Correio de Carajás

Família de parturiente fará novo protesto por demora em conter sangramento

Na próxima terça-feira (15), os familiares da servidora pública municipal, Isabel Cristina de Sousa Costa, de 38 anos, falecida no dia 18 de outubro, após dar à luz, no Hospital Regional Público do Sudeste do Pará, em Marabá, farão manifestação em frente à sede do Ministério Público do Pará (MPPA). Eles temem que a Polícia Civil peça o arquivamento do caso ao Ministério Público.

A desconfiança da família de que o caso acabe em pizza se deve a dois fatos: o primeiro é que até hoje não existe inquérito policial, mas apenas uma investigação preliminar; e o segundo fato é que o delegado responsável pelo caso informou aos familiares que não viu evidências de crime.

“Isso deixou a família angustiada, porque com essa informação que já foi repassada para o Ministério Público, pode ser que essa demanda seja arquivada precipitadamente”, alerta o perito federal Zacarias de Sousa Costa, irmão da vítima.

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Zacarias exibe prontuário médico que indica possível demora no atendimento/ Foto: Evangelista Rocha

Zacarias explica que Isabel Cristina deu entrada no Hospital Regional em plena saúde, no dia 12 de outubro, permanecendo até o dia da sua morte, em 18 de outubro. Inclusive, passou uma semana internada apenas para aguardar vaga nas UTIs e com todos os exames em conformidade.

Ele observa que sua irmã entrou no Regional uma semana antes da data prevista do parto porque estava aguardando um leito de UTI, mas esse leito não apareceu e somente 12 horas depois do parto é que ela teve direito a uma UTI, o que vai contra a determinação da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que deixa claro que nos casos de cardiopatia, a UTI tem que ser de retaguarda imediata.

Ainda segundo Zacarias, os problemas de saúde de Isabel ocorreram somente no dia 17, um dia após a realização de seu parto cesariano, por conta de uma hemorragia pós-parto que se agravou para endema pulmonar agudo, seguido de parada cardiorrespiratória, após receber anestesia geral para tratar a hemorragia.

15 horas sangrando

A família só foi informada na noite do dia 17 (sábado), véspera de sua morte. Mas isso não é tudo. Com o prontuário em mãos, Zacarias conta que a técnica de Enfermagem constatou um grave sangramento ao dar banho na paciente, no dia 17, às 8h da manhã. Ocorre que isso só foi relatado ao médico plantonista às 15h e só foi feita a coleta de sangue às 17h30 e o médico só chegou para avaliar a paciente e solicitar parecer às 18h50 e Isabel só foi para a sala de cirurgia para conter a hemorragia às 23h.

“De 8h da manhã às 23h decorreu um prazo de 15 horas a Isabel provavelmente sangrando. Nós não queremos fazer acusações precipitadas, mas se nós que somos familiares e leigos já conseguimos observar essas incoerências aqui no prontuário, as pessoas que têm expertise, as pessoas da área médica, as autoridades competentes com certeza vão conseguir apurar muito mais detalhadamente o que pode ter acontecido”, relata.

Outra crítica feita pela família de Isabel Cristina é que o prontuário entregue pelo hospital para a família está incompleto, porque do período de 7h da manhã até às 19h (o período pós-operatório imediato) não existe nada no prontuário.

Como se não bastasse, segundo Zacarias, o Hospital Regional não participou de reunião da Comissão de Saúde na Câmara Municipal de Marabá (CMM), que trataria do assunto. O Regional pediu prazo de 10 dias para enviar uma resposta, mas até hoje não respondeu.

A família protocolou requerimentos na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) Subseção Marabá, no Conselho Regional de Medicina (CRM), no Conselho Municipal de Saúde, no Conselho Municipal de Defesa dos Direitos da Mulher (Condim), na Câmara Municipal de Marabá (CMM) e no MPPA.

Polícia Civil

O CORREIO entrou em contato com o delegado Márcio Brasil Maio, que investiga o caso, e ele disse que inicialmente, depois de ler cerca de 200 páginas, entre relatórios médicos e o prontuário da paciente, não vislumbrou nenhum indício de negligência médica.

Delegado Márcio Maio sugeriu sindicância administrativa antes de análise penal/ Foto: Evangelista Rocha

No entendimento dele, o caso precisa primeiro ser averiguado pela esfera administrativa (por meio de uma sindicância) e depois, dependendo do resultado, a investigação ocorrerá na esfera criminal. Por isso ele solicitou ao MP que pedisse uma sindicância no Hospital Regional, primeiramente.

Questionado se o prazo de 15 horas que a vítima ficou sangrando dentro do hospital e com a equipe médica tendo ciência do problema não foi um período de tempo muito longo, o delegado disse que não se sente capaz de afirmar que isso representa negligência, porque não cabe à Polícia Civil interferir nos procedimentos do hospital.

Sindicância

O jornal também manteve contato com o Hospital Regional do Sudeste do Pará, cuja direção emitiu uma nota explicando que, realmente, “abriu uma sindicância interna, ainda em andamento, para apurar o caso, que também está sendo acompanhado por autoridades municipais. Por esse motivo, não pode comentar. O hospital se solidariza com a perda da família e segue prestando todas as informações necessárias para o devido esclarecimento do caso.” (Chagas Filho)