Responsável pelo Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) , o coronel da Aeronáutica Alexandre Gomes da Silva pediu demissão do cargo de diretor de Avaliação da Educação Básica do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Ele manifestou a intenção de sair do posto há algumas semanas, cerca de dois meses após assumir a função. A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União nesta quarta-feira.
Um diretor substituto, Anderson Furtado Oliveira, servidor de carreira do órgão, foi nomeado recentemente e assumirá o posto interinamente. Nos bastidores, a demissão de Silva é atribuída a uma falta de experiência e de capacidade para lidar com as pressões do cargo, em meio a incertezas e dificuldades relacionadas à elaboração das avaliações educacionais neste ano. Interlocutores afirmaram ao GLOBO que o pedido de exoneração teria sido feito por questões “pessoais”.
Silva foi o quinto titular da Diretoria de Avaliação da Educação Básica (Daeb) em menos de dois anos e meio nomeado pelo governo Bolsonaro. A saída dele, que já era comentada entre servidores do instituto, traz o receio de impactos em avaliações importantes como o Enem e o Saeb, de onde se origina o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Indefinições em relação ao Enem, que até agora não tem datas anunciadas, também têm levado preocupação ao quadro técnico.
Leia mais:A intensa troca de diretores da Daeb no governo Bolsonaro leva a lapsos de descontinuidade na gestão, apontam servidores. Isso porque cada diretor precisa de tempo para se inteirar dos temas, montar equipes e engrenar nas atividades. Principalmente porque a maior parte dos escolhidos na atual gestão são pessoas sem experiência na área.
É o caso do próprio Alexandre Gomes da Silva. Segundo resumo do currículo divulgado no site do MEC, Silva atuou como piloto, investigador de acidentes aéreos e na área de comunicação na Aeronáutica, além de trabalhar no setor de relações institucionais da Presidência da República. Foi também assessor parlamentar do Ministério da Defesa.
Ele tem formação em Ciências Aeronáuticas pela Academia da Força Aérea, pós-graduação em Segurança da Aviação e Aeronavegabilidade Continuada pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica e especialização em Gestão Estratégica de Pessoas pela Universidade Federal de Minas Gerais. Era assessor parlamentar, lotado no gabinete do ministro da Educação, Milton Ribeiro, antes de ser conduzido ao cargo de diretor no Inep.
Nomeados
O primeiro nomeado pelo governo Bolsonaro para a diretoria do Inep responsável pelo Enem foi o economista Murilo Resende, indicado pelo movimento Escola sem Partido e seguidor do ideólogo de direita Olavo de Carvalho. Ele ficou apenas dois dias no cargo.
O GLOBO mostrou, à época, que Resende havia chamado professores de “manipuladores” e “gente que não quer estudar”. A repercussão negativa das declarações levou o governo a procurar outro perfil. Antes de ser nomeado, Resende participou de reuniões e circulou pelo Inep, mas ficou oficialmente no cargo por apenas dois dias.
O segundo diretor no cargo indicado pelo atual governo foi o economista Paulo César Teixeira, que ficou pouco mais de um mês na função. Ele deixou o posto em solidariedade ao então chefe, Marcus Vinicius Rodrigues, demitido da presidência do Inep pelo ministro da Educação à época, Ricardo Vélez Rodríguez.
Depois, a diretoria foi ocupada por Francisco Garonce, que era coordenador-geral de Educação para o trânsito do Departamento Nacional de Trânsito (Denatran). Ele, no entanto, foi demitido após quebrar o protocolo de segurança do Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja), voltado a quem quer obter certificado de ensino fundamental e médio.
O quarto indicado ao cargo foi o general da reserva Carlos Roberto Pinto de Souza para a coordenação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que morreu recentemente vítima da Covid-19. Ele foi subtituído pelo coronel da FAB Alexandre Gomes da Silva.
Em meio a essas constantes trocas, com cinco diretores efetivos nomeados em cerca de dois anos e dois meses de governo, houve ainda três interinos que ficaram no cargo como substitutos. A descontinuidade na gestão e o tempo que cada diretor leva para se inteirar dos temas são apontados como problemas decorrentes das substituições frequentes no cargo, segundo servidores ouvidos pelo GLOBO.
(Fonte: Ig/ultimosegundo)