Correio de Carajás

Infectologista afirma que vacina é segura, eficaz e necessária

Experiente infectologista, o médico Alex Freitas, que militou em Marabá por 11 anos, conversou com o CORREIO sobre o novo momento simbolizado pelas vacinas contra a covid-19 e diz não ter dúvidas de que os imunizantes vão mudar a realidade do combate à pandemia no Brasil. De outro lado, destaca que a população marabaense precisa fazer a sua parte e que não pode relaxar nas medidas de distanciamento, higienização e uso de máscaras.

O médico atuou por11 anos em Marabá, como membro da equipe do Hospital Regional do Sudeste do Pará. Por questões familiares, acabou se mudando para Fortaleza no último ano, mas ainda tem aqui na cidade uma clínica especializada em vacinação. Acompanhe a entrevista:

CORREIO: Que balanço o senhor faz depois de quase um ano convivendo com a pandemia de covid-19? Estamos mais prontos para lidar com a doença?

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Alex Freitas: Foi um aprendizado para todo mundo. Isso é fato. Os profissionais de saúde em geral não sabiam lidar com a doença, nem mesmo com infecções, como eu. Era uma doença nova, com uma outra formatação. Ela tem uma transmissibilidade ainda maior que outros vírus. Enfim, foi uma situação nova, com uma doença crônica e de extrema virulência, ou seja, um poder de transmissão e de adoecimento muito grande. Imagine que você toque em um objeto ou em outra pessoa e já esteja sob risco de adoecimento. Então, isso é muito complicado. Nesse contexto, as pessoas foram aprendendo a lidar com a doença e sua forma de transmissão, moldando o comportamento

CORREIO: O senhor chegou a ficar doente? Viu muitos colegas serem atingidos pela doença?

Alex Freitas: Infelizmente muitos colegas da linha de frente foram infectados, além de pessoas conhecidas. Eu não tive nenhum familiar que adoeceu gravemente, mas amigos morreram. Eu, particularmente, apesar de trabalhar num hospital de doenças contagiosas aqui em Fortaleza, nunca peguei o coronavírus, eu não tive nenhuma queixa relacionada à doença. Eu já fiz seis exames e nenhum deu positivo. Estou fazendo bem direitinho a minha parte, no tocante à questão do cuidado, da prevenção, do distanciamento e do uso de máscara e álcool gel.

CORREIO: Doutor, o senhor acredita que devido ao advento da vacina as pessoas já vão poder relaxar de imediato com a pandemia?

Alex Freitas: Não, de forma alguma. A nossa vida não muda automaticamente pelo surgimento da vacina. O próprio diretor da Anvisa disse isso na reunião para se discutir a aprovação dos imunizantes do Butantan e da Universidade de Oxford. Muita gente está com a sensação de que com esse início da vacinação já está tudo certo, mas não é bem assim. A vacina chegou, primeiramente, para os grupos prioritários, que terão prioridade na imunização. Consequentemente, os grupos considerados não prioritários ficarão no fim da fila. Existe uma consultoria que estima que até o mês de outubro deste ano, 70% da população brasileira já estará vacinada. É uma estimativa boa, porque significa dizer que vai existir uma dificuldade maior de propagação do vírus. Aqueles 30% que não forem contemplados entram no chamado efeito rebanho, ou seja, vão estar protegidos, não imunizados, porque vão conviver com pessoas vacinadas.

CORREIO: Como vê essa classificação de prioridades para a vacinação?

Alex Freitas: Na primeira leva dos grupos prioritários, segundo dados do próprio Ministério da Saúde, estão os trabalhadores de saúde, pessoas com mais 75 anos e indígenas. Estes, considerando o público que vive nas aldeias, receberão a vacina lá mesmo, sem necessidade de irem até uma unidade de saúde. A vacina vai até os indígenas. Eles foram priorizados em face da baixa imunidade a doenças apresentada por essa parcela da sociedade. Então, o serviço itinerante de vacinação vai até a aldeia. Esses são os indivíduos que encabeçam a lista neste primeiro momento.

CORREIO: E quem deseja se vacinar e não faz parte dos grupos prioritários, o que fazer?

Alex Freitas: Não vai poder furar a fila do SUS, certamente, mas as clínicas particulares vão atuar em paralelo à rede pública. Eu creio que a gente já possa comercializar, já adianto aqui que nós reunimos com uma associação de clínicas de vacinação e essa associação já foi visitar a Índia. A promessa de compra é de cerca de 10 mil doses da vacina contra a covid-19. É uma notícia muito boa. Claro, precisaremos da autorização do governo para a comercialização. É o momento de as clínicas particulares darem a sua contribuição.

CORREIO: O senhor acredita que o governo precisará de algum cuidado a mais na distribuição dessa vacina?

Alex Freitas: Eu acho que o governo até já está tendo. As polícias Federal, Rodoviária Federal e Militar estão tendo o cuidado de escoltar a vacina, porque a gente não sabe o que pode acontecer, infelizmente. Mas não é só no Brasil, não. Outros países também precisaram escoltar a vacina para que chegasse com segurança e não houvesse alvoroço. Tem de haver ordem.

CORREIO: Novamente as fake news estão por aí, principalmente as que desacreditam a vacinação. Como combater isso?

Alex Freitas: Essa questão das notícias falsas não é de hoje nem de ontem. As vacinas vêm sofrendo esses duros golpes há décadas. Quando o Fernando Henrique Cardoso, então presidente da República, passou a adotar a vacina da gripe aqui para os idosos, os próprios idosos, ou seja, aquelas pessoas com mais de sessenta anos, se recusaram a tomar porque corria à boca miúda uma falsa informação de que seria uma vacina para matar os idosos, por conta da aposentadoria, sendo que na verdade era justamente o contrário.

CORREIO: Duas vacinas foram aprovadas para uso emergencial pela Anvisa, a CoronaVac e a de Oxford. A eficácia da CoronaVac é de pouco mais de 50%, o que deixa as pessoas um pouco confusas. Como garantir eficácia?

Alex Freitas: Sobre as vacinas que receberam aprovação emergencial por parte da agência reguladora, elas são de uma tecnologia amplamente utilizada em outras ocasiões. Para você ter uma ideia, a CoronaVac, que é do laboratório Sinovac, utiliza vírus inativados. Outras vacinas já fazem isso há sete décadas, pelo menos. Então, não é novidade. A produção dessa vacina já é conhecida. É um produto seguro. Eu estou com os meus dois braços aqui pronto para receber a vacina, convicto de que não morrerei por isso.

CORREIO: Exigir que o cidadão apresente carteira de vacinação contra a covid-19 para que tenha alguns privilégios sociais, pode ser uma forma de garantir que as pessoas levem a sério e compareçam?

Alex Freitas: Na realidade, a gente precisa ter uma pequena amostra do que vai acontecer no futuro no combate ao coronavírus. Algumas escolas já exigem que a criança tenha o seu cartão vacinal para a matrícula na rede pública. Pode ser, sim, que esse critério se estenda para viagens intermunicipais e até mesmo para admissão em algum emprego.

CORREIO: Como o senhor avalia o plano de imunização que já começou no país e a capacidade do Estado do Pará de efetivamente imunizar a população?

Alex Freitas: Eu vejo com muito otimismo esse novo momento que a gente está vivendo. Eu confio na população paraense na busca pela proteção pessoal e familiar. O governo federal tem se empenhado bastante para que a imunização aconteça de forma positiva também. Eu assisti a um evento do governador Helder Barbalho junto com o ministro da Saúde, também correndo atrás [da vacina]. Com certeza as autoridades municipais também estão prontas para que possam executar com excelência. A população pode ficar tranquila que a vacina é segura e vale a pena. (Da redação)