A marca registrada da doença pelo HIV é uma imunodeficiência profunda que resulta de deficiência progressiva quantitativa e qualitativa do subgrupo de linfócitos T chamado de células T auxiliares. Os quais são definidos fenotipicamente pela expressão da molécula CD4 na superfície celular, e que serve como receptor celular primário para o HIV.
É necessário um correceptor, junto com a molécula CD4, para a entrada eficiente do HIV nas células-alvo. Os dois principais correceptores para o HIV são os receptores de quimiocinas CCR5 e CXCR4. Os linfócitos T CD4+ e as células da linhagem dos monócitos constituem os principais alvos celulares do HIV.
O paciente virgem do HIV, assim que recebe a infecção primaria após a transmissão inicial, o vírus infecta as células CD4+, provavelmente linfócitos
Leia mais:T, monócitos ou células dendríticas derivadas da medula óssea. Tanto durante esse estágio inicial quanto posteriormente na infecção, o sistema linfoide constitui o principal local de estabelecimento e propagação do HIV.
Praticamente todos os pacientes sofrem um estágio virêmico durante a infecção primária. Em alguns pacientes, esse estágio está associado à “síndrome retroviral aguda”, uma doença clinicamente semelhante à mononucleose.
Tal fase é importante na disseminação do vírus para os órgãos linfoides e outros órgãos por todo o corpo, sendo finalmente contida, em parte, pelo desenvolvimento de resposta imune específica contra o HIV.
A despeito da resposta imune intensa desencadeada após a infecção primária, o vírus não é eliminado do organismo, estabelecendo-se uma infecção crônica e persistente. Na verdade, surge uma infecção crônica que persiste por um período mediano de 10 anos antes de o paciente não tratado se tornar clinicamente doente.
Durante esse período de latência clínica, o número de células T CD4+ declina gradualmente, porém poucos sinais e sintomas clínicos, ou nenhum, podem ser evidentes. Entretanto, a replicação ativa do vírus quase sempre pode ser detectada pela viremia plasmática e demonstração da replicação do vírus no tecido linfoide.
O nível de viremia no estado de equilíbrio dinâmico (denominado ponto de ajuste viral), em cerca de 6 meses a 1 ano após a infecção, possui importantes implicações prognósticas na progressão da doença pelo HIV. Os indivíduos com baixo ponto de ajuste viral em 6 meses a 1 ano após a infecção evoluem para Aids mais lentamente do que os indivíduos cujo ponto de ajuste é muito elevado na mesma época.
Em relação a doença avançada por HIV. Em pacientes não tratados ou naqueles cujo tratamento não conseguiu controlar a replicação viral, depois de determinado período de tempo (em geral anos), as contagens de células T CD4+ caem abaixo de um nível crítico (cerca de 200/uL), e os pacientes tornam-se altamente suscetíveis a doenças oportunistas.
Foi documentada ampla variedade de anormalidades imunes em pacientes infectados pelo HIV, resultando em graus variáveis de imunodeficiência. Essas anormalidades consistem em deficiências tanto quantitativas como qualitativas na função dos linfócitos e defeitos qualitativos na função de monócitos/macrófagos e células natural killer (NK). Foram também observados fenômenos autoimunes em indivíduos infectados pelo HIV.
Verifica-se resposta imune tanto humoral (formação de anticorpos) quanto celular ao HIV após a infecção primária. A resposta humoral consiste em anticorpos com atividade de ligação e neutralização do HIV, bem como anticorpos que participam na citotoxicidade celular dependente de anticorpos (CCDA).
A resposta imune celular inclui a produção de linfócitos T CD4+ e CD8+ específicos contra o HIV, bem como células NK e células mononucleares que medeiam a CCDA. Os linfócitos T CD8+ também podem suprimir a replicação do HIV de modo não citolítico, não restrito pelo MHC.
Em sua maior parte, a resposta imune natural ao HIV não é adequada.
Os anticorpos neutralizantes de ampla reação contra o HIV não são facilmente produzidos nos indivíduos infectados, não tendo sido relatada a erradicação do vírus de indivíduos infectados por resposta imune de ocorrência natural. O tema prossegue na próxima edição de terça feira.
* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.