Correio de Carajás

Doença de Crohn

A doença de Crohn (DC) e a retocolite ulcerativa (RCU) idiopática são as duas principais formas de doença inflamatória intestinal (DII) crônica que se caracterizam por períodos de remissão e exacerbação. O pico de incidência ocorre entre 15 e 35 anos, porém pode surgir em qualquer idade.

O que se sabe hoje é que essas doenças resultam de uma resposta imune inapropriada aos antígenos das bactérias da microbiota intestinal em indivíduos geneticamente suscetíveis. Dados epidemiológicos sugerem que fatores ambientais (como toxinas, agentes infecciosos e anti-inflamatórios não esteroides [AINEs]) podem ser os principais promotores dessa resposta imunológica inadequada.

A Doença de Crohn (DC) pode manifestar-se em qualquer segmento do tubo digestivo, da cavidade oral ao ânus. Possui extensão, gravidade e comportamento variáveis, o que determina uma ampla diversidade de apresentações clínicas. O reconhecimento das diferenças nas características clínicas e nos subgrupos de pacientes é fundamental para guiar a avaliação e o tratamento adequados.

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É comum a doença de Crohn se manifestar em intervalos irregulares ao longo da vida. As crises podem variar de acordo com a intensidade e podem ser leves ou graves, breves ou mais longas. Geralmente, crises graves podem provocar dor intensa de forma constante, febre e desidratação”, alerta a Dra. Alana Borges.

Diarreia, dor abdominal, perda de peso, sensação de fraqueza e febre são sintomas comuns. Também pode haver manifestações extraintestinais, mais comumente articulares. A doença perianal (fistulas, fissuras ou plicomas inflamatórios) está presente em até 10% dos pacientes no momento do diagnóstico, e aproximadamente 30% a desenvolverão ao longo da vida.

O envolvimento do esôfago, do estômago, do duodeno e do jejuno proximal isoladamente é raro. O íleo é o segmento intestinal mais afetado (envolvido em até 70% dos casos). A inflamação estende-se para o cólon em até 40% dos indivíduos. O quadro clínico mais comum no comportamento inflamatório é dor abdominal em cólica, diarreia aquosa e perda de peso.

Além disso, a DC ileocecal pode mimetizar uma apendicite aguda com febre, dor no quadrante inferior do abdome, náuseas e vômitos. Ocasionalmente, pode-se palpar uma massa inflamatória associada ou não a um abscesso. Em cerca de 25% dos casos, pode haver envolvimento predominantemente colônico, nos quais a diarreia passa a apresentar sangue e/ou pus, sendo mais difícil o diagnóstico diferencial com a RCU.

Classicamente, a DC não envolve o reto, mas este costuma estar envolvido quando há colite extensa em até 50% dos casos. O comportamento fibroestenótico leva a um quadro clínico de suboclusão intestinal com distensão, dores abdominais, vômitos e redução ou parada de eliminação das fezes.

A doença perfurante (ou penetrante) é caracterizada pela perfuração da parede intestinal, que estabelece um trajeto fistuloso entre alças, entre o intestino e algum órgão adjacente ou, até mesmo, com a parede abdominal. A perfuração livre para a cavidade é mais rara, mas pode ocorrer.

A escolha do tratamento adequado para a doença de Crohn depende da avaliação da gravi-dade, da localização e do comportamento da doença em cada indivíduo. O principal objetivo sempre é induzir a remissão nos pacientes.

No entanto, é possível falar de remissão clínica, laboratorial ou endoscópica. A cicatrização de mucosa é um tópico cada vez mais discutido a partir do surgimento da terapêutica biológica (infliximabe, adalimumabe e outros anticorpos monoclonais). Existem vários instrumentos para avaliação de atividade da DC, mas nenhum deles é de fácil utilização na prática clínica.

Por essa razão, no dia a dia são utilizados a sintomatologia e os marcadores inflamatórios séricos (velocidade de sedimentação globular [VSG] e proteína C reativa) como parâmetros para essa avaliação. É necessário estimular a participação do paciente nas decisões terapêuticas, pesando a eficácia e os efeitos adversos de cada medicamento.

* O autor é especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.

 

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.