As regras têm exceção. Todos já ouvimos a frase que parece escrita por um cientista ou filósofo medieval. E vira e mexe, as mulheres querem se casar e ter filhos. Falo assim, porque minhas amigas ditas contemporâneas não sustentaram o finca pé. Acabaram se casando e derretendo-se por um dia inesquecível para marcar as fotografias.
Inclusive as que não professavam fé alguma e esculhambavam os padres e pastores. Correram atrás dos altares mais bonitos, dos vestidos mais sublimes. Provaram docinhos, fizeram e refizeram listas para ver quem não poderia ficar de fora.
A lista de convidados, por sinal, é um tormento. Poderia não ser. Convidamos, para ter comigo, quem gosto de bem querer. Mesmo na família, não se é obrigado a mandar convite às tias fora dos afetos. Mas quem não recebe fica magoada para sempre.
Leia mais:As impertinentes, indiscretas com o alheio. Dona Lourdes é quem ficava vexada dos que iam, depois, envenenar. De quem se intrigaria de morte porque não teve lugar no banquete dos noivos. Ela não tava nem aí. Casou todos os seis filhos (quatro mulheres) e dois homens e mandou convites para um grupo bem restrito.
Ela dizia que sempre alimentava esse costume da falsidade. Passando aos filhos a política da boa vizinhança, mesmo que sejam azedas.
Voltando às amigas que não dispensaram se casar, não vejo defeito. Casar-se ainda está no instinto, na quimera. E, ainda, o inverso da solidão.
Dona Marieta, de 72 anos, passou mais de vinte anos viúva. Tinha os netos e a parentada da Folha 28, mas sofreu com a ausência do marido, que faleceu aos 50 anos.
Repetia que aparecesse um “véi” mais durinho, se casaria outra vez. Na igreja, alianças, o sim, lua de mel e tudo. Alguém com quem trocasse impressões, que tivesse paciência com a mouquidão dela. Que ela soubesse estar ali, quando acordasse no meio da noite.
Uma amiga de faculdade, mulher dos conhecimentos, nascida em família pudica, tinha a fantasia de se guardar virgem para o casamento. E não era recatada coisa alguma, mas se manteve honesta ao propósito.
Permitia olhar, pegar, cheirar, beijar, mas na hora derradeira oferecia outra possibilidade ao namorado. Depois, em confidências, revelou-me que o moço com quem se casou era mais fissurado do que ela na tal fantasia.
Ele, mesmo, pediu a ela que a história não cessasse. Resistisse, segurasse o claustro. E assim, a moça continuou embargada. Fazia (faz) tudo, sem recatos, mas no pico do alvoroço cambiava de posição.
É fato, é verdade. Não me admiro de nenhum desvario, das veleidades íntimas. O casal vive ainda feliz, depois de 25 anos de casório. Têm três filhos adotados.
Pois bem, casar não é ruim. E faço um ajuste, quase todo homem também deseja o mesmo. Não fosse assim, meus amigos gays não fariam tanta questão pela união estável.
Um deles, aos 18 anos, acaba de casar-se com o namorado no meio da pandemia. Confessou que o pai ainda não descobriu a união e que só vão morar juntos quanto o tempo permitir. Usa aliança mais grossa que a minha e tem o nome do marido (um ano mais velho) registrado como “vidinha” no Whatsapp.
E tem muito mais casalzinho por aí sonhando em amarrar-se. E não me venham dizer que não sentem vontade de dividir o espaço. Minha amiga Luciana que me conte que não tinha vontade de amarrar-se, mas que já vai para o terceiro relacionamento.
Mas na relação comum de dois (com gênero igual ou diferente), o esquisito é a intimidade… A calcinha puída (que nos começos não vestiam). A cueca “véia” frouxa. O pum na frente do outro. A vontade de trair. A transa de manhã e o mau hálito. O fazer cocô enquanto o outro escova os dentes… A intimidade…
(Ulisses Pompeu)
* O autor é jornalista há 24 anos e escreve crônica na edição de quinta-feira