Correio de Carajás

Dilema do parauapebense para viver com um salário mínimo

Lucimaria faz ginástica e milagre com o salário que ganha para fazer frente às despesas domésticas

O salário mínimo de R$ 1.100 teve reajuste de R$ 55,00 comparado ao valor de 2020. Viver com esta remuneração no Brasil é, no mínimo, um desafio. Em Parauapebas, onde o custo de vida é bastante elevado, esta realidade é bastante delicada. Exemplo clássico é o da auxiliar em serviços gerais Lucimaria Oliveira Reis, que precisa fazer malabarismos com as contas.

Há sete meses Lucimaria trabalha de carteira assinada. Devido à distância da casa até o trabalho, somado ao fato do transporte público não passar no local, decidiu investir na compra de uma moto Honda Biz. Para que isso fosse possível, pediu emprestado R$3 mil, dividido em parcelas de R$ 500.

A auxiliar gasta R$15 por semana com combustível, ou seja, somente com transporte, o gasto mensal é de R$560, sobrando R$540. “É impossível pagar todas as despesas com um salário mínimo”, decreta Lucimaria.

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Mas, se ela usasse o aplicativo de transporte a despesa seria de R$780 por mês, pagando R$ 30 a corrida, de ida e volta ao trabalho; se a opção fosse mototáxi, o valor seria de R$520.

As despesas continuam: R$147 de energia; R$22 de água; e R$ 500 nas compras do supermercado; isso, quando não precisa acrescentar mais R$100 para comprar o botijão de gás. “Tenho três filhas, como elas estão em casa em tempo integral, já que as aulas estão sendo remotas por causa da pandemia, a conta no supermercado aumentou”, desespera-se.

Para Lucimaria, a estratégia adotada na economia doméstica é sempre pesquisar os preços e optar pelo mais em conta. As compras no supermercado são feitas uma vez por mês, sem fugir da lista dos itens básicos. Mas como ela mesma cita, até o básico está ficando cada vez mais caro, como o tradicional arroz e feijão. “À noite, geralmente faço uma macarronada para a família, é a maneira que encontrei para fugir dos alimentos com preço salgado”.

Até agora, somando tudo as despesas, chega a R$1.229, ultrapassando 129 do salário. A conta só não fica maior porque ela mora em casa própria, no Residencial Alto Bonito, um empreendimento habitacional do governo. Mas o aluguel de uma casa do mesmo tamanho e no mesmo bairro que o de Lucimaria, custa, em média, R$ 600. Valor que pode aumentar muito mais, dependendo do bairro e do tamanho do imóvel.

A entrevistada consegue, sim, pagar as contas em dia, mas ela revela que isso só é possível juntando com a remuneração do marido, que conta com benefício.

No entanto, muitos moradores no município pagam aluguel e, ao ser contabilizado com ou outros já citados, a soma chegaria a R$1.829, o que seria o equivalente ao custo médio para viver em Parauapebas por mês.  Sem contar os gastos com roupas, sapatos, lazer, medicação, que mesmo não fazendo parte dos itens essenciais, são necessários para o ser humano.

Pesquisa

A Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos (PNCBA), publicada em dezembro de 2020, revela que o salário mínimo necessário para o brasileiro seria de R$5.304,90, valor bem superior ao da realidade.

O banco de dados da PNCBA apresenta os preços médios, o valor do conjunto dos produtos e a jornada de trabalho que um trabalhador precisa cumprir, em todas as capitais, para adquirir a cesta. Os dados permitem a todos os segmentos da sociedade conhecer, estudar e refletir sobre o valor da alimentação básica no país.

Os itens básicos pesquisados foram definidos pelo Decreto Lei nº 399, de 30 de abril de 1938, que regulamentou o salário mínimo no Brasil e está vigente até os dias atuais. (Theíza Cristhine)