Correio de Carajás

Crônica para o autor das crônicas

Quando adolescente eu sempre repetia uma frase: “eu não namoro com amigo. Amigo é amigo, namorado é namorado”. Eita, mas como ela se engana… Não é que meu primeiro (e único) namorado foi um amigo de longas datas?

Eu e Ulisses Pompeu nos conhecemos na mais tenra infância, morando na Velha Marabá, vizinhos de rua, colegas de escola e de igreja. Éramos amigos desde que minha memória me permite vislumbrar, eu com 4 anos de idade e ele com 7.

Ingressamos na mesma escola numa época em que não existia educação infantil e as crianças entravam na escola aos 7 anos de idade pra cursar a 1ª série, hoje o 2º ano do ensino fundamental. Somente aí ocorria a alfabetização. Mas não irei discorrer nas explicações do porquê eu estava entrando na escola para cursar a 1º série com 4 anos de idade, fato é que precisávamos fazer um teste, quase um ENEM (rsrsrs) pra saber se seríamos admitidos na turma da 1ª série fraca ou na 1ª série forte.

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E lá estávamos nós sendo submetidos a um teste de admissão que nos levou para turmas diferentes, ele na 1ª série fraca e eu na 1ª série forte (rsrsrs, ele conta essa história com frequência). Hoje posso afirmar que não era um teste justo, pois na verdade não aferia o QI (quociente de inteligência) ou desempenho intelectual, era mais pra identificar as crianças que já vinham com algum conhecimento básico ensinado pela família como, por exemplo, as letras do alfabeto.

Explicar esse nosso desempenho diferente não é tarefa difícil. Eu, muito tímida, não saía de casa, não brincava na rua, ficava em casa com minha irmã Ana Claudia e o que tínhamos de diversão era receber aulas da nossa tia Edília. Isso me colocou em vantagem, pois quando fomos pra escola já sabia ler todas as letras do alfabeto, algumas palavras e números. Fazendo uma contrafação a essa rotina, Ulisses era o típico garoto da Velha Marabá. Brincava na rua, andava de bicicleta, empinava pipas, jogava futebol, tocava campainhas nas casas dos mais abastados (apenas esses tinham campainha em casa) e saía correndo, não tinha muito apego à ideia de ficar em casa estudando. Isso ficaria mesmo pra escola.

Mas independentemente da turma escolar, estávamos juntos convivendo e assim crescemos.

Mas na adolescência ele foi embora estudar no Nordeste e quando voltou era um rapaz interessante e “boçal” (ele fala que não sabe a quem o Breno puxou rsrsrs). Tinha mãos muito, muito macias, inteligente, gostava de falar em público e falava muito bem.

E agora? Em um tempo em que não havia redes sociais, aquele menino sapeca que era meu amigo e eu não via há anos não existia mais. Agora era um rapaz recém chegado na cidade e eu não resisti ao único critério que eu repetia e repetia nas rodas de conversas entre amigas: “Eu não tenho preferencias físicas, mas pra eu namorar um rapaz ele precisa ser inteligente”. E assim, me rendi aos encantos daquele rapaz inteligente de mãos macias (até hoje).

Papo vai, papo vem, três anos de namoro se passaram e depois o casório. Tempo vai, tempo vem, 30 anos de casados se completam neste mês de setembro de 2023.

Pensando cá com meus botões, como presentear o autor das melhores crônicas? (não estou exagerando). Achei justo escrever uma crônica (uau! que desafio) para dizer a todos que seu apreço pelos esportes e atividades físicas não ofuscou em nada o seu brilho intelectual.

Sabe aquele rapaz magrinho inteligente? Continua um grisalho inteligente, amante das atividades físicas e esportes, pai de Breno e Brenda Pompeu, que são excelentes profissionais em suas áreas de atuação, avô da pequena Maria que é apaixonada pelo “vô”, jornalista premiado, cuja família é seu mais fiel fã clube.

Foi o que construímos em 30 anos (bodas de pérola), a nossa família. Independente de 1ª forte ou 1ª fraca, o amigo, namorado e esposo segue com mãos macias, inteligente e amado.

Ana Raquel Santos Miranda

A autora é enfermeira, esposa há 30 anos do jornalista Ulisses Pompeu, que escreve crônicas na edição de quinta-feira.

Ps.: O titular da coluna, Ulisses Pompeu, ficou sabendo que a esposa dele escreveu esta crônica junto com você, leitor, porque esse texto foi uma forma singela que sua esposa encontrou para homenageá-lo.