Correio de Carajás

Estudantes indígenas e quilombolas protestam por bolsa na Unifesspa

Na tarde da última segunda-feira, 21, estudantes indígenas e quilombolas cobraram, em frente ao Campus III da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), ações que garantam o acesso e permanência de alunos de origem das duas etnias na instituição pública de ensino.
Entre as principais reivindicações do movimento estudantil, está o reestabelecimento do auxílio financeiro federal do Programa de Bolsa Permanência, do Ministério da Educação (MEC).
O líder estudantil de prenome David, membro do povo indígena Gavião Akrãtikatêjê, explicou que desde 2019 não há homologação de novas inscrições. “Temos 28 bolsas para homologar. Para o segundo semestre estamos com uma demanda de outras 311. Nós estivemos em reunião com o Núcleo de Assistência Estudantil da universidade e informamos a instituição que faríamos essa mobilização para solicitar que a Unifesspa realize um processo de permanência para abranger os alunos”, conta.

O líder estudantil David, Gavião Akrãtikatêjê, explica que a mobilização é para manter os estudantes na instituição – Foto: Evangelista Rocha

O indígena relata que, atualmente, dentro da universidade, existem sete estudantes indígenas do Amapá, e que os quilombos residem a mais de 500 km da instituição. “A dificuldade para chegar até o campus e a permanência deles são preocupantes. Os dados de evasão são assustadores. E hoje a manifestação é para fortalecer esses estudantes dentro da instituição”, disse o representante indígena.

“A gente vem de outras cidades, quilombos e aldeias em busca de estudar”, diz Klícia Moreira – Foto: Evangelista Rocha

Klicia Moreira, quilombola e estudante do curso de pedagogia, relada que essa manifestação foi projetada para garantir a permanência dos alunos dentro da universidade, já que existe uma demanda muito grande de indígenas e quilombolas estudando.“A gente vem de outras cidades, quilombos e aldeias em busca de estudar. Estamos sofrendo uma grande ameaça, tanto pelo Governo, como pelo MEC, para conseguir essa permanência através de uma bolsa. Elas foram cortadas. Tivemos alunos quilombolas e indígenas que já se formaram e essas bolsas simplesmente sumiram, não retornaram para a universidade”, fala indignada.

Leia mais:

Universidade
O Correio de Carajás procurou a Unifesspa para falar sobre a manifestação. O reitor Francisco Ribeiro explicou que esse é um programa do MEC e ligado diretamente ao Governo Federal.
Tendo início em 2014, ele explica que até 2019 bastava que o estudante – indígena ou quilombola – se enquadrasse dentro dos critérios do edital para que recebesse a bolsa.
“Em 2019 houve uma primeira tentativa de limitar o número de bolsas para 2 mil. Os estudantes realizaram uma manifestação em Brasília e esse número acabou sendo ampliado”, relembra, ressaltando que em 2020 e 2021 o programa foi suspenso.

“Nós entendemos essa reivindicação”, diz reitor da Unifesspa, Francisco Ribeiro – Foto: Evangelista Rocha

Retornando em 2022 e com uma demanda muito grande, o MEC decidiu limitar novamente as vagas, e disponibilizou apenas 2 mil bolsas para distribuir para o país inteiro. “Nós entendemos essa reivindicação. Temos uma grande demanda de alunos que precisam das bolsas”, reconhece Francisco Ribeiro. (Ana Mangas e Thays Araujo)