📅 Publicado em 22/10/2025 08h10✏️ Atualizado em 22/10/2025 09h12
A apresentação do manto do 21º Círio de Nazaré de Parauapebas promete ser um dos momentos mais emocionantes da festividade. Este ano, a confecção do manto de Nossa Senhora carrega uma simbologia ainda mais profunda ao passar das mãos da avó para as mãos da neta, após o falecimento de Maria da Conceição dos Santos, a costureira que, por anos, dedicou fé e talento ao bordar a veste sagrada. Agora, Emmily França, sua neta, assume o legado e dá continuidade à promessa feita por ela, transformando cada ponto em uma homenagem de amor, devoção e gratidão.
Carinhosamente chamada de dona Conceição, ela faleceu em junho deste ano, aos 69 anos de idade. A missão de confeccionar o manto, trabalho que realizava desde 2019, passou às mãos da neta Emmily, que, ao lado do irmão Emanoel França dos Santos, assumiu o compromisso de dar sequência ao voto e à devoção da avó.

Em entrevista exclusiva ao Correio de Carajás, Emmily, estudante de Nutrição, emociona-se ao lembrar que aprendeu com dona Conceição não apenas a bordar, mas o verdadeiro sentido do trabalho, que vai muito além das técnicas: leva fé, devoção e legado.
Tudo começou há três anos, quando, a pedido da avó, ela ajudava com pequenos bordados durante as folgas de fim de semana. Isso ocorreu nos dois primeiros anos, até que, em 2025, veio a grande missão.
O manto foi iniciado ainda no mês de maio por dona Conceição, recomeçado pela neta em junho e finalizado cinco dias antes da apresentação, que acontecerá nesta quinta-feira (23), às 19h30, na Comunidade Bom Jesus de Nazaré.
Emmily não esconde o misto de sentimentos que antecede a apresentação — ansiedade, felicidade e, acima de tudo, a sensação de dever cumprido — principalmente por honrar a memória da avó, como ela havia pedido.
“Eu olho para o manto pronto, bordado, e penso: Fui eu mesma quem fiz”, diz ela, ao confidenciar o desejo de que a comunidade católica aprove o trabalho realizado a quatro mãos.
Cores, símbolos e fé
Emanoel é o responsável pelo desenho do manto — trabalho que já realizava em conjunto com a avó. O design ficou pronto ainda em maio, após o padre Hudson Rodrigues revelar o tema do Círio deste ano.
O 21° Círio de Nazaré de Parauapebas tem como tema: “Maria, sinal de esperança — Minha alma engrandece ao Senhor, e meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lc 1,46-47).
Um dos pedidos do padre era que houvesse desenhos de ramos de oliveira no manto. Depois da aprovação do projeto, iniciaram-se os bordados. E, claro, os leitores do Correio de Carajás têm direito a um spoiler: os ramos de oliveira terão bordados em três tons de dourado, com contornos em marrom, todos feitos com miçangas de vidro. “Será um manto tradicional”, confidencia Emanoel.
“Usamos todo o material que a nossa avó já havia comprado. Seguimos o que ela queria — cada pedra, cada brilho — tudo o que foi idealizado por ela”, comemora.
Legado de uma promessa
A história por trás do manto começou há seis anos, quando dona Conceição transformou um momento de dor em uma promessa de amor.
Em 2019, em entrevista ao Correio de Carajás, concedida em sua própria casa, ela revelou os bastidores do primeiro manto que confeccionou. Contou que, após ser desenganada por problemas renais e enfrentar uma cirurgia delicada, fez um voto a Nossa Senhora de Nazaré:
“Eu pedi à Nossa Senhora que, se eu voltasse para minha casa andando, enquanto eu tivesse vida e minha vista conseguisse, eu daria todos os anos o manto a ela. Esse é o meu trabalho: doar o manto, pagando a minha promessa.”

Dona Conceição cumpriu o voto até o fim da vida. Com as mãos firmes e o coração cheio de fé, confeccionou todos os mantos que vestiram a imagem da Virgem nos últimos anos.
“Quando você acredita no milagre, você recebe”, dizia ela, com o olhar brilhando de emoção.
Hoje, as palavras de dona Conceição ecoam no gesto da neta. O manto de 2025 não é apenas uma peça de fé, mas um testemunho de amor que passou por gerações, sendo guiado pela mesma devoção.