Li o título dessa crônica em uma camiseta que o algoritmo me apresentou numa loja virtual via Instagram no dia em que completei 55 anos, em 8 de maio. Custava R$ 100,00 e não tive coragem de pagar. Mas tive coragem de usá-la para o texto de hoje.
Dizem que envelhecer é um privilégio negado a muitos. Pois bem, aos 55, com as mãos cheias de histórias e o peito ainda pulsando feito pauta urgente, percebo que a outra opção realmente seria pior. Envelheci. Mas com o coração aceso como farol na beira do Itacaiunas em noite de breu.
Minha jornada começou sob o sinal da resistência: nasci com malária. Pequeno e frágil, já fui estreando no mundo com febre alta e tremores, travando uma luta que poucos recém-nascidos enfrentam. Como se não bastasse, o tal mosquito anófeles me reencontraria mais duas vezes, como se testasse minha resiliência. Sobrevivi a ele. E sobrevivo todos os dias às intempéries de viver em Marabá — essa cidade quente, intensa, amazônica — onde finquei raízes, teci minha história e construí pontes entre palavras e pessoas.
Leia mais:Já são 29 anos de jornalismo aqui. Três décadas em que cada manhã parece a primeira, com aquela velha mistura de ansiedade e pressa, checando o celular antes mesmo do café. Hoje, como editor do Portal CORREIO DE CARAJÁS, encontro novo vigor supervisionando uma equipe jovem, aguerrida, criativa. Gente que me lembra como eu era lá no começo: faminto por contar o que os outros calavam, por mostrar o que muitos não viam. E, não por acaso, esse time vem empilhando prêmios nos últimos anos — prêmios que me orgulham mais do que os meus próprios, porque são conquistas coletivas.
Mas a palavra sempre me atravessou em mais de um sentido. Paralelo ao jornalismo, assumi o papel de professor de Língua Portuguesa. Ensinar, para mim, é outra forma de narrar o mundo. É fazer com que o outro descubra o poder das palavras que tem dentro de si. Dar aula é ver o brilho nos olhos quando um aluno entende a diferença entre metáfora e metonímia, ou quando se emociona ao escrever seu primeiro poema.
E quando as palavras já não cabiam nos artigos ou nas aulas, virei escritor. Seis livros. Quase todos sobre Marabá, porque essa cidade mora em mim como a lembrança de um cheiro que não se perde. Escrever sobre sua história é uma tentativa de preservar o que o tempo tenta apagar. De gritar para o Brasil que aqui pulsa cultura, dor, beleza, força e contradição.
Nada disso teria sentido sem Ana Raquel. Enfermeira de profissão, guardiã da minha sanidade de vocação. Minha bússola nas tempestades, minha âncora e meu vento. Ao lado dela, vieram nossos filhos: Breno, que aos 31 anos já construiu seu caminho; e Brenda, minha filha-nome-de-poema, com 29, dona de uma doçura que equilibra o caos do mundo.
E se as palavras foram o alimento da mente, o esporte foi o combustível do corpo e do espírito. Desde jovem, sempre tive fascínio por movimentar o corpo, experimentar os limites, suar e sorrir. A natação me ensinou a respirar no ritmo certo; o vôlei, a importância do trabalho em equipe; o futebol, a imprevisibilidade das jogadas — assim como na vida. O basquete me trouxe impulso e precisão; o tênis, estratégia e paciência; e o ping-pong, agilidade e foco. Em cada bola lançada, cada ponto disputado, sempre esteve presente a mesma vibração que sinto ao concluir uma boa reportagem.
Ainda hoje, entre uma edição e outra do jornal, entre uma aula e um parágrafo, arranjo tempo para me lançar à quadra, à piscina, à mesa de jogo. O suor do esporte me devolve a juventude que o tempo tenta tirar, e o riso leve após uma partida é um lembrete de que a vida vale a pena quando a gente não apenas respira — mas se move com paixão.
Hoje, envelheci — e isso é um alívio. Envelhecer foi continuar, quando tantos pararam. Foi resistir, escrever, ensinar, amar. E, sobretudo, ter vivido o bastante para contar.
Esse é meu ofício: viver para contar!
* O autor é jornalista há 29 anos e publica crônica às quintas-feiras
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.