“Fomos apedrejados pela falta de conhecimento, da opinião de uma que não sabe o que é a região Norte do país”, declarou Robério Paulo da Silva, representante da Associação Nacional de Livrarias (ANL) e responsável por fazer a interlocução entre o mercado editorial e a 22ª Feira Pan-Amazônica do Livro, organizada pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará (Secult-PA).
Ele se referiu à escritora paraense Paloma Franca Amorim e o posicionamento foi sustentado durante entrevista coletiva realizada nesta manhã, quinta-feira (26), no Carajás Centro de Convenções e Eventos de Marabá.
A comissão organizadora da feira respondia aos questionamentos sobre a realização do Salão do Livro da Região do Sul e Sudeste do Pará, parte da programação da feira, que acontece na cidade. Durante a coletiva, a equipe foi questionada pela Reportagem do Correio de Carajás sobre a polêmica envolvendo o cartaz de divulgação da atividade em Marabá.
Leia mais:Segundo já divulgado pelo Portal , o cartaz de divulgação local – posteriormente substituído – foi alvo de críticas e grande polêmica em redes sociais, com repercussão em veículos de comunicação de abrangência nacional.
Uma dessas críticas foi feita pela escritora em questão, argumentando não haver representatividade de mulheres no evento, apesar de uma mulher negra estar retratada no material. Na entrevista, o representante da ANL ainda afirmou que a autora “faz parte de uma liga de editoras independentes e rebeldes no mercado editorial” e defendeu que o posicionamento contrário à programação se deu porque, conforme ele, as obras da escritora não têm grande abrangência.
“Já que ela não tem muitas vezes os seus livros adotados, então ela cria uma crítica, sem conhecer nosso evento e a cidade de Marabá”, declarou. Ainda sobre o assunto, ele afirmou que a temática é “delicada” e defendeu a abordagem da feira. “Eu, como homem de bem, tenho praticado algumas coisas. Tenho origens negras e indígenas e é uma temática muito delicada. Aquele cartaz estava lindo e tentaram criar uma polêmica, tentaram desdenhar de um dos maiores eventos literários do país”.
Afirmou se sentir chateado por a opinião contrária à feira ter sido divulgada pela Folha de S. Paulo. Há dois dias a escritora assinou coluna com o título “Evento literário no Pará vai na contramão dos esforços do setor”, afirmando que a Feira Pan-Amazônica está destituída de contrastes étnicos, raciais e de gênero.
#ANUNCIO
“Eu fiquei um pouco chateado, da pessoa que colocou uma opinião da Folha, não é nem uma matéria jornalística. A imprensa do Brasil inteiro conhece o que se faz há 22 anos na feira do livro, enquanto evento social, de entrada franca, de livros de escritores brancos que escrevem para a causa negra, livros indígenas. Aí dizem que não convidamos negros e tal”, declarou.
Sustentou que o evento apresenta textos literários que falam com toda a sociedade. “Em Belém levamos o selo GLS, para o público homossexual, nós levamos livros universitários que falam sobre toda nossa história. Livros específicos sobre todas as temáticas sociais do país. Da reforma agrária. Há uma preocupação nossa de trazer para a população conhecimento”.
Falou que pessoas desdenharam da feira em decorrência da polêmica. “Em um determinado momento criaram uma polêmica sobre um cartaz, querendo questionar a feira Pan-Amazônica, que já convidou uma leva de autoridades negras, amarelas e brancas que já passaram pela nossa programação. Polemizaram e desdenharam de um dos projetos mais importantes do livro do Brasil.
Robério declarou, por fim, que a autora não conhece as necessidades sociais do município “pela falta de livrarias e falta do hábito de leitura” e chamou de apedrejamento as críticas recebidas pela Secretaria Estadual de Cultura. “Quando conseguimos realizar um evento como este, na cidade, fomos apedrejados pela falta de conhecimento”.
CARTAZ
A diretora de Cultura da Secult-PA, Ana Catarina Brito, também falou sobre a situação, alegando que quando o cartaz foi divulgado a programação sequer estava divulgada. “Então a afirmação de não haver mulheres na programação e negras não é exatamente uma informação pertinente. A programação vinha sendo construída localmente, através do Melquiades Justiniano, que acompanhou todo o processo com sua equipe. Existe sim mulheres e mulheres negras na programação, existe o tema da negritude dentro da programação. Apenas esta informação não estava disponível junto com o cartaz”, declarou.
Sob essa ótica, questionada por que o órgão não manteve o cartaz ou comunicou sobre a programação e a presença de mulheres negras no evento, ela afirmou que essa “foi uma escolha da Secult-PA” após a reflexão se deveria ser ou não modificado o material de divulgação.
“Informar que a programação contempla as mulheres e as mulheres negras, isso foi informado na nota divulgada. A feira Pan Amazônica, se você digitar na internet, você sempre vai ver a presença das mulheres. Nestes 22 anos essa presença foi constante”.
Ela justificou a mudança afirmando que se deu porque a secretaria preferiu se predispor ao não enfrentamento. “É você considerar as possibilidades de interpretação de qualquer palavra, qualquer obra, qualquer livro. Quando um escritor escreve um livro com o seu sentimento ele se transforma em centenas de livros distintos, porque quem ler é que vai construir a compreensão na sua mente. Por respeitar essa diversidade de interpretação e por observar que é possível que alguém compreendeu assim, vamos respeitar e considerar”.
Por fim, defendeu que a secretaria está aberta ao diálogo. “Agora estamos tentando dar maior visibilidade possível à programação. Estamos construindo um site, essa programação ainda não está inteiramente pronta. O site não está no ar”. O evento começa amanhã, sexta-feira (27), em Marabá.
POSICIONAMENTO
Sobre a fala registrada na coletiva em Marabá, o Correio de Carajás procurou a escritora Paloma Franca Amorim, que encaminhou nota afirmando considerar a postura da organização já esperada. “É absolutamente previsível que a argumentação da comissão organizadora, representada por este “senhor de bem”, Robério Paulo da Silva, tente me desqualificar individualmente ao invés de informar, esclarecer e elucidar os pontos que foram levantados”, disse.
Acrescentou que prefere pontuar politicamente sobre o assunto, o qual considera de interesse público. Segue o posicionamento, na íntegra:
“1. Sobre o cartaz, a crítica ao valor semiótico racista da primeira imagem é defendida não apenas por mim, ou seja, não se trata de uma opinião individual de escárnio. O cartaz foi criticado por autores e autoras negros e indígenas do Pará, e do sudeste e do nordeste brasileiro como, por exemplo, Evanilton Gonçalves, da prosa baiana. Ademais, na Universidade Federal do Pará, espaço de discussão científica e de produção de conhecimento, o cartaz tem sido combatido nos cursos de comunicação social, por professores e estudantes, num nível de discussão profunda, estética e social. Por fim, movimentos sociais negros e antirracistas também condenaram essa arte que revela muito mais do que a si mesma, revela incompetência criativa, política e racismo institucional. Há uma mulher negra no cartaz, mas não há autoras negras, indígenas e não-brancas na programação principal da Feira em Belém. As que foram chamadas para Marabá surgiram depois das denúncias. Se a programação ainda não foi fechada e outras virão, isso atesta outro grau de incompetência: como a programação não foi fechada a dois dias da abertura do Salão?
2. A Feira Pan Amazônica do Livro não é nacionalmente conhecida. Talvez seja apenas pelos autores de fora que são convidados como celebridades em detrimento dos autores locais que, esse ano, não vão ganhar nem os 500 reais pagos no ano passado para quem, da terra, produziu mesas e debates. A Feira Pan Amazônica do Livro existe há 22 anos em completo silêncio no contexto editorial brasileiro, e o pior: também existe há 22 anos sem integrar-se com os próprios arredores paraenses, interiores e periferias da capital. O fato do Salão do Livro Sul e Sudeste ser o primeiro em 22 anos de Feira reforça essa tese.
3. Sou publicada pela Alameda Casa Editorial, editora de médio porte de São Paulo, que tem um projeto muito interessante de bibliodiversidade que deveria ser acatado no estado do Pará, inclusive para que a população de Marabá, abandonada pelo poder público e pela promoção cultural como disse o “senhor de bem”, pudesse gozar de autonomia e diversidade literária e formacional.
Minhas opiniões são baseadas em 22 anos de vivência de Feira do Livro em Belém, a qual frequento desde a infância. Não são opiniões baseadas em mágoa ou recalque, mas em compromisso público com a qualidade dos eventos literários organizados na região onde nasci e que poderia ser de extrema importância para o cenário nacional, mas infelizmente não é pelos desmandos do governo e de suas pastas letárgicas, elitistas e procrastinadoras”. (Luciana Marschall e Ana Mangas)
“Fomos apedrejados pela falta de conhecimento, da opinião de uma que não sabe o que é a região Norte do país”, declarou Robério Paulo da Silva, representante da Associação Nacional de Livrarias (ANL) e responsável por fazer a interlocução entre o mercado editorial e a 22ª Feira Pan-Amazônica do Livro, organizada pela Secretaria de Cultura do Estado do Pará (Secult-PA).
Ele se referiu à escritora paraense Paloma Franca Amorim e o posicionamento foi sustentado durante entrevista coletiva realizada nesta manhã, quinta-feira (26), no Carajás Centro de Convenções e Eventos de Marabá.
A comissão organizadora da feira respondia aos questionamentos sobre a realização do Salão do Livro da Região do Sul e Sudeste do Pará, parte da programação da feira, que acontece na cidade. Durante a coletiva, a equipe foi questionada pela Reportagem do Correio de Carajás sobre a polêmica envolvendo o cartaz de divulgação da atividade em Marabá.
Segundo já divulgado pelo Portal , o cartaz de divulgação local – posteriormente substituído – foi alvo de críticas e grande polêmica em redes sociais, com repercussão em veículos de comunicação de abrangência nacional.
Uma dessas críticas foi feita pela escritora em questão, argumentando não haver representatividade de mulheres no evento, apesar de uma mulher negra estar retratada no material. Na entrevista, o representante da ANL ainda afirmou que a autora “faz parte de uma liga de editoras independentes e rebeldes no mercado editorial” e defendeu que o posicionamento contrário à programação se deu porque, conforme ele, as obras da escritora não têm grande abrangência.
“Já que ela não tem muitas vezes os seus livros adotados, então ela cria uma crítica, sem conhecer nosso evento e a cidade de Marabá”, declarou. Ainda sobre o assunto, ele afirmou que a temática é “delicada” e defendeu a abordagem da feira. “Eu, como homem de bem, tenho praticado algumas coisas. Tenho origens negras e indígenas e é uma temática muito delicada. Aquele cartaz estava lindo e tentaram criar uma polêmica, tentaram desdenhar de um dos maiores eventos literários do país”.
Afirmou se sentir chateado por a opinião contrária à feira ter sido divulgada pela Folha de S. Paulo. Há dois dias a escritora assinou coluna com o título “Evento literário no Pará vai na contramão dos esforços do setor”, afirmando que a Feira Pan-Amazônica está destituída de contrastes étnicos, raciais e de gênero.
#ANUNCIO
“Eu fiquei um pouco chateado, da pessoa que colocou uma opinião da Folha, não é nem uma matéria jornalística. A imprensa do Brasil inteiro conhece o que se faz há 22 anos na feira do livro, enquanto evento social, de entrada franca, de livros de escritores brancos que escrevem para a causa negra, livros indígenas. Aí dizem que não convidamos negros e tal”, declarou.
Sustentou que o evento apresenta textos literários que falam com toda a sociedade. “Em Belém levamos o selo GLS, para o público homossexual, nós levamos livros universitários que falam sobre toda nossa história. Livros específicos sobre todas as temáticas sociais do país. Da reforma agrária. Há uma preocupação nossa de trazer para a população conhecimento”.
Falou que pessoas desdenharam da feira em decorrência da polêmica. “Em um determinado momento criaram uma polêmica sobre um cartaz, querendo questionar a feira Pan-Amazônica, que já convidou uma leva de autoridades negras, amarelas e brancas que já passaram pela nossa programação. Polemizaram e desdenharam de um dos projetos mais importantes do livro do Brasil.
Robério declarou, por fim, que a autora não conhece as necessidades sociais do município “pela falta de livrarias e falta do hábito de leitura” e chamou de apedrejamento as críticas recebidas pela Secretaria Estadual de Cultura. “Quando conseguimos realizar um evento como este, na cidade, fomos apedrejados pela falta de conhecimento”.
CARTAZ
A diretora de Cultura da Secult-PA, Ana Catarina Brito, também falou sobre a situação, alegando que quando o cartaz foi divulgado a programação sequer estava divulgada. “Então a afirmação de não haver mulheres na programação e negras não é exatamente uma informação pertinente. A programação vinha sendo construída localmente, através do Melquiades Justiniano, que acompanhou todo o processo com sua equipe. Existe sim mulheres e mulheres negras na programação, existe o tema da negritude dentro da programação. Apenas esta informação não estava disponível junto com o cartaz”, declarou.
Sob essa ótica, questionada por que o órgão não manteve o cartaz ou comunicou sobre a programação e a presença de mulheres negras no evento, ela afirmou que essa “foi uma escolha da Secult-PA” após a reflexão se deveria ser ou não modificado o material de divulgação.
“Informar que a programação contempla as mulheres e as mulheres negras, isso foi informado na nota divulgada. A feira Pan Amazônica, se você digitar na internet, você sempre vai ver a presença das mulheres. Nestes 22 anos essa presença foi constante”.
Ela justificou a mudança afirmando que se deu porque a secretaria preferiu se predispor ao não enfrentamento. “É você considerar as possibilidades de interpretação de qualquer palavra, qualquer obra, qualquer livro. Quando um escritor escreve um livro com o seu sentimento ele se transforma em centenas de livros distintos, porque quem ler é que vai construir a compreensão na sua mente. Por respeitar essa diversidade de interpretação e por observar que é possível que alguém compreendeu assim, vamos respeitar e considerar”.
Por fim, defendeu que a secretaria está aberta ao diálogo. “Agora estamos tentando dar maior visibilidade possível à programação. Estamos construindo um site, essa programação ainda não está inteiramente pronta. O site não está no ar”. O evento começa amanhã, sexta-feira (27), em Marabá.
POSICIONAMENTO
Sobre a fala registrada na coletiva em Marabá, o Correio de Carajás procurou a escritora Paloma Franca Amorim, que encaminhou nota afirmando considerar a postura da organização já esperada. “É absolutamente previsível que a argumentação da comissão organizadora, representada por este “senhor de bem”, Robério Paulo da Silva, tente me desqualificar individualmente ao invés de informar, esclarecer e elucidar os pontos que foram levantados”, disse.
Acrescentou que prefere pontuar politicamente sobre o assunto, o qual considera de interesse público. Segue o posicionamento, na íntegra:
“1. Sobre o cartaz, a crítica ao valor semiótico racista da primeira imagem é defendida não apenas por mim, ou seja, não se trata de uma opinião individual de escárnio. O cartaz foi criticado por autores e autoras negros e indígenas do Pará, e do sudeste e do nordeste brasileiro como, por exemplo, Evanilton Gonçalves, da prosa baiana. Ademais, na Universidade Federal do Pará, espaço de discussão científica e de produção de conhecimento, o cartaz tem sido combatido nos cursos de comunicação social, por professores e estudantes, num nível de discussão profunda, estética e social. Por fim, movimentos sociais negros e antirracistas também condenaram essa arte que revela muito mais do que a si mesma, revela incompetência criativa, política e racismo institucional. Há uma mulher negra no cartaz, mas não há autoras negras, indígenas e não-brancas na programação principal da Feira em Belém. As que foram chamadas para Marabá surgiram depois das denúncias. Se a programação ainda não foi fechada e outras virão, isso atesta outro grau de incompetência: como a programação não foi fechada a dois dias da abertura do Salão?
2. A Feira Pan Amazônica do Livro não é nacionalmente conhecida. Talvez seja apenas pelos autores de fora que são convidados como celebridades em detrimento dos autores locais que, esse ano, não vão ganhar nem os 500 reais pagos no ano passado para quem, da terra, produziu mesas e debates. A Feira Pan Amazônica do Livro existe há 22 anos em completo silêncio no contexto editorial brasileiro, e o pior: também existe há 22 anos sem integrar-se com os próprios arredores paraenses, interiores e periferias da capital. O fato do Salão do Livro Sul e Sudeste ser o primeiro em 22 anos de Feira reforça essa tese.
3. Sou publicada pela Alameda Casa Editorial, editora de médio porte de São Paulo, que tem um projeto muito interessante de bibliodiversidade que deveria ser acatado no estado do Pará, inclusive para que a população de Marabá, abandonada pelo poder público e pela promoção cultural como disse o “senhor de bem”, pudesse gozar de autonomia e diversidade literária e formacional.
Minhas opiniões são baseadas em 22 anos de vivência de Feira do Livro em Belém, a qual frequento desde a infância. Não são opiniões baseadas em mágoa ou recalque, mas em compromisso público com a qualidade dos eventos literários organizados na região onde nasci e que poderia ser de extrema importância para o cenário nacional, mas infelizmente não é pelos desmandos do governo e de suas pastas letárgicas, elitistas e procrastinadoras”. (Luciana Marschall e Ana Mangas)