Correio de Carajás

Dor e revolta no adeus a Dayse

Uma atmosfera de dor assoladora e de uma revolta inconsolável tomou conta do Cemitério da Saudade (Nova Marabá) no final da tarde de ontem (1º), no sepultamento de Dayse Dyana Sousa e Silva, de 35 anos, morta na manhã de domingo (31), em Parauapebas, tendo como único suspeito o agente do DETRAN, Diógenes dos Santos Samaritano, que era marido de Dayse. A polícia não tem dúvidas de que ele a jogou da janela do segundo piso da casa onde moravam.

Familiares da vítima dizem que ela tentou de tudo para salvar o casamento, mas pagou com a vida. Somente agora, depois que o pior aconteceu, é possível perceber que todos os sinais de que isso poderia ocorrer estavam presentes na relação do casal.

Para a reportagem do Jornal CORREIO, durante o enterro de Dayse, familiares dela disseram que as agressões que ela sofria começaram desde a lua de mel, quando Diógenes bateu nela de toalha para não deixar marcas. Em princípio ela não quis contar, mas com o tempo as crises foram só piorando, até o dia em que ele quebrou o braço dela durante lima das brigas.

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Aquele momento teria sido a gota d’água, pois Dayse denunciou o companheiro violento ao Ministério Público e foi embora. Ocorre que o filho do casal, ainda muito bebê, pedia o tempo inteiro para estar perto do pai, pois era muito apegado a Diógenes.

Os pedidos da criança – tão sinceros e comoventes – fizeram com que Dayse colocasse novamente sua vida em risco. Ela tinha esperança de superar toda essa crise e reconstruir sua família. A vítima foi levou o acusado para uma célula de casais na igreja que frequentava, como forma de salvar o casamento. Mas nada disso adiantou.

As violências física e psicológica, continuaram. Ela havia feito um concurso também para o DETRAN, igualmente o companheiro, mas para ser lotada em Marabá e estava entre os classificados, com chance de ser convocada. Diógenes poderia ter ficado feliz com isso, mas não valorizou a vitória pessoal de sua companheira. Pelo contrário, as brigas só aumentaram.

O estopim teria sido a condenação dele, no processo por lesões corporais cometidas contra ela. Quando a sentença saiu, eles haviam reatado. Além disso, ele não chegou a ser preso. A pena foi uma prestação de serviços à comunidade. Mas ele não se exemplou, não refletiu. Fez a única coisa que ninguém tem o direito de fazer.

CORAÇÃO SANGRANDO

Mesmo dilacerada pela dor singular que somente algo inexorável como a morte pode causar, a advogada e professora Wilma Lemos Sousa e Silva, mãe de Dayse, ainda teve controle emocional suficiente para dar atenção à Imprensa e também para agradecer a todos que a auxiliaram nesse momento que só quem passou pode descrever.

Wilma lamentou pelo seu neto, que agora é órfão de mãe. “Meu coração está sagrando. É um pesadelo, não sei nem o que falar, mas eu quero agradecer à polícia de Parauapebas, que foi eficiente no seu trabalho: pegou, prendeu e fez todo o procedimento… e à OAB que em momento algum mediu esforço para estar comigo”, declarou, agradecendo ainda aos colegas, amigos, alunos e ex-alunos que a ajudaram. “Sinto-me amparada por todos”.

Com a voz turvada pelas lágrimas, ela disse estar vivendo um pesadelo. “Deus me deu uma filha maravilhosa, guerreira, batalhadora, que tinha seus ideais e fez de tudo para restaurar esse casamento, mas ela se apaixonou pela pessoa errada, uma pessoa sem controle emocional”, resumiu, acrescentando que acredita não apenas na Justiça divina, mas também na Justiça dos homens. (Chagas Filho com informações de Josseli Carvalho)