Assim que for sancionado pelo prefeito de Parauapebas, Darci Lermen, o Projeto de Lei nº 85/2020, de autoria do vereador José Couto, permitirá que setores públicos e privados façam atendimento preferencial às pessoas com transtornos do espectro do autismo e seus responsáveis. Placas indicarão o atendimento prioritário, com o símbolo mundial do autismo.
Para as famílias que têm parentes com autismo e lutam pela causa, esse é o resultado de uma grande vitória. A exemplo da presidente do “Instituto Amigos Que Brilham” Maria Estrela, que tem dois parentes autistas.
“A deficiência que não é vista aos olhos parece que não dói mais no outro. A gente precisa entender que o autista é uma pessoa PcD, que precisa ser tratado com prioridade”, defende a presidente do instituto.
Leia mais:Maria Estrela conta já sentiu em muitos momentos “a dor da discriminação, porque tem dois autistas na família. Muitas vezes é trabalhado como se a criança autista fosse preguiçosa, geniosa, o que não é verdade. “É preciso abranger a discussão além da criança autista, porque eles vão crescer”.
Por isso, para Maria, é importante estabelecer leis que os resguardem. “As lojas precisam entender que eles são consumidores, estão no mercado, brincam, leem e como pessoas eles precisam que os direitos sejam garantidos”, defende a presidente.
Atualmente, o Instituto atende 72 crianças, entre 4 e 11 anos. A advogada Silvia Campos é mãe de Artur e, para ela, a futura lei é muito importante porque os autistas são sensíveis a lugares cheios, a ambientes com muitos estímulos sonoros, o que causa uma crise sensorial, sendo preciso uma semana inteira de terapia, o que dificulta o trabalho de profissionais que trabalham com eles.
Silvia Campos é mãe de Arthur, de 7 anos, que foi diagnosticado com autismo considerado leve. “O maior comprometimento dele foi no desenvolvimento da fala, acompanhado da hiperatividade”, causando dificuldade de concentração.
Para Silvia, o atendimento prioritário vai ajudar muito, porque vai fazer com que as crianças socializem nos ambientes, sem que crises aconteçam, o que é muito importante para as famílias.
A advogada conta que com a pandemia, desorganizou todo o cronograma, porque a criança tem uma agenda lotada. Ele faz terapia todos os dias, e agora em casa, isso afetou muito, porque saiu da rotina a que estava acostumado. O garoto está mais ansioso, sentindo falta da escola.
A mãe confessa que uma família muda quando há um integrante diagnosticado com autismo. “As atividades passam a ser planejadas, você entra em uma rotina que muitas vezes não pode ser alterada. A mãe de uma autista renuncia em prol da criança para acompanhar em terapia, muitas deixam de trabalhar, porque a maioria das crianças não tem autonomia, não pode sair sozinha, e isso acontece de forma diferente em cada família.
Sobre preconceito, Silvia pontua que existe como em qualquer situação que haja a diferença, porque o que é diferente incomoda. “Já sofri preconceito com o Arthur pelo fato de as pessoas não saberem como lidar com determinadas situações. Não somos convidados para festas e quando a gente fala que é autista, os olhares mudam, e tudo que ele faz como qualquer criança da idade dele, as pessoas já justificam que é por ele ser autista”, lamenta.
Por isso, Silvia, que é mãe e advogada, comemora o primeiro passo para que a lei ampare autistas, para que a sociedade comece a entender que ambientes que fujam da rotina geram sintomas que demoram uma semana para controlar.
No projeto de lei municipal, os estabelecimentos que não cumprirem a inclusão dos autistas nas prioridades poderão sofrer sanções e multas.
Lei Federal
O presidente Jair Bolsonaro sancionou a Lei 13.977/20, que institui a Carteira de Identificação da Pessoa com Transtorno do Espectro Autista (Ciptea), de expedição gratuita. Com o documento, a população passa a ter prioridade de atendimento em serviços públicos e privados, em especial nas áreas de saúde, educação e assistência social. (Theíza Cristhine)