Correio de Carajás

Escroto agudo

O termo escroto agudo é utilizado para caracterizar uma síndrome emergencial do trato geniturinário. Corresponde ao quadro de dor súbita e intensa na região escrotal com irradiação para o hipogástrio, acompanhada de rubor, calor e aumento do volume local.

No escroto agudo, o diagnóstico imediato e o tratamento precoce adequado são fundamentais na preservação do testículo e, portanto, da fertilidade do paciente. A maioria dos cirurgiões pediatras indica exploração cirúrgica precoce quando não é possível esclarecer, com certeza, a causa do escroto agudo.

A torção testicular é a causa mais frequente de escroto agudo em crianças menores de 6 anos de idade, corresponde à rotação do testículo, tendo como eixo o cordão espermático, levando à obstrução vascular e isquemia testicular. Como as torções são geralmente unilaterais, a eventual perda do testículo afetado não costuma comprometer significativamente a fertilidade futura.

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A torção do cordão espermático causa, inicialmente, um quadro de obstrução venosa com congestão e edema. A pouca distensibilidade do revestimento testicular (túnica albugínea) resulta no aumento de pressão no parênquima testicular com consequente comprometimento do fluxo arterial.

A torção testicular pode ter o pico de incidência se dá ao redor dos 14 anos de idade, mas pode ocorrer desde o período neonatal (ou mesmo intraútero) até no paciente idoso. Dor escrotal de início súbito é o sintoma mais importante e inicial do quadro. A dor pode permanecer localizada no testículo afetado ou se irradiar para a região inguinal, hipogástrio e fossa ilíaca ipsilateral.

Os achados ao exame físico são muito variados e, por vezes, confundem o médico assistente. Sinais flogísticos locais, comuns na orquiepididimite podem aparecer no quadro de torção com algumas horas de evolução, o que dificulta o diagnóstico diferencial exclusivamente clínico.

A localização anteriorizada do epidídimo (normalmente, ele é posterior ao testículo), elevação do testículo e ausência do reflexo cremastérico são achados comuns, porém não característicos. Apesar de a melhora da dor com a elevação do testículo (sinal de Prenn) sugerir orquiepididimite no paciente adulto, esse sinal raramente é valorizado na criança.

Sua ocorrência no período neonatal ou intraútero corresponde a 10% de todos os casos de torção testicular. Pode ser a responsável pela ausência de testículo na bolsa ao nascimento, ensejando diagnóstico errôneo de criptorquidia. Na fase aguda, observa-se um aumento indolor de bolsa testicular com equimose na pele e edema acentuado ao exame físico.

O diagnóstico preciso e rápido é o objetivo primordial em caso de escroto agudo. O quadro clínico sugestivo implica a avaliação laboratorial e por imagem imediata. O hemograma e o exame de urina alterados sugerem orquiepididimite, embora não descartem a torção.

Os exames mais utilizados para confirmação do diagnóstico são: US com Doppler – capaz de avaliar a densidade testicular e principalmente a perviedade e o fluxo sanguíneo intratesticular. E a Cintilografia testicular – realizada com tecnécio, mostrará deficiência na captação de contraste pelo testículo afetado.

O tratamento é cirúrgico de urgência e consiste na inguinotomia exploradora, ressecção do conduto peritônio-vaginal (quando presente), distorção do cordão e fixação do testículo na bolsa. No mesmo ato operatório, é prudente fixar o testículo contralateral. Se o testículo estiver necrótico, recomenda-se a orquiectomia com eventual colocação de prótese de silicone.

Na torção testicular, se os exames de imagem não estiverem prontamente disponíveis, indica-se a exploração cirúrgica. O tratamento cirúrgico precoce é a única forma de salvar um testículo torcido. Trata-se, em última análise, de uma corrida contra o relógio. O prognóstico depende do tempo em que o testículo ficou submetido à isquemia.

Há casos descritos em que, com 2 horas de torção, o testículo encontrava-se inviável. Naturalmente, o tempo de evolução da necrose dependerá do grau de obstrução vascular. As células germinativas são mais sensíveis à isquemia do que as células de Leidig e Sertoli, motivo pelo qual apresentam degeneração mais precoce.

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.