Correio de Carajás

Enchente: Comunidade ajuda na construção dos abrigos na Folha 33

Conforme o mês de março avança e as chuvas se intensificam, o nível dos rios Itacaiunas e Tocantins aumentam, deixando mais famílias sem ter para onde ir. Na manhã desta terça-feira, 17, foi a vez da Folha 33, na Nova Marabá, registrar as primeiras famílias que já estão precisando deixar seus lares, em busca dos abrigos. Em meio à correria, o sentimento de cooperativismo aflorou em moradores das partes mais altas da 33.

O jovem Ronald Mário tem 18 anos e vive na localidade desde que nasceu. Cresceu convivendo com a realidade das famílias que vivem na região mais próxima do Rio Itacaiunas na Folha 33. “Desde pequeno eu lembro do pessoal fazendo suas mudanças porque a água tava chegando na beira das casas. Nunca fui afetado por isso, pois moro em uma parte mais alta, onde a água não alcança”, relembra Ronald.

Ronald Mário é morador da Folha 33 e está como voluntário na construção dos abrigos. (Foto: Evangelista Rocha)

Por ter sempre visto a situação da comunidade em período de cheias, Ronald se sensibilizou e resolveu tomar uma atitude, sendo voluntário no apoio da construção dos abrigos. “Foi de uma hora para outra, a maioria do pessoal aqui saiu pra trabalhar e quando voltou a água já estava chegando à porta. Eu me coloco na situação dessas famílias, por isso ajudo nessa força-tarefa para entregar os abrigos antes que a água atinja mais moradores”, diz Ronald.

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Apesar da correria, Ronald diz que no final será gratificante ver que pôde fazer algo pela comunidade flagelada. “A gente perde até o chão vendo famílias correndo contra o tempo, algumas que perderam documentos ou móveis e eletrodomésticos que ficaram prejudicados, mas no fim é bom saber que pudemos fazer algo para ajudar”, alegra-se Ronald.

Diversas residências da localidade já estão sendo invadidas pela água. (Foto: Evangelista Rocha)

Para Francisco Mendes, que vive há 10 anos na Folha 33 e está na supervisão da construção dos abrigos, toda ajuda é necessária para entregá-los a tempo, tendo em vista que nada foi acordado oficialmente. “Ainda não acertaram nada conosco, só pediram para começarmos a levantar as casinhas. Estamos fazendo o que podemos, já que a população está precisando, toda ajuda bem-vinda”, diz Francisco.

Francisco Mendes está a frente da construção dos abrigos e diz que apesar de não haver nada oficial, toda ajuda é bem-vinda. (Foto: Evangelista Rocha)

CORRIDA DO CADASTRO

Um atendimento itinerante foi disponibilizado no local onde os abrigos estão sendo construídos na Folha 33, com duas servidoras públicas do Centro de Referência de Assistência Social (CRAS) realizando o cadastramento das famílias atingidas.

Duas servidoras cedidas pelo CRAS se dividem para realizar os cadastramentos. (Foto: Evangelista Rocha)

Aline da Silva é uma das servidoras que está realizando o cadastro e informou que mais de 100 famílias estão previstas para serem cadastradas ainda nesta terça para o abrigo. “Devido à demanda, a Defesa Civil decidiu realizar os atendimentos itinerantes, ou seja, no local onde serão construídos os abrigos. Além do RG, CPF e comprovante de residência, também solicitamos que seja informado se eles possuem algum benefício social, como Bolsa Família, por exemplo”, explica Aline.

Na fila para realizar o cadastro, as famílias estavam levando a situação com humor, para evitar o desespero. A dona de casa, Benedita Santos, vive na Folha 33 há 18 anos com seus cinco filhos e diz que quase todos os anos é necessário sair de casa para evitar a água.

Benedita Santos estava na fila para o cadastro e diz que o maior perrengue é a mudança. (Foto: Evangelista Rocha)

“O transtorno maior é a mudança, pois temos que fazer o cadastro pelo menos para garantirmos que os caminhões nos ajudem a sair de casa. Além da questão financeira de não poder ir para o aluguel e ter que vir para os abrigos, que é a única saída, já que não temos outra saída”, explica Benedita.

Um pouco mais atrás na fila estava o funileiro Jucier Cruz, que vive há 10 anos também na 33, e reclama da situação de todo ano precisar se mudar por conta das cheias. “Quando um ano falha, o outro não nega, e precisamos mudar. O maior perrengue é a mudança mesmo, ter que organizar todas as coisas para levar a um local onde há um aglomerado de pessoas, isso é um pouco ruim”, queixa-se Jucier.

O funileiro Jucier Cruz também estava se cadastrando e pensa que a parte ruim é o aglomerado de pessoas nos abrigos. (Foto: Evangelista Rocha)

CORONAVIRUS?

Na construção dos abrigos, Ronald carregava consigo uma garrafa de álcool em gel para distribuir aos demais colaboradores. “Ainda não chegou a Marabá, mas como sabemos que tem muita gente entrando e saindo da cidade, é importante se prevenir”, alerta Ronald.

Ronald preveniu as equipes que trabalham na construção dos abrigos distribuindo álcool em gel. (Foto: Evangelista Rocha)

Na manhã da desta quarta-feira, 18, está prevista uma coletiva de imprensa no gabinete do prefeito, onde serão prestados os esclarecimentos, sobre as medidas que estão sendo tomadas com relação à prevenção do Coronavírus, em Marabá. (Zeus Bandeira)