A cidade de Marabá assistiu perplexa nesta quarta-feira (11) ao desenrolar de uma tragédia, que pôs fim a uma família. Tudo leva a crer que o marido matou a esposa e depois cometeu suicídio. E no meio disso tudo está uma criança de 10 anos, cujo paradeiro não se sabia até ontem.
A sequência de acontecimentos trágicos começou a ser descoberta no final da manhã, quando o corpo de Gleiciane Lima Rabelo Amaral, de 32 anos, foi encontrado dentro da quitinete em que ela morava, na Folha 16 (Nova Marabá). Horas depois, um homem se jogou debaixo de uma carreta bi-trem na rotatória do Km 6 (também na Nova). Era Eliezer Almeida Amaral, de 30 anos, técnico do Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PA), esposo de Gleiciane.
Enquanto o corpo dela – já em estado de decomposição – aguardava por necropsia na fria câmara fria do Instituto Médico Legal (IML), a menos de 3 km dali, o cadáver dele era retirado dos rodados do caminhão com uso de um macaco hidráulico. E enquanto isso, nem sinal da filha de Gleiciane.
Leia mais:Quem acabou entrando nessa história sem nada ter a ver com isso foi o caminhoneiro André Luiz Zanin, que dirigia a carreta e, ao cruzar a rotatória do Km 6. Em conversa com a reportagem deste CORREIO, André disse ter recebido informações de que Eliezer estava sentado na grama em frente ao posto de combustíveis e se lançou debaixo do caminhão.
André Luiz viu que Eliezer ainda estava se mexendo e chamou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), na esperança inútil de impedir a consumação da tragédia. Não havia mais tempo. Os socorristas chegaram apenas para confirmar o que já se imaginava: a morte.
E enquanto a fila de carros se avolumava na BR-230 e na BR-155, gerando engarrafamento no começo de mais uma tarde quente, as notícias começaram a circular pelas ondas de rádio e, principalmente, pela Internet. Foi quando as pessoas descobriram que a morte no Km 6 estava diretamente ligada com a morte da Folha 16.
Por volta das 16h, o corpo de Eliezer Amaral foi retirado do local onde morreu e encaminhado ao IML, para ser necropsiado, praticamente ao mesmo tempo em que o cadáver de Gleiciane também era periciado na “pedra” do IML. Os corpos permaneceram juntos, lado a lado, mesmo depois da morte, uma trágica coincidência que durou algumas horas, e depois foram liberados para seus familiares.
Os parentes dela vieram de Parauapebas para lhe dar o direito a um funeral e sepultamento dignos. Quanto aos familiares de Eliezer, estes foram comunicados sobre a tragédia pelo TRE-PA. (Chagas Filho colaboraram Evangelista Rocha e Luciana Araújo)
Sumiço de Eliezer no trabalho levou ao corpo de Gleiciane
A reportagem deste CORREIO apurou que Eliezer ficou mais de um mês sem aparecer no trabalho (Fórum Eleitoral de Marabá). Nesse período, sempre que seus superiores e colegas de trabalho entravam em contato para saber o porquê do sumiço, ele inventava uma desculpa, dizia que não estava bem de saúde, ou coisa parecida.
Mas como a situação se arrastou por muito tempo, colegas de trabalho foram até a casa dele, que fica bem perto do Fórum Eleitoral (dá pra ir andando). Chegando lá forma recebido por um fedor insuportável que se espraiava do portão para a rua, conforme a direção do vento.
Imediatamente, eles chamaram a Polícia Militar e também comunicaram os donos da casa (que era alugada para o casal). De posse das chaves, a polícia entrou na habitação e descobriu a razão do mau cheiro: o corpo de Gleiciane, atrás de um sofá, enrolado em lençóis.
Perto do corpo foi encontrada uma marreta, possivelmente a arma que foi usada para tirar a vida de Gleiciane, que há tempos não era vista nas redondezas. Apenas Eliezer fora visto dois dias antes por aquelas bandas.
Imediatamente, o Departamento de Homicídios da Polícia Civil e também os peritos criminais do Instituto Médico Legal (IML) foram acionados até o local para fazer as devias perícias e a remoção do cadáver da mulher, sob o olhar atento da vizinhança, que fazia suposições sobre o que poderia ter ocorrido. Até ali, todos ainda estavam longe de saber o que estava por vir.
(Chagas Filho)