Correio de Carajás

Degolou desafeto e saiu com cabeça na mochila

Enquanto a forte ventania, que caiu na tarde de ontem (30), sacudia Marabá a pacata vila Espírito Santo também era sacudida, mas não por um fenômeno da natureza e sim por um crime indescritível: um homem ainda não identificado degolou um morador da vida, colocou a cabeça dele dentro de uma mochila e caminhou dois quilômetros com a cabeça até abandona-la na beira da estrada que liga a vila a Marabá.

Trata-se de um roteiro verdadeiro de filme policial, cuja violência é digna dos sangrentos filmes do diretor Quentin Tarantino. A vítima foi identificada como Francisco Silva dos Santos, o “Chico”, de 51 anos.

Chico, muito conhecido na vila, foi morto barbaramente por um “fantasma”/ Foto: Divulgação

O crime teve duas testemunhas, que estavam na chácara onde o corpo foi deixado. Trata-se de Josinar Cardoso, morador da área, e João Batista da Silva, o “Capivara”, que é caseiro da chácara. Os dois falaram por uma boca só que estavam no local junto com “Chico” e mais uma mulher, quando o criminoso chegou armado de um pequeno facão, já disposto a matar. Isso aconteceu um pouco antes das 18h.

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Seu Josinar Cardoso diz que estava sentado comendo, quando o criminoso se aproximou e disse que não queria nada com eles dois, que seu problema era apenas com Chico, que estava sentado e não se mexeu.

Seu Josinar largou até o prato de comida e correu / Foto: Josseli Carvalho

Ao ouvir essas palavras, Josinar só lembra quede ter jogado o prato para o lado e saiu da casa às pressas. Por outro lado, “Capivara” conta que o matador ainda esfregou o facão em seu peito e avisou que fosse embora e ainda disse que o mataria caso ele chamasse a polícia. Depois disso aconteceu toda a tragédia.

“Capivara” diz que ainda foi ameaçado pelo assassino / Foto: Josseli Carvalho

Quando a primeira viatura da Polícia Militar chegou à vila se deparou logo com a mochila onde estava a cabeça da vítima, junto com uma garrafa de cachaça “51”, tendo ao lado um chapéu preto que era usado pelo criminoso. Depois disso, um pouco antes das 20h30 equipes da Polícia Civil e do Instituto Médico Legal (IML) chegaram à vila para iniciar as devidas perícias.

Os familiares do morto correram ao local e se depararam com a terrível cena: o corpo de Chico no meio da sala, sem cabeça, derramando sangue. Quando a reportagem do CORREIO chegou ao local, a revolta dos parentes era com uma mulher, que estava bebendo com a vítima e que fugiu na hora da matança.

Familiares da vítima correram para a chácara onde estava o cadáver de Chico / Foto: Josseli Carvalho

Seu Josinar e “Capivara” desconfiam que o crime tenha sido motivado por um atrito entre vítima e acusado, na noite anterior, no local onde eles chamam de “reza”, possivelmente um terreiro onde acontecem rituais de religiões de matrizes africanas. Por conta dessa rixa, o psicopata decidiu tirar a vida de Chico, que era morador bastante conhecido na vila.

O facão do crime, ainda sujo de sangue, foi deixado no local / Foto: Josseli Carvalho

“Fantasma”

Chama atenção o fato de que a chácara onde o crime aconteceu fica quase nas margens do Rio Tocantins, a 1 km da vila. O homicida caminhou pela estrada, carregando a mochila com a cabeça da vítima, passou por dentro da vila, cumprimentou as pessoas e depois caminhou mais um quilômetro, onde simplesmente evaporou, sumiu, do nada, da mesma forma como apareceu na localidade.

Para se ter uma ideia do quanto o psicopata é misterioso, os moradores da área dizem que ele apareceu por aquelas bandas recentemente e estava morando em um sítio abandonado, pertencente a um político da região. No local, não existe, energia, nem água, nem comida. Ele vivia lá como um bicho.

Um dos moradores da vila – que não quis se identificar – disse que ontem mesmo, pela parte da manhã, chegou a trocar duas ou três palavras com o assassinato e este disse que já teria “puxado” 20 anos de cadeia no Maranhão.

Trata-se de um homem negro, de meia idade e é só isso que se sabe. Para se ter uma ideia do quão misterioso é o criminoso, somente agora, depois da desgraça feita, foi que as pessoas da vila se deram conta de que nem mesmo o apelido do criminoso elas sabem. (Chagas Filho com informações de Josseli Carvalho e Evangelista Rocha)