Correio de Carajás

“Depoimento é questionável, perícia não”, diz diretor do CPC sobre atentado a Júlio César

O delegado-geral de Polícia Civil do Estado Pará, Walter Resende, revelou na manhã desta quarta-feira (11), que a “dinâmica” do que foi narrado nos depoimentos sobre o atentado ao candidato a prefeito de Parauapebas, Júlio César Araújo Oliveira, no dia 14 de outubro, “diverge totalmente” do laudo apresentado pelo Centro de Perícias Científicas Renato Chaves.

“O laudo que nós estamos recebendo é muito claro, muito definitivo. O que consta nos autos de que teria ocorrido um atentado contra a vida com o carro em uma velocidade aproximada de 70 ou 80 quilômetros por hora está totalmente descartada”, destaca Walter Resende, durante coletiva concedida à Imprensa, no 23º Batalhão de Polícia Militar, em Parauapebas.

Cientificamente, segundo o delegado, está comprovado que para os tipos de perfurações que estavam no veículo, ou a caminhonete estava parada ou, se em movimento, estaria no máximo a nove quilômetros por hora. Foram oito disparos no veículo, sendo três no para-brisa.

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O delegado-geral afirma que, com base no laudo, muda a condução das investigações. “Com esse laudo a gente pode afirmar que o evento não ocorreu da maneira que foi relatada”.

A coletiva teve início com a apresentação do perito Walldiney Pedra Gurgel, um dos responsáveis pelo caso, detalhando à imprensa como foi para concluir a velocidade do veículo. Um laudo foi referente à análise de uma evidência balística encontrada no interior do veículo; o outro é uma análise sobre a trajetória dos disparos na camionete.

O inquérito policial sobre o caso permanece no intuito de esclarecer totalmente a conduta e a participação de cada pessoa que prestou depoimento. Porém, cientificamente as informações prestadas foram desmascaradas pelas perícias, conforme citou o delegado-geral.

Walter Resende revelou que um fato lhe chamou a atenção ainda no início das investigações: “A vítima possui um carro blindado e exatamente nesse dia ele optou em deixar o seu veículo blindado para usar outro”. E, ainda, duas versões foram apresentadas, sendo que a primeira dizia que o carro estava com problema mecânico, já outra pessoa disse que o veículo “seria lavado”.   

Um dos questionamentos dos jornalistas é o que acontece em caso de falsa comunicação de crime. Em resposta, o delegado-geral disse que a falsa comunicação de crime e o falso testemunho são previstos na legislação, que serão certamente vislumbrados no decorrer das investigações, uma vez que as pessoas que foram ouvidas serão chamadas para novo depoimento.

Mas em caso comprovado de confirmação de falsa comunicação e denunciação caluniosa, cabe também ao Estado, a opção de processar e pedir indenização e ressarcimento de todos os gastos durante o inquérito.

Já sobre os disparos, teriam sido efetuados por uma pistola 380, mas ainda não há definição se é o mesmo calibre que atingiu o candidato.

O diretor do CPCRC, Celso Mascarenhas, presente na coletiva, disse que os envolvidos podem fazer questionamentos sobre o resultado da perícia. “Todo mundo tem direito de questionar um depoimento, um inquérito, mas a perícia não. “Quem vier questionar vai ter que provar pela nossa mesma metodologia. O evento ocorreu, houve disparo, mas o modus operandi dos disparos entra em contradição com os depoimentos”, reafirmou.

Celso Mascarenhas: “Quem vier questionar vai ter que provar pela nossa mesma metodologia”

Mascarenhas disse ainda que havia a possibilidade de os disparos terem acertado outras pessoas, caso o veículo estivesse em alta velocidade.

ENTENDA O CASO

Na noite do dia 14 de outubro, o candidato a prefeito Júlio César Araújo Oliveira, 32 anos, relatou que sofreu um atentado e foi atingido por um tiro, quando voltava de compromisso na Vila Carimã, em Parauapebas.

Júlio César viajava na frente, no banco do carona, em uma caminhonete Hilux, acompanhado do motorista e mais duas pessoas. Ainda na estrada vicinal, por volta das 21h, se depararam com uma outra caminhonete atravessada na pista e resolveram não parar. Desviaram do “bloqueio” e seguiram em alta velocidade, mas foram perseguidos pelos ocupantes do outro veículo. Eram homens encapuzados e portando armas aparentemente de grosso calibre.

No dia 28 de outubro foi realizada uma perícia complementar no veículo, com o intuito de fazer algumas simulações, e na noite do dia 29 foi realizada a reprodução simulada dos fatos com as quatro pessoas que estavam no veículo no dia do atentado.

Procurada pela Reportagem do CORREIO DE CARAJÁS, a assessoria do candidato Júlio César informou que o posicionamento dele seria apresentado por meio de “live” em rede social, às 19 horas desta quarta-feira. (Theíza Cristhine e Ronaldo Modesto)