Correio de Carajás

Educação para os povos do campo: marca da Unifesspa

Licenciatura em Educação do Campo se fortalece e valoriza a nova geração de produtores do campo

Maura Pereira: “É um curso que foi criado para atender uma demanda histórica de negação do acesso à escola”.

A região sul e sudeste do Pará é marcada pela grande quantidade de assentamentos e acampamentos de famílias de camponeses que lutam pela reforma agrária. De acordo com o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (INCRA), existem 504 projetos de assentamento na região. Os movimentos sociais têm a educação como pauta prioritária. Nesse contexto, pautou-se, junto a Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa) a criação de cursos que atendessem, especificamente, aos assentados da reforma agrária, que também têm o direito do acesso ao ensino superior. Assim, a partir de demandas dos atores sociais, foram criados os cursos de Educação do Campo e Direito da Terra.

A licenciatura em Educação do Campo foi criada, nacionalmente, em 2007, para trabalhar na formação de professores da educação básica para atuarem nas escolas do campo. Na região, o curso nasce em 2009, ainda no antigo campus avançado da Universidade Federal do Pará (UFPA) em Marabá. Um documento realizado por atores sociais foi entregue, presencialmente, ao reitor da UFPA pelo Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará (FETAGRI-PA), na ocasião, o reitor garantiu que seria implantado o curso de licenciatura em Educação do Campo.

Doutora em Educação, Maura Pereira dos Anjos é educadora e, atualmente, diretora da Faculdade de Educação do Campo. A professora avalia que a criação da licenciatura é uma forma de garantir o acesso à universidade a aqueles que, por muitos anos, não tiveram a oportunidade: “É um curso que foi criado para atender uma demanda histórica de negação do acesso à escola, principalmente de educação básica”, declara.

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A licenciatura busca formar filhos de agricultores, de lideranças, indígenas para assumir as escolas do campo e também pra ajudar a construir a luta pelo direito, não só a educação, mas também a saúde e outros que esses povos tem solicitado a universidade.

O processo de seleção é diferente, haja vista que os alunos do campo muitas vezes terminam o ensino médio em programas como o Educação de Jovens e Adultos (EJA) ou no Sistema Modular de Ensino (SOME) com ensino personalizado. A primeira fase é uma redação e a segunda, uma entrevista com avaliação da documentação que prove o vínculo da pessoa com a comunidade, por se tratar de um curso com demanda específica de atender esses atores. Essa seleção ocorre anualmente, depois do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM).

O curso inicia com disciplinas teóricas e gerais sobre a educação com enfoque na formação dos professores. Depois, é dividido em quatro ênfases: matemática, letras e linguagem, ciências humanas e sociais e ciências agrárias e da natureza. A proposta de ser interdisciplinar tem o objetivo de preparar os graduandos para atuarem com diversas matérias na educação básica. Pela abrangência em todas as áreas do conhecimento, a faculdade de educação do campo tem o maior corpo docente da Unifesspa, totalizando 26 professores.

A graduação não funciona na modalidade intervalar, é regular e tem duração o ano inteiro, sendo janeiro e fevereiro, julho e agosto meses de intensivo presencial. Já de março a junho, setembro a dezembro, meses de estágios de campo e pesquisas socioeducacionais nas comunidades de origem dos discentes.

Ao longo de 14 anos, a licenciatura em Educação do Campo acumula 214 formados. Foram 4 turmas até 2014 e, após a criação da Unifesspa, 8 turmas ingressaram. Atualmente, 104 alunos estão com status de formando, devendo alguma disciplina ou terminando trabalho de conclusão de curso. O corpo discente, hoje, atinge 3 estados: Pará, Maranhão e Tocantins.