Correio de Carajás

Cuidados com drenos e sondas II

O abdome agudo é um quadro clínico caracterizado por dor e sensibilidade abdominais, de início súbito ou de evolução progressiva, que geralmente necessita de conduta cirúrgica de emergência para resolução do quadro. Para essas condições agudas, é importante fazer um diagnóstico rápido, a fim de reduzir a morbidade e a mortalidade.

Em outras palavras o abdome agudo caracteriza-se como uma síndrome dolorosa que leva o doente a procurar atendimento médico e que requer tratamento imediato, clínico ou cirúrgico. Sua importância está na elevada prevalência e nas complicações graves que podem advir de um diagnóstico tardio.

Qualquer órgão intra ou retroperitonial pode originar um quadro de abdome agudo. A estrutura acometida pode ser previamente normal ou cronicamente doente, sofrendo, nesse caso, um processo de agudização.

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Classicamente, os abdomes agudos são divididos em cinco síndromes clínicas de acordo com a causa: hemorrágico, inflamatório, obstrutivo, perfurativo e vascular. O trauma não constitui uma causa de abdome agudo.

A caracterização da dor constitui a chave para o diagnóstico. Na maioria das vezes, o processo se inicia com uma dor mal caracterizada referida em epi/mesogastro abdominal, definida como visceral. A medida que o processo evolui, a inflamação do órgão se estende ao peritônio parietal contíguo, gerando uma dor melhor localizada com sinais de defesa abdominal.

Essa apresentação é típica dos abdomes agudos inflamatórios, causa mais comum. A peritonite também pode resultar da ruptura de uma víscera, sendo as substâncias que causam maior irritação peritoneal: suco gástrico, bile, conteúdo fecal, e, em menor intensidade, sangue e urina.

A anamnese e o exame físico criteriosos são capazes de direcionar o diagnóstico em grande parte dos casos. Dependendo da causa, a apresentação clínica terá algumas particularidades.

No abdome agudo inflamatório, a dor geralmente é insidiosa, com um intervalo relativamente longo entre o início dos sintomas e a procura por atendimento médico, ao contrário do perfurativo, que leva, na maioria das vezes, a uma dor súbita e intensa com difusão precoce no abdome.

No abdome agudo vascular, a dor também é súbita e persistente, porém com uma dissociação em relação ao exame físico, que não apresenta sinais de irritação peritoneal. Já no hemorrágico, além da irritação peritoneal, há uma clínica relacionada à perda volêmica, com taquicardia, pulsos finos, hipotensão, etc.

Apesar de todas as causas poderem cursar com náusea e vômitos, no abdome agudo obstrutivo, esse quadro é mais proeminente e associado a: distensão, parada da eliminação de fezes e flatos e distúrbios hidroeletrolíticos.

Na coleta da história, deve-se questionar acerca de quadros semelhantes anteriores, as características da dor (localização, irradiação, fatores de piora e melhora), cirurgias prévias, uso de medicações (anticoagulantes, anti-inflamatórios não hormonais, anticoncepcionais), doenças associadas (diabetes, hipertensão, coronariopatias, arritmias, aterosclerose, colagenoses, etc.), atraso menstrual, alterações do hábito intestinal.

No exame físico, após coleta dos sinais vitais, pesquisar a presença de palidez, icterícia, cicatrizes e hérnias da parede abdominal, massas palpáveis, equimoses (sinal de Cullen e Grey-Turner na pancreatite aguda).

Alguns pacientes podem ter um quadro pouco característico, dificultando e retardando o diagnóstico. São eles os idosos, obesos, desnutridos, imunossuprimidos, em uso de corticoides, antibióticos ou quimioterápicos. A maioria das causas do abdome agudo é grave e o diagnóstico precoce é obrigatório para reduzir a mortalidade e a morbidade.

É vital não diagnosticar incorretamente uma gravidez ectópica rota, que causa dor abdominal inferior ou suprapúbica de início súbito, ou as causas vasculares com risco de vida, como aneurisma roto ou dissecante da aorta, oclusão da artéria mesentérica e infarto do miocárdio (que podem se apresentar como dor epigástrica). O tema prossegue na próxima terça-feira.

 

* O autor é médico especialista em cirurgia geral e saúde digestiva.     

Observação: As opiniões contidas nesta coluna não refletem, necessariamente, a opinião do CORREIO DE CARAJÁS.