Correio de Carajás

Falta de médicos e descaso com pacientes no HMI viram rotina

Apesar do protocolo da unidade de saúde exigir quatro médicos, o hospital só dispõe de dois para dar conta da grande demanda diária

A manhã de hoje (26) no Hospital Materno Infantil de Marabá (HMI) foi composta por revolta e reclamação de gestantes e acompanhantes que esperavam por um atendimento humanizado e alento no corredor, de praxe, caótico da unidade de saúde, mas se viram na necessidade de denunciar a falta de médicos e de informações por parte de outros funcionários do local, visando única e exclusivamente o que é delas por direito: dignidade, em um momento tão delicado e relevante.

Uma acompanhante e uma gestante na fila de espera entraram em contato com o Correio de Carajás para falar sobre as situações às quais estavam sendo expostas no local.

Entre as pessoas que denunciaram o descaso está Tina Macedo, que acompanhava sua prima Jackeline, gravida de 39 semanas e esperando ser atendida desde ontem (25). Segundo a denunciante, a mulher apresentava fortes dores e sangramentos, mas o hospital se recusava a interná-la, pois o protocolo da unidade de saúde para internação é de 40 semanas e três dias. Além disso, as duas se sentem de mãos atadas, já que o HMI não dispõe de aparelho de ultrassom que confirme o estado de saúde do feto: “O hospital pede para fazermos o exame fora, mas, e se não tivermos condições financeiras?”, indaga Tina.

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A acompanhante afirma que algumas enfermeiras e técnicas tratam mal as pacientes

Ela lamenta que seja necessário chegar ao ponto de delatar para enfim receber atendimento, principalmente porque de acordo com a acompanhante, assim que algumas enfermeiras e outros funcionários percebem a presença da Imprensa e entendem que se trata de denúncia, as pacientes são marcadas e “colocadas de lado”, como forma de punição silenciada.

Outra gestante, que preferiu não se identificar, também se demonstrou bastante frustrada e aflita no local. Segundo ela, um exame cardiológico mostrou que o coração do feto estava fraco e foi oferecido um procedimento de glicose pela veia, mas sem confiar no hospital, diante do histórico nada colaborativo, se recusava a aceitar a medicação.

Pela falta de comunicação entre paciente e profissionais, a gestante se recusa a tomar glicose

“Cheguei aqui tranquila e me apavorei com o resultado do exame. Disseram que eu só poderia repeti-lo após tomar a glicose, pois isso mudaria o quadro. Agora, me recusam a cardiotocografia e tenho medo do que pode acontecer”, relata a grávida, que já está com 40 semanas de gestação, aguardando desde ontem para ser internada e teme que o período de hospitalização passe do tempo certo, gerando complicações.

PLANTONISTA EXPLICA

Por outro lado, a médica plantonista da unidade de saúde, Polyana Siqueira, foi ouvida pela equipe e afirmou que, devido à estrutura, o protocolo a ser seguido no local é de internar gestantes com mais de 40 semanas, com exceção de mulheres que apresentem sofrimento fetal. Ela explica também que há uma confusão generalizada quanto ao conceito de dores no fim da gestação, tendo em vista que nem sempre isso signifique um problema, mas um sintoma normal, como as contrações.

A médica obstetra garante igualmente que em todos os casos necessários de internação, ela acontece. “Quando a mãe está sentindo muitas dores, nós medicamos com Buscopan, mas não são em todos os casos que isso alivia o incômodo. Há vezes que só passa após o nascimento, pois faz parte de um processo natural do corpo”, afirma, assegurando não haver casos de sofrimento em que a hospitalização é negada à paciente.

MÁ REPUTAÇÃO E POUCOS MÉDICOS

Quando questionada sobre a grande quantidade de denúncias diárias sobre o HMI, ela desabafa e diz que, com o reduzido quadro de médicos atendendo, eles se dispõem a fazer o possível e o melhor. Polyana também traz à tona o fato de que a administração não consegue novos profissionais da área de saúde, pois o extenso número de queixas e acusações quanto ao atendimento faz com que médicos fujam de aceitar o cargo na unidade de saúde. De acordo com ela, a má reputação do ambiente provoca um recuo natural da comunidade médica.

“Na teoria, deveriam ter quatro profissionais atendendo, mas, somos só dois, eu e outro que está na sala de cirurgia. Ninguém vai se sujeitar a passar por situações de constrangimento como essas e arriscar carregar toda a culpa da falta de estrutura que o hospital possui”, desabafa, dando margem para o questionamento do que realmente constitui o caos que assola e assombra a única unidade pública responsável por trazer ao mundo, os novos cidadãos marabaenses. (Thays Araujo)