.
Em entrevista ao Portal Correio de Carajás e à rádio Correio FM, o especialista destacou que o Pará é o terceiro pior estado no ranking vacinação, sendo esta a provável causa do aumento da ocupação de leitos de UTI e enfermaria destinados à doença em Marabá.
“A nível nacional os níveis ainda estão bem abaixo do pico da pandemia, mas aqui na região a gente já começa a ver novamente os hospitais lotados. De forma geral, percebe-se um aumento importante do número de casos em atendimentos ambulatoriais, o que, num contexto de disseminação de variantes da doença, era esperado que fosse acontecer dada a baixa velocidade da vacinação”, afirma.
Leia mais:A vacina é o principal meio de combater a forma grave da covid-19, evitando hospitalizações e óbitos. O infectologista apresenta o cenário da Europa, que registra novamente número alto de casos, para ilustrar isso. “Há dados interessantes do percentual de vacinação de cada país relacionado com o número de óbitos por cem mil habitantes. O Leste Europeu, principalmente, tem o aumento do número de casos, assim como toda a Europa, mas com um percentual de óbitos e doença grave muito alta em consequência da baixa aplicação da vacinação”.
No Brasil, explica, o cenário é diferente porque o país possui um percentual relativamente alto de vacinação, com uma média de 62%. O problema, aqui, é a não padronização da cobertura vacinal. Enquanto há estados com mais de 60% de vacinados com as duas doses, o Pará possui apenas 39,9 %. “O nosso maior receio é esse período com vacinação regional desigual porque em um organismo vacinado o vírus tenta se adaptar para conseguir penetrar, ou seja, se a gente mantém uma transmissão alta e há regiões com baixa vacinação, é aumentada a chance de surgirem novas variantes”.
Foi o que ocorreu com a variante Ômicron, registrada pela primeira vez nesta semana na África do Sul, onde a cobertura vacinal é de apenas 23,80% das pessoas com as duas doses. “São locais onde a vacinação ainda está em percentuais muito baixos e isso acaba sendo um celeiro de novas variantes. É isso que a gente tenta controlar também dentro do Brasil”, observa.
Othman destaca que, paralelamente à vacinação, é importante que os governos testem as pessoas com sintomas de covid-19, o que é uma falha brasileira desde o início da pandemia. Além de quantidade, a qualidade aqui conta muito. O infectologista explica que o teste sorológico, por exemplo, é inseguro e facilmente fornece resultados errados. O ideal, diz, é ser utilizado o RT-PCR, considerado o padrão ouro por identificar as estruturas do núcleo do vírus e, consequentemente, se a infecção está ativa ou não.
A junção de vacinação com testagem e adoção dos protocolos de segurança em casos positivados, defende, é a saída para que a vida seja retomada com normalidade. Neste sentido, diz, é a favor do retorno das aulas por ser possível identificar casos a partir da ampla testagem, mas também da obrigatoriedade de apresentação de um passaporte comprovando a vacinação.
“A pessoa até tem o direito de optar por não fazer (a vacina), apesar que, na minha opinião, aquele que se recusa a vacinar não está recusando apenas a si, ela está negando o direito dos outros de uma proteção no meio de uma pandemia. Nesse contexto, a gente poderia exigir, no mínimo, que essa pessoa, para poder frequentar os locais públicos, estivesse vacinada. Já que ela não quer se vacinar, ela não deveria ter o direito de ficar em locais onde ela pode transmitir”, declara.
Sobre os eventos de grande porte, o médico acredita ainda não ser o momento da realização, mas caso ocorram, que sejam seguidas medidas de precaução e controle, como a cobrança pela carteira de vacinação e vigilância epidemiológica. “Nesse cenário que a gente vive agora até é válido (a realização), mas não sabemos como vai estar daqui um mês. Se tiver uma piora significativa, talvez seja o caso de proibir mesmo”, diz, sobre as festas de final de ano.
Sobre o Carnaval, especificamente, o médico se coloca contrário, mas afirma que o destino está nas mãos daqueles que ainda não se vacinaram. “Depende se a gente vai conseguir dar uma acelerada boa na vacinação no final do ano. Reforço que estou ansioso para voltar à normalidade e que eu possa aproveitar, mas não vai ser nesse Carnaval”. (Luciana Marschall)