Aos cirurgiões e todos aqueles que almejam se destacar e exercer a arte cirúrgica é essencial que saibam executar a propedêutica pré-operatória, avaliar, indicar e contraindicar exames complementares para o paciente em questão.
Conforme estudo conduzido entre 2008 e 2017 pelo Insper, houve aumento de 130% de demandas judiciais relacionadas à saúde. Dentro desse contexto de aumento importante dos casos de judicialização das questões de saúde que, associada ao aumento da disponibilidade de métodos complementares.
Acabam por conduzir muitos profissionais a solicitarem exames desnecessários a despeito da falta de indicação clínica ou sintomatologia que os justifiquem, se faz necessário reforçar as premissas que guiam as condutas no pré-operatório. É necessário lembrar que o período atual de desenvolvimento científico não é compatível com práticas que fujam da medicina baseada em evidências.
Leia mais:Portanto, os cuidados pré-operatórios e classificação de risco cirúrgico devem seguir primordialmente anamnese e exame físico detalhados, com investigação complementar individualizada associada a esclarecimento pleno do paciente quanto ao procedimento cirúrgico a ser realizado, seus riscos, benefícios e possíveis complicações peri e pós-operatórias.
A abordagem inicial ao paciente que vai se submeter a procedimento cirúrgico passa mandatoriamente por anamnese e exame físico detalhados, com especial enfoque na doença que necessita de terapêutica cirúrgica, suas manifestações, complicações e sinais de gravidade.
A seguir, alguns tópicos que devem ser abordados cuidadosamente na anamnese de uma avaliação pré-cirúrgica. Tais como: doenças prévias e medicações em uso; alergias; performance física (durante exercício e afazeres diários); uso de drogas lícitas e ilícitas (com mensuração e data de cessação se houver); histórico cirúrgico e suas possíveis complicações (incluindo dificuldades de controle de sangramento, necessidade de transfusão, dificuldade de intubação e reações adversas às drogas).
Durante o exame físico devem ser buscados fatores que podem complicar a abordagem cirúrgico-anestésica, estigmas de doenças graves descompensadas e desnutrição. A seguir citaremos alguns tópicos importantes a serem procurados: cicatrizes prévias; possibilidade de acesso venoso de fácil obtenção.
Também, estigmas de doenças das vias aéreas e sistema pulmonar, tais como dispneia, estridores, taquipneia, tosse, aumento do diâmetro anteroposterior do tórax, desvio da traqueia, assimetria de expansibilidade e anormalidade na ausculta.
Estigmas de doenças do sistema cardiovascular, tais como turgência jugular, sopros cardíacos e/ou carotídeos, edema de membros inferiores, insuficiência arterial e/ou venosa periférica e alterações de ritmo cardíaco.
Se encontradas, algumas dessas condições podem requerer compensação clínica com especialista antes do procedimento cirúrgico para que se obtenham melhores resultados, diminuição dos riscos de complicação e até diagnóstico de doenças até então desconhecidas.
Abaixo exemplificaremos algumas perguntas práticas que podem ser utilizadas para mensuração da capacidade funcional durante anamnese e o grau de evidência científica das diferentes formas de coleta de história clínica.
Consegue vestir-se, alimentar-se e banhar-se? Consegue caminhar uma ou duas quadras no plano? Consegue caminhar em aclive ou subir um lance de escadas? Consegue correr curtas distancias? Consegue manter atividade sexual? Consegue participar de atividades esportivas, como tênis, natação ou futebol?
Consegue fazer trabalhos domésticos pesados, como lavar o piso ou deslocar moveis pesados? Consegue participar de atividades recreacionais moderadas, como dançar ou jogar boliche? O tema prossegue na próxima edição de terça-feira.
* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.
Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.