O curta-metragem “A guerreira Gavião”, produzido na região sudeste do Pará, mais precisamente no município de Bom Jesus do Tocantins, irá participar de sua quinta amostra cinematográfica a nível nacional. Nos próximos dias 20, 21 e 22 de outubro acontece o Motriz – Festival de Cinema de Planaltina (DF). Pelas mãos do cineasta Robson Messias Lucas, a obra alçou voo e chegou às telas de todo o Brasil através do projeto “Revelando Brasis”.
O “A guerreira Gavião” foi um dos 18 filmes selecionados, entre os mais de 700 inscritos, para participar do festival, sendo o único da região Norte. Sua exibição irá acontecer no dia 22, às 19h, junto a outras cinco obras que participam da amostra competitiva. Pensando alto, Robson já inscreveu o curta para participar de mais um certame, desta vem em Tiradentes, Minas Gerais.
Gravado no final de 2017 na aldeia Aldeia Parkatejê, localizada na Terra Indígena Mãe Maria, o curta conta a história de uma indígena que teve seu bebê roubado às margens da atual BR-222 e já participou de quatro festivais, sendo premiado em todos.
Leia mais:Duas das apresentações aconteceram no Festival de Santarém, em um deles foi alcançado o primeiro lugar, dentro do tema “regional” e em outro, a película obteve a segunda colocação. Um outro prêmio foi no V Cine Tamoio, em 2020, festival de cinema de São Gonçalo, Rio de Janeiro, uma menção honrosa pelo conjunto da obra. E no Espírito Santo uma outra menção honrosa. Agora, a próxima parada é em Brasília, em Planaltina.
O CRIADOR E A CRIAÇÃO
Nascido na Bahia, há 45 anos Robson Messias Lucas é morador da região sul e sudeste do Pará. “Meu pai veio para cá explorar as terras que o governo dava naquele tempo e eu vim com ele, em um pau de arara. Chegamos aqui, muita coisa aconteceu, eu entrei no meio social e me identifiquei mais com a sociedade que mais precisava da gente”, compartilha. Para a Reportagem do CORREIO DE CARAJÁS ele detalha que há 30 anos é indigenista e pesquisador.
A ideia para a criação do curta partiu de um desafio lançado por um conhecido: “Tu que gosta de contar muita história, tem um link aqui, escreve sua história e talvez ela vire um filme. Só que o prazo vai vencer hoje. Vai lá escrever e me traga aqui”.
Ele narra que aceitou o desafio e começou a escrever o roteiro, que chegou a ter três páginas, mas por um infortúnio acabou não sendo salvo e Robson perdeu toda a história, faltando poucos minutos para acabar o prazo. Quinze minutos antes do tempo final, ele escreveu o roteiro do que futuramente se tornou o curta-metragem “A guerreira Gavião”.
Após 60 dias, recebeu uma ligação do Rio de Janeiro, do Canal Futura (Fundação Roberto Marinho) o convidando para ir até lá contar a história do filme. Seu roteiro foi um dos 15 selecionados, entre mais de 3 mil, uma oportunidade única para ele. O curta iria participar da sexta edição do Projeto Revelando Brasis, realizado pelo Instituto Marlin Azul, com patrocínio da Petrobras e parceria da Secretaria do Audiovisual do Ministério da Cultura.
Entre os selecionados estavam pessoas do eixo Rio-São Paulo, que já faziam cinema. “Como que sai um matuto daqui para produzir um filme?”, questiona bem-humorado. Por lá foram cerca de 15 dias em um intensivão sobre produção cinematográfica, onde Robson aprendeu sobre roteiro, decupagem, som, fotografia, storyboard e demais pormenores que envolvem a produção de um filme.
De volta ao Pará, na hora de colocar a mão da massa e dar o play no projeto, ele enfrentou um de seus maiores desafios: trabalhar com atores sem experiência, indígenas em sua grande maioria: “O desafio era pegar pessoas que nunca ficaram na frente de uma câmera e transformar esse pessoal em atores. Eu passei três meses com eles na aldeia”. No elenco do filme, por alto, participaram quase 150 pessoas, entre indígenas e moradores de Bom Jesus do Tocantins.
Messias relembra que os indígenas estavam à flor da pele para que o filme acontecesse e para deixar os novos atores confortáveis diante das câmeras o diretor usou uma estratégia: exibir filmes que despertassem a identificação com os personagens. “Se você jogar um filme de glamour, geralmente as pessoas não irão se identificar, por achar que aquela cena será muito difícil para elas fazerem. Mas um filme bem popular, que as pessoas se encaixam naquilo, elas se sentem à vontade”, explica.
Durante sua imersão na aldeia, o cineasta conta que ficou muito próximo dos indígenas e que eles, algumas vezes, deram suas contribuições para o roteiro, inclusive para a emocionante cena final: “Nós fizemos várias cenas no final e não tivemos ensaio. O final do filme foi feito em uma única gravação, de verdade, real, cantado e participado. Partiu em conjunto, elas falaram: a gente tem um abraço… o choro no final foi real, reacendeu lembranças de um povo que teve muito de sua cultura e de si roubados”. (Luciana Araújo)