Com 12 anos de existência, o evento conhecido como “Arrastão”, no bairro Francisco Coelho, o Cabelo Seco, terá seu retorno neste dia 20 de novembro após o hiato da pandemia. Com a clássica tradicionalidade de conscientização e luta, a programação deste ano também contará com festividade, folclore e diálogo, envolvendo, inclusive, outras etnias no local que pariu Marabá e é o grande símbolo de resistência e representatividade da luta dos povos pretos no município.
O Correio de Carajás conversou com Eric Belém Oliveira, um dos organizadores do encontro, e o cientista social fez questão de destacar que a proposta inicial sempre foi enaltecer a importância do bairro, que carrega o nome forte e representativo das mulheres pretas e maranhenses que tomavam banho às margens dos rios Itacaiunas e Tocantins há décadas e, devido à textura de seus cabelos, não adquiria o aspecto de estarem molhados.
Ele explica que inicialmente o projeto-piloto que tinha a intenção de focar apenas nos moradores do local, mas pelo acolhimento e aceitação por parte dos moradores da cidade como um todo, acabou se tornando algo tradicional. Eric frisa que a programação vai para além do conhecido arrastão, que ocupa as ruas da Marabá Pioneira, pois envolve parcerias e diversas etnias para compor a diversidade do evento e discutir sobre como as relações raciais são enxergadas.
Leia mais:“É fato que a caminhada pelo Cabelo Seco é o ápice do evento porque ela possibilita ter um diálogo com aquelas pessoas que, por algum tipo de dificuldade, acabam não se deslocando até a concentração, e, além disso, os presentes acabam saindo conosco, fazendo uma divulgação dos nossos anseios, além de levar aquele ar bastante festivo, alegre e folclórico que faz parte da cultura negra”, explica.
Sob um olhar crítico do que está por trás do evento, o cientista social revisita a carência de políticas públicas em Marabá voltadas à luta do povo preto. A questão social, infelizmente, se restringe somente ao Dia da Consciência Negra e uma das principais metas do evento é transformar a essência em uma luta cotidiana, não a restringindo apenas a um dia ou a um mês específico.
Apesar de certos avanços como a Lei 10.639, de 2003, garantindo o lugar de fala do ensino de história e cultura afro-brasileira: em face às fronteiras para a aplicação da história e cultura africana nas escolas estaduais de ensino médio em Marabá, e a Lei 17.693, que dispõe sobre a instituição do feriado municipal referente ao Dia da Consciência Negra, Marabá ainda carece de políticas públicas.
Embora o bairro do Cabelo Seco tenha “parido” Marabá, tornando o pontal um lugar atrativo para que o município pudesse surgir, em contrapartida, é um dos últimos bairros que mais necessitam de atividades desenvolvidas pelo Estado. “É um lugar que foi e ainda é bastante criminalizado, logo, um dos principais motivos para a criação deste coletivo foi a resistência, de enaltecer, valorizar e exigir a importância que o local tem para o histórico da cidade e para a constituição da sociedade marabaense”, entende Eric.
O mês da consciência negra não se resumirá ao evento do dia 20. Serão realizadas sessões em escolas como a EMEF Paulo Freire e na Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) considerando que a educação é um dos pilares necessários para combater a realidade do racismo com informação e instrução.
Eric aponta que apesar do hiato da pandemia e da dificuldade de tratar desses assuntos na atual gestão do governo presidencial, que se opôs muito a essas realidades sociais conflitantes, este ano é um momento de retomada que, apesar da grande dificuldade, é vista por ele com bastante esperança de conseguir reverter a realidade atual enfrentada. “Uma das comunidades bastante impactadas neste contexto pandêmico foi a população negra, algo que ilustra bem a desigualdade no Brasil e, consequentemente, em Marabá”, finaliza.
PROGRAMAÇÃO
- 16h – Abertura do evento com leitura do manifesto
- 16h – Exposição fotográfica: “Afrosil em Foco: Arte Periférica”
- 16h – Exposição de vestuário: Ancestralidade
- 16h – Oficina de turbante e exposição de lenços
- 16h – Penteados Afro: “A beleza Negra, vem da Raiz!”
- 16h – Mural: “Memória das lavadeiras do Cabelo Seco”
- 17h – Apresentação de crianças do projeto Transformar
- 17h15 – Apresentação do Carimbó das Mulheres do Cabelo Seco
- 17h30 – Apresentação do grupo de dança “Chama do Norte”
- 18h – Arrastão Consciência Negra em Movimento
- 19h30 – Apresentação grupo de tradição popular Mayrabá
- 20h10 – Apresentação Folclórica do Boi Flor do Campo
- 20h40 – Apresentação de Hip Hop 094 RC & MC Shester
- 21h15 – DJ “Black Mamba”
- 22h15 – Banda “Negra Melodia”