Correio de Carajás

Flamengo e Palmeiras, que não vença o melhor

Duas formas diferentes de jogar futebol levaram Palmeiras e Flamengo ao mesmo objetivo: a final da Libertadores da América. Mas só pode haver um campeão!

O que é o belo? O que é o melhor? São perguntas que, para serem respondidas, precisam passear pelas circunstâncias de cada situação. No futebol, essa é uma questão extremamente subjetiva. E em tempos de final de Libertadores, esse questionamento vem sempre à tona. Dia 27 de novembro, Flamengo e Palmeiras farão a final do segundo maior torneio de clubes do mundo. Os dois times têm adeptos esparramados por todas as regiões do Brasil, de modo que essa final vai causar. Para citar o narrador João Guilherme, o universo vai dar uma pausa para assistir a esse jogo. E quem vai vencer? O melhor? Nem sempre é assim.

O encontro será entre os dois últimos campeões da Libertadores e que vêm construindo uma rivalidade gigante no Brasil e na América Latina.

Comecemos pelo Flamengo, dono da maior torcida do planeta Terra, o time rubro-negro venceu a Libertadores de 2019, com um futebol arte, pelos pés de um time histórico e pelas mãos do icônico Jorge Jesus, o Mister. É óbvio que o time atual não repete aquele mesmo futebol. Mas é parecido e, se tudo der certo, entrará em campo na final com oito dos 11 titulares que jogaram a final de 2019. Isso não é uma coisa fácil de se conseguir no futebol brasileiro.

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Já o Palmeiras, atual campeão do torneio, não tem uma torcida tão grande quanto a do Flamengo, mas em todo canto há um palmeirense. Até aqui, o time não chegou a fazer um jogo que enchesse os olhos do torcedor. A estética do jogo é pobre para quem quer guardar nas retinas jogadas de plasticamente belas. Mas é um time eficiente ao extremo. Feio ou bonito, não importa: o Palmeiras vence, se classifica, avança (ponto). O time deste ano mantém a mesma toada do ano passado, mas este ano pegou um dos adversários mais cascudos, o Atlético (MG), e o eliminou em pleno Mineirão, com torcida e tudo.

O Palmeiras é o atual campeão da América. Venceu a competição contra tudo e contra todos

Da análise

Então o cenário que temos é esse: de um lado um time que joga bonito, joga pra frente; ataca e se deixa atacar e no final vence. Do outro lado, um time de futebol pragmático, rudimentar até; que ataca pouco, mas também sofre poucos ataques, e no final vence.

Dito isso, a pergunta continua: quem é o melhor?

Responderei sem responder. No futebol, o melhor é o que ganha, sendo melhor ou não. Afinal o esporte é feito para que vença aquele que coloca mais bolas dentro do gol adversário, independentemente de como isso será feito, desde que as regras sejam cumpridas.

O futebol não é o esporte do melhor, é o jogo dos pequenos episódios: uma bola mal recuada, uma escolha errada, um escorregão, um chute certeiro, um desvio nas costas do zagueiro. Tudo isso se intensifica diante do fato de que o futebol é um esporte de poucos pontos. Basta fazer um pontinho (entenda-se gol) ou não tomar nenhum. Simples assim.

Não importa se o Palmeiras joga com cinco defensores, quase não rela na bola e ataca só uma vez a cada 45 minutos. Não importa.

Não importa se o Flamengo troca 600 passes e chuta 20 vezes no gol. Não importa.

O futebol é o esporte da estratégia e uma decisão de Libertadores precisa ser pensada de forma mais estratégica ainda.

Quem acompanha futebol sabe que o Flamengo joga mais bonito e chega mais vezes ao gol adversário. Não à toa o time é chamado de Malvadão e tem o melhor ataque da competição (32 gols). Mas numa final desse tamanho isso não quer dizer nada.

Todo mundo sabe também que o Palmeiras vem empilhando maus resultados diante do Flamengo e não consegue encaixar seu jogo de se defender e contra-atacar em velocidade. Mas não quer dizer que na final essa estratégia também vai fracassar. Pode ser que dê certo. Quem sabe?

Enfim, não sabemos que é o melhor, muito menos quem vai ganhar. Sabemos quem joga mais bonito. Mas não é concurso de beleza. Aliás, até em concurso de Miss, a vencedora precisa ter desenvoltura nos falar, boa argumentação e elegância. É o conjunto da obra que define quem fica com o título no final. E as obras de Palmeiras e Flamengo ainda inacabadas. Serão terminadas somente em Montevidéu (no Uruguai), dia 27 de novembro.

Até lá, sobram as tradicionais brincadeiras, discussões intermináveis, polêmicas muitas vezes vazias, memes e figurinhas nas redes sociais, apelidos, chacotas, brincadeiras, rusgas… Tudo isso são os movimentos provocados pelo futebol, que é a coisa mais importante que existe, entre as coisas que não têm importância nenhuma.

SAIBA MAIS

O Flamengo, o Malvadão, chegou até aqui com 32 gols marcados, 12 gols tomados, nove vitórias e três empates. O Palmeiras marcou 27 gols e sofreu nove, fruto de oito vitórias, uma derrota e três empates

(Chagas Filho)