Familiares de Ronnyerick Sousa Aroucha, de 22 anos, acionaram o Correio de Carajás nesta semana para relatar uma história que parece absurda, mas que afirmam estar acontecendo em Parauapebas.
Há cerca de 10 dias ele foi levado por forças policiais de casa, no Bairro Tropical, sob a acusação de furto. O verdadeiro culpado, contudo, teria procurado três vezes as autoridades para se entregar, mas foi dispensado, segundo relata o advogado Antônio Araújo.
“Parece coisa de filme ou, sei lá, uma piada. Meu cliente está preso e o verdadeiro acusado está correndo atrás para ser preso, já esteve três vezes na delegacia, já foi ao fórum e ninguém dá a mínima, não tem consideração. O que se percebe é que para a Justiça o que interessa é prender alguém, e não prender quem é culpado ou não”, afirma.
Leia mais:Ele relata que o responsável pelo crime é maior de 18 anos e tem consciência do ato que cometeu, estando arrependido e demonstrando querer deixar a vida de crimes, tendo a intenção de pagar a pena pela atitude errada.
Conforme o advogado, esta pessoa se apresentou primeiramente em uma Delegacia de Polícia Civil de Tucuruí e foi orientada a procurar o órgão de Parauapebas, onde o crime ocorreu.
O homem então teria se deslocado à cidade e procurado o Ministério Público do Estado do Pará e o Poder Judiciário. No primeiro, não foi ouvido. No segundo, foi orientado por um juiz a procurar a 20ª Seccional Urbana de Polícia Civil, onde também esteve. “Não adiantou, continua a mesma situação. É muito estranho porque esse não é o conceito de justiça”, afirma o advogado.
Antônio Araújo acrescenta que o possível erro está prejudicando a vida de Ronnyerick, que é trabalhador, pai de família e não possui antecedentes criminais. “A família não tem dúvida que não é ele, além dos antecedentes, mas acima de tudo existe o verdadeiro acusado indo atrás do delegado, do juiz e do promotor e dizendo que é culpado”.
ESPOSA GRÁVIDA
Eduarda da Silva Sousa, de 23 anos, é esposa de Ronnyerick e está grávida de cinco meses. “A gente quer chamar a atenção das autoridades que têm como revogar essa prisão”, diz, acrescentando estar sofrendo com a ausência do marido durante o período gestacional.
“É o momento que a esposa mais precisa do marido. A Justiça está tirando o direito dele de acompanhar a gestação, as consultas. Estou sem o privilégio de ter meu marido ao lado porque estão tirando isso de um inocente”, lamenta.
Ela conta que policiais chegaram na residência da família apresentando um documento e reviraram a casa antes de levarem o homem preso. Ao não encontrarem nada, ainda foram à casa da sogra dela e reviraram também os pertences do cunhado, levando uma peça de roupa. “Levaram uma camisa vermelha social do meu cunhado e não devolveram. O medo que a gente tem é de eles quererem usar essa camisa em cima do meu esposo porque as câmeras (de segurança que flagraram o furto) mostram que o rapaz que cometeu o crime usava uma camisa vermelha, só que não é social, dá pra perceber que é uma camisa comum”, relata.
Ela garante, ainda, que o companheiro é pessoa idônea. “Como esposa não aceito que ele pague por um crime que não cometeu. Em nome do filho que eu carrego e vai ter o sobrenome dele eu quero justiça. Não quero levar meu filho pra visitar o pai em um presídio onde ele sequer deveria ter entrado. Meu esposo nunca teve passagem pela polícia, não bebe, não fuma, não vai em festa, único vicio que meu esposo tem é bola, inclusive tem um time de futebol”, afirma.
O irmão de Ronnyerick, João Alisson Gomes Sousa, de 29 anos, também defende o homem preso. “Uma pessoa cometeu um crime e ele está pegando a culpa sem merecer. Estão querendo incriminar meu irmão, sendo inocente”. Reclama, ainda, da abordagem policial à família. “Agiram em uma situação violenta, chegaram invadindo de manhã, não respeitaram minha mãe e meu filho, apontaram arma pra minha sobrinha, me arrastaram… quero justiça!”.
OUTRO LADO
A Reportagem procurou a Polícia Civil para questionar a situação. O delegado Erivaldo Campelo, diretor da 20ª Seccional Urbana de Polícia Civil, afirmou que a prisão de Ronnyerick Sousa Aroucha é oriunda de cumprimento de mandado de prisão e que as investigações seguem em andamento.
Em relação à pessoa que teria se apresentado e confessado o crime, ele diz que ela será ouvida de forma remota pelo delegado Élcio de Deus, que presidiu o inquérito policial sobre o furto, mas agora está atuando em Marabá.
Em posse do número do processo em questão, oferecido pelo advogado da família, o Correio de Carajás tentou acessá-lo junto ao sistema de consulta do Tribunal de Justiça do Estado do Pará, mas a plataforma não retornou resultados. (Luciana Marschall – com informações de Ronaldo Modesto)