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CRÔNICA OURIÇO CHEIO – Mania de guardar trecos e a doce memória afetiva

Do varjão do Granito ou do refugo da Praça Duque de Caxias, preservar objetos sem valor é uma paixão de família

por Redação
25/06/2020
em Cidades
CRÔNICA OURIÇO CHEIO: Faltaram bromélias no túmulo da minha tia-avó
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Não convivi muitos anos com meu avô Inácio dos Reis. Mas o suficiente para uma viagem de uma semana – juntos – pelo Rio Tocantins para uma pesca inesquecível na Praia do Espírito Santo.

Nós herdamos costumes de quem admiramos. Revejo meu avô, várias vezes, falando por mim em algumas ocasiões ou gestos. Até no jeito calmo dele, quando menos espero, estou meneando a cabeça para um lado só. Um senhor de olhos claros, baixo, divertido para os netos. E que cabia numa simples roupa de pescador para ir à Rua. Ir à Rua, nos anos 70 e 80, era o mesmo que avisar que se ia ao Centro da cidade, ao comércio, resolver negócios.

Dele peguei alguns rituais que não sei explicar a serventia. Era um guardador de coisas desimportantes e eu achava, na época, que aquilo era mania de gente antiga. Que gostava, sem motivo, de ir encafiotando o inútil.

Tampinhas de refrigerantes, pedaços de barbante, canetas Bic azul escrita fina e vermelha grossa. Chaves que vinham na carne de lata e vários abridores de garrafa. Uma dezena de facões que nunca cortaram nada. Madeira no pé do muro, pedaços de arame, cadeados sem chave. Papel de presente recebido no Natal passado, fita isolante, caixinhas…

Havia uma gaveta cheia de pregos que nunca pregaram nada (só enferrujaram). Vários martelos e um só que martelava. Uma chave de fenda pequenina, parafusos aposentados, soquetes de lâmpadas, fios, tomadas, duas ou três lamparinas com cheiro de querosene, varas de pescar antigas, anzóis enferrujados, gaiolas vazias…

Vovô guardava várias sementes e estrume no pé do muro que corria com as chuvas. No caibro, cascas de laranjas jogadas depois do almoço. Brincadeira que se ganhava quando acertassem pendurá-las. Também havia, em cumbucas separadas, lascas para fazer chá de quase tudo. Cidreira, marcela, cravo, boldo, capim santo, torem, pega-pinto, cabacinha, colônia…

O que mais me encasquetava: os sapatos velhos que não iam mais a lugar nenhum. Vários. Mas se diga, todos bem tratados e asseados. Aliás, anos depois para ir à igreja, me vi engraxando sapato igualzinho como ele fazia. E nunca me disse como fazer. Toda vida que ia polir os bico-finos dele, eu sentava ao lado.

Escovinha de cerdas encardidas de preto, latinha de graxa que se abria apertando, flanela laranja e uma música clássica. Primeiro escovava pra tirar a poeira, depois com dois dedos passava a cera e escovadas até ficar tinindo de brilho. Olhava-se nos sapatos. O pano era para limpar os dedos.

Noutro dia, Tânia, a colaboradora lá de casa, perguntou-me por que a gaveta do móvel da cozinha estava tão cheia de trecos. Pedacinhos de coisas, laços de fita, arame que enrola o saco de pão, palitos novos, pilhas já sem carga, talheres descartáveis, bico para garrafa de azeite…

Foi mais além, descobriu alguns bilhetes de entrada de cinema. Daquelas que o papel não desbota a memória do dia e o lugar onde a película foi assistida. Pra que eu tinha tudo aquilo guardado, sem serventia, quis saber ela.

Fiquei sem respostas para Tânia. Sempre acho que uma coisa desimportante tem relevância e, numa hora dessas, vai se revelar imprescindível. Meu avô projetava assim. Ou nem isso, alguns berimbelos não carecem da utilidade funcional de prestar para um serviço.

Olhando as entradas de cinema, me peguei lembrando quando ia com minha caçula, Brenda, para assistir a filmes no cinema. Nós dois, sem mãe, sem irmão, castigávamos na pipoca. Precisamos de tempo de qualidade com os filhos, netos, porque são esses momentos que formarão a memória afetiva que eles terão da gente, no futuro…

Ulisses Pompeu

* O autor é jornalista há 24 anos e escreve crônica às quintas-feiras

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