Correio de Carajás

Em Parauapebas, 15 transexuais fazem tratamento hormonal por meio do TFD

Em Parauapebas, 15 transexuais fazem tratamento hormonal por meio do TFD

A partir do Tratamento Fora de Domicílio (TFD), 15 transexuais de Parauapebas estão conseguindo passar por tratamento hormonal em Belém, com intervenção da Organização Não Governamental (ONG) Frente de Apoio e Inclusão aos Transgêneros e Travestis (FAIT). A possibilidade de mudança do nome na documentação é outro avanço comemorado, tendo sido emitidas 35 Carteiras de Identidade Social, no município, desde o ano passado.

Há dois anos, o pedagogo e transexual Marcos Martins fundou a ong FAIT e ele também passa pela transformação física. “Já estou há um ano fazendo tratamento a minha mudança é gritante, já tenho barba, a voz mudou, a textura da pele, minhas características físicas. Não fiz nenhuma intervenção cirúrgica porque a fila de esperara do SUS é um pouco grande e a cirurgia só pode ser feita após dois anos de tratamento”. O tratamento, destaca, precisa ser contínuo para que sejam mantidas as mudanças adquiridas.   

Sobre os novos documentos, Marcos Martins detalha o sentimento de conquista. “A mudança e adequação dos documentos representa respeito e reconhecimento, e mais do que tudo a dignidade, porque você não ser chamado pelo nome que você se identifica, pelo gênero que você se identifica, é uma violência. Todas às vezes que você precisa mostrar um documento e não condiz com a sua imagem você se sente violentado”, relata.

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Ele relembra que foi o primeiro de Parauapebas a fazer a mudança no registro. “Consequentemente fui o primeiro homem trans a fazer RG, Título, Carteira de Trabalho, fui o primeiro a fazer alistamento”, conta, mas na época Marcos fez a mudança no Maranhão, seu estado de origem.

Pelo cartório de Parauapebas, cinco transexuais já conseguiram fazer a retificação do nome no registro de nascimento, com orientação da FAIT. Sobre a Carteira de Identidade Social, Parauapebas foi o primeiro município do Pará, fora da região metropolitana, a emitir o documento à comunidade LGBT.

O coordenador do Atendimento ao Cidadão de Parauapebas (SAC), Denis Gabriel, conta que a emissão do documento está disponível desde o ano passado, no entanto, a demanda continua pequena. Ele enfatiza que os interessados podem procurar a sede do SAC para fazer a mudança, pois a equipe local passou por qualificação para atender essa demanda e a emissão do documento segue os mesmos trâmites das demais documentações.   

Fabrício Antônio Costa, 27 anos, foi a última pessoa a receber Carteira de Identidade Social e conta que há quatro anos se descobriu trans. “Foi a mudança de uma vida inteira, tinha dúvidas sobre a aparência, a roupa, e todas essas dúvidas foram sendo descobertas com pessoas que passam pelo mesmo momento de descoberta. Foi ao conversar com outras pessoas que percebi como eu era”, relata.

Fabrício trabalha como atendente e conta que nunca teve dificuldade na seleção de empregos. “Sempre fui bem recebido, as empresas têm uma boa aceitação, mas o constrangimento era na hora de apresentar os documentos, com o nome diferente, no currículo estava um nome e nos documentos outro”. Ele também iniciou o tratamento hormonal e diz já conseguir ver mudança na voz e na penugem do rosto. (Theíza Cristhine)