Correio de Carajás

Fazendeiros do sudeste paraense pagavam R$ 1 mil por onça morta

“As investigações apontaram que as pessoas responsáveis pela caça desses animais tinham ligação com fazendeiros que, por sua vez, remuneravam pessoas que abatiam esses animais a fim de proteger os rebanhos”. A informação é do delegado Ricardo Viana, chefe da Delegacia da Polícia Federal em Marabá, acerca da investigação que resultou na Operação Jaguaruna, que cumpriu mandados de busca e apreensão em Curionópolis e Parauapebas, nesta manhã (terça).

Em entrevista coletiva à imprensa, ele detalhou que os caçadores tinham contato, inclusive, com criadores de cães que treinavam os animais no Mato Grosso para atuarem na caça às onças. Lá, os animais silvestres eram denominados de “capeta” e a cabeça de cada um valia míseros R$ 1 mil. A Polícia Federal passou a investigar o caso em 2016, após a Polícia Militar do Estado do Pará apreender restos de 19 onças – principalmente pintadas – em Curionópolis.

Os restos estavam armazenados em um freezer de uma residência, onde foram presos Júlio Cesar e Francisco Evangelista, ambos autuados em flagrante à época, conforme divulgou o Jornal Correio. Na ocasião, além dos restos das onças, foram apreendidas mais de 30 armas, carcaça de jacaré e vários pássaros silvestres.

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Ao serem detidos, os dois chegaram a conversar com a Reportagem do CORREIO. Francisco Evangelista afirmou que trabalhava na manutenção de armas para completar o orçamento doméstico e negou qualquer participação no abate e captura de animais. Já Júlio Cesar confessou que os animais eram dele, mas não quis falar se foi o responsável pelo abate ou de quem teria adquirido.

“Como a onça pintada é um animal ameaçado de extinção e está numa lista do Ibama a competência de apuração de crimes desta natureza é da Polícia Federal. É obrigação da União essa investigação porque por tratados internacionais o Brasil se obrigou a reprimir esse tipo de crime”, explicou nesta manhã o delegado.

‘CAPETA’

Conforme ele, o laudo do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves apontou que as partes dos animais foram retiradas cirurgicamente, para serem utilizadas como troféus, o que era um indício de que poderia estar ocorrendo tráfico de animais nesta região. “Descobrimos que essa matança de animais tinha uma conexão com a cidade do Mato Grosso onde havia pessoas que criavam cachorros específicos para a caça. Lá ficou configurado que cada ‘capeta’ era remunerada em torno de R$ 1 mil”.

A Polícia Federal descobriu que os ataques aos rebanhos estavam incomodando os proprietários rurais instalados próximos da Floresta Nacional de Carajás. “As questões ainda são difusas, mas as investigações comprovaram que os animais eram abatidos como forma de proteção dos rebanhos, já que as onças buscavam alimento. Para evitar o prejuízo de natureza econômica criou-se um prejuízo de natureza ambiental de dimensões irreparáveis porque para você repor de forma natural 19 onças leva anos”, observou Viana.

REINCIDENTE

A operação cumpriu quatro Mandados de Busca e Apreensão, sendo dois em Curionópolis, um em Parauapebas e um em Nobres, no Mato Grosso. Lá, uma pessoa foi presa por porte ilegal de munição.  Já em Curionópolis, um dos homens presos anteriormente em posse das partes das onças acabou novamente autuado em flagrante, mas a Polícia Federal não divulgou qual deles reincidiu no crime.

“Na mesma residência em que foram encontrados os restos da onça pintada, foi encontrada caça mais uma vez. Na casa do mesmo cidadão que foi alvo de buscas pela PM também foi encontrada munição, o que denota que apesar de terem sido feitos os procedimentos à época, esses não foram suficientes já que quase dois anos depois as condutas se mostraram reiteradas. Isso nos causa preocupação porque a gente espera que o estado faça seu papel, a pessoa entenda a noção da ação delitiva cometida e procure a correção, o que não aconteceu”.

O delegado alerta que pessoas detidas em posse de caça, sem autorização legal, são autuadas em flagrante pelo crime de receptação, como foi o caso da pessoa presa em Curionópolis nesta terça. “Porque temos certeza que a pessoa que estava com aquele animal não tinha autorização para esse depósito, o que leva a crer que a aquisição do animal foi fruto de crime”.  (Luciana Marschall – com informações de Josseli Carvalho)